ARTIGO

Os profetas do Apocalipse

Há os que apostam sempre no pior. Especialmente nos momentos de crise preveem os piores finais para o filme. O momento presente é pedagógico em exemplos de profetas do apocalipse. Antes, citavam o Brasil como modelo para o mundo de como enfrentar as dificuldades mercadológicas. Era tratado como economia saudável ancorada em exportação de commodities. […]

Há os que apostam sempre no pior. Especialmente nos momentos de crise preveem os piores finais para o filme. O momento presente é pedagógico em exemplos de profetas do apocalipse. Antes, citavam o Brasil como modelo para o mundo de como enfrentar as dificuldades mercadológicas. Era tratado como economia saudável ancorada em exportação de commodities. Oferecia atrativos irrecusáveis para os investidores internacionais das bolsas de valores, além de exibir a estabilidade política desejável. O mercado é nervoso, os solavancos nos universos políticos ou econômicos repercutem de uma forma ou de outra, pois a integração entre as duas esferas é evidente. Considerado emergente de primeira linha, o país aparecia com boa reputação nas análises das revistas especializadas dos Estados Unidos e da Europa. Cometeram-se erros na condução da gestão fiscal e de avaliação das políticas econômicas, mas nada que pudesse transformar o paraíso nesse imenso inferno astral.
No passado, os Tigres Asiáticos, a Indonésia, o Japão e até a Bolívia, foram apresentados ao mundo como modelares, exemplos a serem seguidos, depois saíram do pódio, relegados ao esquecimento do campeonato da economia internacional. O que explica a volubilidade na escolha desses campeões? O consórcio entre a mídia e os donos do mercado financeiros, ávidos de lucros maiores e de segurança para os seus investimentos.
Os escolhidos devem fazer os deveres de casa: produzirem superávits, cortarem gastos nos programas sociais, apresentarem orçamentos equilibrados. São condições para a segurança dos donos da Banca Internacional que hoje mantêm os governos nacionais como reféns, a começar pelos Estados Unidos e, os países da Europa, à exceção da disciplinada Alemanha.
As consequências políticas são notórias: as quedas de governo, derrubados sob pena de estancarem os aportes de recursos vitais para suas sociedades de poupança baixa, carentes de capitais estimulativos ao sistema produtivo. No contexto, os maiores óbices são as taxas de juros praticadas, inviabilizadoras de aplicação na produção. No final, o financeiro justifica-se por si mesmo. É o caso típico da Grécia, recebeu empréstimos após sucessivas quedas do governo parlamentarista. Os governos se vão e a dívida aumenta ainda mais. Os observadores chamam de tragédia grega.
Na Europa, decorrentes dos efeitos sociais da crise, explodem os casos de corrupção, avançam as coalizões de direita, encarregadas de cumprirem os deveres de casa estipulados pela Banca Internacional. Nos Estados Unidos, a ala mais conservadora do Partido Republicano aspira conquistar a Presidência nas próximas eleições.
Não se pode negar a existência de problemas estruturais nesses países, ao lado de desajustes fiscais a serem corrigidos, nunca, porém seguindo a receita rigorosa dos donos do capital financeiro, pois se correrá o risco de jogar o bebê fora junto com a agua suja. Mesmo porque os programas sociais geradores de déficits orçamentários foram por eles mesmos induzidos, usando as taxas de juros exorbitantes que tornaram a dívida pública impagável.
Os políticos, por sua vez, precisam deixar claro para a população a sua falta de autonomia face o poder financeiro, explicarem porque os seus partidos ostentam programas que se contradizem com as medidas de ajuste fiscal adotadas pelos governos.
Claro, os problemas existem, ao mesmo tempo em que o consórcio da mídia com a Banca Internacional os agravam, apresentando a corrupção como única causa da crise, rotulando o partido da situação como único responsável pelos desvios éticos. Quando se sabe que onde estiver o poder e o dinheiro, a corrupção sempre estará presente.
A corrupção dos agentes públicos é um ralo dos recursos, deve ser rigorosamente combatida em qualquer instância de governo, através de órgãos estatais e da sociedade, mas não pode ser exibida, de forma reducionista, como causa única, como fazem os profetas do apocalipse, a serviço do consórcio poder financeiro e mídia. Antes dos agentes públicos, estão os banqueiros, exigem ganhos imorais com as extorsivas taxas de juros. Pouco lhes importa se milhões morrerão à mingua.
Do ponto de vista jurídico, se sabe, não acreditam na soberania dos estados, então, que se apliquem sobre as suas pretensões as Declarações Universais Dos Direitos do Homem.
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