EDITORIAL

Recuperar o protagonismo

O Brasil foi berço da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ao sediar, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento — Rio 92 ou Cúpula da Terra. O país da Amazônia, a maior floresta tropical, e do Cerrado, a savana mais rica em biodiversidade do planeta, […]

O Brasil foi berço da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ao sediar, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento — Rio 92 ou Cúpula da Terra. O país da Amazônia, a maior floresta tropical, e do Cerrado, a savana mais rica em biodiversidade do planeta, era o cenário inspirador à tomada de decisões voltadas a salvaguardar o patrimônio ambiental, a orientar a formulação de políticas públicas preventivas e indutoras de mudanças de hábito e à revisão dos modelos de desenvolvimento econômico.
Em 2012, o Brasil chegou à Rio+20 com desempenho aquém do esperado. Em duas décadas, o país se desviou das propostas que subscreveu na Cúpula da Terra. A Mata Atlântica tinha apenas 12% de vegetação preservada; o Cerrado, segundo maior bioma, fora devastado em 49%; o Pampa perdeu 54% de área primitiva; a Caatinga não contava com 45,6% do espaço inicial; e a Amazônia havia encolhido cerca de 15%. A escalada de devastação colidia com os compromissos da conferência, que havia advertido o mundo para os riscos de aquecimento global, estresse hídrico, intensificação mais severa dos eventos climáticos, expansão de doenças e da pobreza entre outros impactos adversos à vida.
Apesar das perdas e do pouco avanço das políticas ambientais, em parte represadas pela revisão do Código Florestal e menor atenção ao tema, o Brasil chegará à Conferência do Clima de Paris (COP 21), de 30 de novembro a 11 de dezembro, como ator importante pelo patrimônio natural que ainda detém apesar das ameaças, se comparado a outras nações. O momento permite ao país recuperar o protagonismo alcançado no Rio+20. A possibilidade é reforçada pela exclusão brasileira do Mapa Mundial da Fome, em 2014, após reduzir em 82% o número de famintos, um dos principais Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) — conquista com estreita relação com o meio ambiente: menos miséria leva a menos agressão à natureza.
O governo brasileiro antecipou a meta de eliminar o desmatamento ilegal na amazônia até 2030. Pretende ainda reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025, e chegar a 43% em 2030. Os prazos são longos demais, e excluir biomas, como o Cerrado e a Caatinga, é diminuir o Brasil, segregar populações e negar a interdependência entre eles para o que o país seja ambientalmente equilibrado. Dos planos, consta a intenção de replantar 12 milhões de hectares de floresta, recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradas e integrar 5 milhões de hectares de áreas agrícolas.
Mas é possível exigir mais do Brasil pelas enormes oportunidades que a natureza e as tecnologias oferecem a fim de que ocorra desenvolvimento socioeconômico sem comprometimento do patrimônio ambiental. Diante das mudanças climáticas, floresta em pé é mais lucrativa do que o produto do desmatamento. É fundamental rever a matriz energética com a substituição das termoelétricas por outras formas de geração de energia, a frota de veículos, os fornos industriais alimentados por carvão vegetal, que, entre outras fontes, são grandes emissores de carbono na atmosfera. A capacidade brasileira de contribuir para a vida no planeta não é pequena, depende apenas de políticas que contemplem as escolhas mais acertadas e indicadas pela ciência.
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