EDITORIAL

Prêmio Nobel valoriza doença de pobre

O anúncio do Prêmio Nobel é sempre aguardado com muita expectativa. Além do prestígio e do cheque milionário, a láurea divulga trabalhos que fazem a diferença para a humanidade. Cientistas, escritores, estudiosos, líderes nacionais e internacionais ganham reconhecimento e dirigem os holofotes para o projeto que desenvolvem. Este ano o júri trouxe surpresas. Entre elas, […]

O anúncio do Prêmio Nobel é sempre aguardado com muita expectativa. Além do prestígio e do cheque milionário, a láurea divulga trabalhos que fazem a diferença para a humanidade. Cientistas, escritores, estudiosos, líderes nacionais e internacionais ganham reconhecimento e dirigem os holofotes para o projeto que desenvolvem.
Este ano o júri trouxe surpresas. Entre elas, sobressai o Nobel de Medicina. Ao agraciar William Campbell, Satoshi Omura e Tu Youyou, a Real Academia Sueca de Ciências chamou a atenção para a valorização do tratamento das doenças negligenciadas. Chagas, malária, dengue, tuberculose, esquistossomose, hanseníase, leishmaniose visceral não recebem as inversões necessárias para o desenvolvimento de novas drogas. A razão é econômica.
Pesquisas exigem tempo e custam caro. Muitas, depois de anos de investimentos, não chegam a nenhum resultado. As enfermidades relegadas, por atingirem populações de países pobres da Ásia, África e América Latina, não respondem à expectativa capitalista. O sucesso, caso alcançado, longe está de dar o retorno esperado pelos laboratórios.
O irlandês Campbell e o japonês Omura receberam o aplauso mundial pelo trabalho sobre novo tratamento contra infecções provocadas por vermes. Por sua vez, Tu Youyou, diretora científica da Academia de Medicina da China, mereceu o reconhecimento pelas descobertas sobre terapia contra a malária. “As doenças provocadas por parasitas”, disse o júri, “têm sido flagelo para a humanidade durante milhares de anos e são problema de saúde global significativo.”
Por ano, a malária infecta 200 milhões de pessoas e mata mais de 500 mil, sobretudo na África. Na África subsaariana, rouba a vida de uma criança por minuto. Os medicamentos cloroquina e quinina, sozinhos, passaram a ter eficácia decrescente. O primeiro, por criar resistência ao tratamento; o segundo, por gerar intolerância. Com a artemisinina, substância estudada por Tu, o tratamento tornou-se mais eficaz. Muita gente deixou de morrer.
Não por acaso, o júri do Nobel falou em “problema de saúde global”. Vai longe o tempo em que enfermidades ficavam restritas a determinado território. Com o avanço dos meios de transporte, cresce o ir e vir de populações e, com elas, a chegada de doenças antes limitadas a regiões longínquas. A recente epidemia de ebola serve de exemplo.
O tratamento oportuno da malária conjuga o verbo prevenir. A precocidade freia o efeito dominó. Evita a criação de formas infectantes para o mosquito e, com isso, impede a contaminação e reduz a transmissão. O Brasil, graças a terapias combinadas, caminha para a erradicação da malária, que, hoje, mata menos que a dengue. Em 2015, são 30 casos contra 693.
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