EDITORIAL

Punir agora, vigiar sempre

“Quem vai pagar por isso?” A pergunta, feita em quase todas as conversas, reflete com clareza a perplexidade que, com razão, assalta a sociedade brasileira ante mais uma tragédia provocada pela imprevidência e a irresponsabilidade com que, neste país, se exploram as dádivas da natureza. O rompimento das barragens de rejeitos do Fundão e Santarém, […]

“Quem vai pagar por isso?” A pergunta, feita em quase todas as conversas, reflete com clareza a perplexidade que, com razão, assalta a sociedade brasileira ante mais uma tragédia provocada pela imprevidência e a irresponsabilidade com que, neste país, se exploram as dádivas da natureza.
O rompimento das barragens de rejeitos do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco, que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), é desastre do qual, quase uma semana depois, não se sabe a real dimensão. Não apenas porque o total soterramento do povoado impede o trabalho de resgate das vítimas, como pela onda de lama e água turva que ainda percorre o Rio Doce, manancial que serve o Leste de Minas e o Norte do Espírito Santo.
Até chegar ao mar, esse rio de lama terá escrito a maior tragédia de uma história de mais de 300 anos de dor e mortes — preço alto, cobrado principalmente dos mais humildes, pela abertura nem sempre prudente das entranhas da terra em busca de riqueza. Antes, o ouro e os diamantes fizeram o fausto do colonizador português. Hoje, milhões de toneladas de minério e pelotas de ferro vão para os fornos da China, da Europa e dos Estados Unidos, garantindo pontos a favor da balança comercial brasileira.
No Brasil Colônia, soterraram e mataram centenas de pobres escravos. No Brasil moderno, não causam mal menor: destroem cursos d’água, esburacam rodovias, agridem o meio ambiente e, como se vê, soterram e matam inocentes que lhes são vizinhos. A destruição de vidas, casas, animais domésticos e toda uma vida em comunidade sob a lama espessa da imprudência já seriam motivos para justificar indignação. Mas falta medir o tamanho do estrago ambiental.
Por percorrer rio já castigado pela seca, a lama poderá causar dano irreparável a plantas e peixes que fazem parte do ambiente ribeirinho. Nos dois estados, dezenas de cidades, que cresceram às margens do Rio Doce, correm a fechar torneiras, temendo a insalubridade da água turva. Hoje, as famílias da região não têm a menor ideia de quando a vida voltará ao normal.
A esta altura do conhecimento tecnológico e do amadurecimento da sociedade brasileira, é inaceitável que um empreendimento que movimenta bilhões de reais não tenha seguido padrões de segurança e mantido permanentes cuidados quanto à estabilidade de represas, verdadeiros perigos armazenados. Nada justifica a manutenção das tragédias e sacrifícios dos séculos passados, muito menos o conformismo ante os riscos da mineração ou de qualquer outra atividade capaz de produzir desastre.
Depois da perplexidade, será natural, a partir da tragédia de Mariana, que todo brasileiro passe a temer pela segurança de sua família. Afinal, o perigo espreita todos os vizinhos de insuspeitas fragilidades de estruturas construídas, mantidas e até ampliadas com semelhantes descuidos.
É, pois, impositiva a apuração das verdadeiras causas do rompimento das barragens, bem como a severa punição de seus responsáveis, sem prejuízo, é claro, de justa e urgente indenização dos atingidos. Mais: que se implante sistema permanente e eficaz de vigilância quanto à observância de elevado padrão de segurança de toda obra ou edificação que possa colocar em risco a propriedade e a vida das pessoas.
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