EDITORIAL
Terrorismo na Turquia
Cidadãos turcos convocaram manifestação para sábado nas ruas de Ancara. A passeata tinha o objetivo de defender três causas — a paz com os curdos, o trabalho e a democracia. Como resposta, receberam duas explosões. O saldo: 97 mortos e centenas de feridos. Não se trata do primeiro ataque que abalou o país nos últimos […]
Cidadãos turcos convocaram manifestação para sábado nas ruas de Ancara. A passeata tinha o objetivo de defender três causas — a paz com os curdos, o trabalho e a democracia. Como resposta, receberam duas explosões. O saldo: 97 mortos e centenas de feridos.
Não se trata do primeiro ataque que abalou o país nos últimos meses. Em julho, violência similar ocorreu na cidade de Suruç durante encontro de ativistas curdos. Nada menos do que 33 pessoas perderam a vida. Em junho, o palco foi comício em Diarbakir, com quatro óbitos.
Embora nenhum grupo tenha reivindicado a autoria dos atentados de Ancara, o governo os atribui ao Estado Islâmico (EI). Talvez tenha razão. Os curdos têm oferecido a maior resistência à expansão dos jihadistas na Síria e no Iraque. Atacá-los em outras frentes seria resposta às pedras postas no caminho da bestialidade do grupo.
Não falta, porém, quem veja o dedo do presidente Recep Tayyip Erdogan na barbárie que aumenta a sensação de insegurança no país. O atentado do fim de semana vitimou sobretudo curdos. Sindicatos, associações profissionais e ONGs se manifestavam contra o conflito entre o governo e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
O xis do imbróglio parece ser a questão curda. Bastante sensível, o tema mantém-se na pauta nacional desde a queda do Império Otomano e o estabelecimento da república em 1923. O grupo étnico, sem território próprio, espalha-se por Iraque, Síria e Turquia. De 1984 a 1999, recorria a táticas terroristas. Calcula-se que, no período, 30 mil pessoas perderam a vida.
Com a prisão do líder do PKK, Abdullah Ocallan, em 1999, a agremiação abandonou a violência e optou por negociações de paz com o governo. Muitos curdos se filiaram ao AKP, partido de Erdogan. Em junho, houve eleições no país, mas não foi possível formar um governo. O partido de oposição HDP (defensor da aproximação com os curdos) abocanhou 10% dos votos e dificultou o projeto presidencialista de Erdogan.
Em 1º de novembro, os turcos irão novamente às urnas. Segundo pesquisas, o resultado deve se repetir. O quadro se agrava. Além da instabilidade política, da crise síria e do progressivo isolamento, a Turquia tem de enfrentar o drama do terrorismo. O país — que se projetava como potência ascendente — corre o risco de mergulhar no obscurantismo.
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