ARTIGO

Guerra em Paris

Desde o atentado às Torres Gêmeas, nenhuma nação ocidental enfrentava tão grave embate contra o terrorismo quanto a França. Nove meses após a execução dos cartunistas da Charlie Hebdo, Paris sofre novo golpe do extremismo, desta vez de forma muito mais ampla e perigosa. Os ataques simultâneos desferidos na sexta-feira, com mais de 150 mortos, […]

Desde o atentado às Torres Gêmeas, nenhuma nação ocidental enfrentava tão grave embate contra o terrorismo quanto a França. Nove meses após a execução dos cartunistas da Charlie Hebdo, Paris sofre novo golpe do extremismo, desta vez de forma muito mais ampla e perigosa.
Os ataques simultâneos desferidos na sexta-feira, com mais de 150 mortos, evidenciam que o inimigo formou uma base em solo francês. Essa situação não ocorria desde a Segunda Guerra Mundial, quando o exército nazista ocupou a capital francesa. Paris está em conflito aberto contra os terroristas, após o “ato de guerra” cometido no berço da moderna civilização ocidental, local onde foram cunhados os princípios universais de liberdade, igualdade e fraternidade.
O destemor do Estado Islâmico em transformar um dos centros da Europa em campo de batalha atesta o fracasso das medidas de contenção adotadas por François Hollande. Os atentados não apenas continuam, como se mostram mais sofisticados e com potencial destrutivo maior. E diferem muito do ataque perpetrado no início do ano. Os tiros contra o jornal satírico denotavam uma ação específica, praticada por lobos solitários, contra a liberdade de expressão e para vingar supostas ofensas ao profeta Maomé. Na sexta-feira, milhões de franceses e estrangeiros mergulharam na sombra do terrorismo clássico, cuja estratégia primordial é semear o pânico e a sensação de que a morte pode surpreender a qualquer hora, em qualquer lugar. A exemplo do 11 de setembro, os suicidas do Estado Islâmico miraram grandes aglomerações e jogaram a barbárie contra símbolos importantes da cultura francesa, como o esporte, os espetáculos e a gastronomia.
Em comum, os atentados de Paris indicam que o veneno do extremismo está na corrente sanguínea da sociedade francesa. Muitos dos jihadistas recrutados pelo Estado Islâmico têm cidadania europeia, podem sair e regressar ao país de origem com mais facilidade do que radicais do Oriente Médio. O combate antiterrorista na França inevitavelmente exigirá medidas mais duras contra cidadãos nacionais. Há um sério risco de supressão de garantias individuais, intenso controle de atividades suspeitas, em particular nas redes sociais, e maior intolerância contra o Islã, que reiteradamente repudia a causa assassina defendida pela jihad. Não se trata mais de choque de civilizações, há um inimigo a ser abatido. A França e países aliados vão responder com o peso das armas.
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