INTERNACIONAL

Turquia enfrenta jihadistas do próprio território

A Turquia, principal porta de entrada dos jihadistas estrangeiros para a Síria, se tornou também terra de recrutamento de extremistas, confirmou a investigação sobre o atentado suicida que deixou dezenas de mortos em Ancara no sábado passado. Em 5 de junho, em Diyarbakir, uma explosão deixou cinco mortos em uma reunião eleitoral do Partido Democrático […]

A Turquia, principal porta de entrada dos jihadistas estrangeiros para a Síria, se tornou também terra de recrutamento de extremistas, confirmou a investigação sobre o atentado suicida que deixou dezenas de mortos em Ancara no sábado passado. Em 5 de junho, em Diyarbakir, uma explosão deixou cinco mortos em uma reunião eleitoral do Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo).
Em 29 de julho, em Suruç, 34 pessoas morreram em um atentado suicida contra defensores da causa curda. Em 10 de outubro passado, em Ancara, um duplo atentado suicida matou 102 pessoas e deixou centenas de feridos entre manifestantes favoráveis à causa curda. Nenhum destes ataques foi reivindicado mas, segundo autoridades turcas, todos têm a marca do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Nestes três casos, as informações que vazaram na imprensa destacaram um grupo de jovens turcos radicalizados, próximos ao EI e originários da mesma cidade do sudeste do país, Adiyaman, onde vivem 200.000 pessoas. “É um mesmo movimento turco-jihadista”, explica uma fonte diplomática ocidental, “um pequeno grupo de turcos radicalizados, que combateram nas fileiras do EI na Síria e que organizaram operações por conta própria”.
Segundo o jornal Hürriyet, os dois supostos autores do ataque de Ancara foram identificados. Trata-se de Ömer Deniz Dündar e de Yunus Emre Alagöz, irmão de Abdurrahman Alagöz, apresentado como o suicida de Suruç. Dündar e seu irmão gêmeo são velhos conhecidos da polícia e de vários moradores de Adiyaman.
“São irmãos gêmeos, de 23 ou 24 anos. Estudantes que se radicalizaram e estiveram várias vezes combatendo na Síria”, disse à AFP um amigo da família, Ali Ekin. “Seu pai alertou as autoridades várias vezes, mas não serviu de nada”, lamenta.
O homem foi buscar seus filhos em Raqa, reduto sírio do EI, e acabaram voltando à Turquia com suas esposas. “Viveram durante meses na casa da família sem que ninguém considerasse oportuno ir interrogá-los”, indignou-se o advogado da família, Osman Süzen.
Recrutamento em meios populares
O recrutamento dos irmãos Dündar não é um caso isolado na região de Adiyaman. “O EI se apoiou em um núcleo duro de cinco ou seis pessoas para atrair dezenas de jovens e formar uma equipe de camicazes”, assegura Ali Ekin, que nega que a cidade seja a capital do grupo jihadista na Turquia.
“Há células (jihadistas) em Bingöl, Konya, Sakarya, Osmaniye e também em Istambul e Ancara”, explica uma fonte conhecedora da questão, que pediu para ter sua identidade preservada. “O EI recruta ali entre os meios populares famílias onde a religião está muito pouco presente”.
Os dois irmãos Alagöz, supostos terroristas suicidas de Suruç e Ancara, são curdos, informa Ali Ekin. “O mais difícil para estes pais, cujos filhos se explodiram, é que são curdos que mataram curdos ou pró-curdos: é o pior”.
A Turquia, que se opõe ao regime de Damasco, recebeu por muito tempo críticas por sua passividade ante os jihadistas. Após o atentado de Suruç, Ancara trocou, no entanto, de estratégia e bombardeou várias posições do EI, em paralelo à sua ofensiva contra os rebeldes do Partido de Trabalhadores do Curdistão (PKK).
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