EDITORIAL
Obscurantismo até quando?
Educação é antídoto para muitos males sociais: fome, miséria, violência, falta de urbanidade. Sem ela, não há desenvolvimento humano, econômico, tecnológico, político. O país patina e fica estagnado no tempo e no espaço. No Brasil, a diversidade e a pluralidade vão além das raças, das culturas e dos credos. O país tem múltiplos cenários que […]
Educação é antídoto para muitos males sociais: fome, miséria, violência, falta de urbanidade. Sem ela, não há desenvolvimento humano, econômico, tecnológico, político. O país patina e fica estagnado no tempo e no espaço. No Brasil, a diversidade e a pluralidade vão além das raças, das culturas e dos credos. O país tem múltiplos cenários que expressam as desigualdades que o tornam menor frente a outras nações. Educação é prioridade nos discursos dos governantes. Mas é letra morta na realidade e acaba por arrastar para cova rasa a dignidade de crianças, jovens e adultos. Deixam-nos vulneráveis às artimanhas da vida.
Dez anos atrás (fevereiro de 2005), o então presidente Lula, com a promessa de erradicar a fome e impulsionar a educação, visitou, acompanhado do então ministro da Educação, Cristovam Buarque, hoje senador pelo DF, o bairro de Canaã, no município pernambucano de Caruaru. Era o poder cara a cara com a miséria e o analfabetismo. A estarrecedora situação não passava de aperitivo ante o enorme desafio imposto ao governo popular recém-chegado ao comando da nação. A comunidade atendida pelo Bolsa Família e castigada pela adversidade climática apostava que o filho da terra que chegou ao posto mais alto da República traria mudanças significativas e transformadoras do futuro de todos.
Passada uma década, o senador voltou a Canaã e fez o “Relato de um futuro perdido” (Correio, 2/10). A fome foi dissipada e não consegue vitimar adultos e jovens pela subnutrição. Os trabalhadores trocaram o campo pela fábrica de roupas no município vizinho, mas seguem dependentes dos programas sociais do governo. Da única escola que havia em 2005 não saíram crianças e jovens alfabetizados. A vida para eles ficou estagnada ali, sem chances de ascensão social e econômica. Alguns foram açoitados pela violência, pelas drogas ou caíram na armadilha da gravidez precoce.
Se o pão chegou, a educação passou longe. Não conseguiu ser agente de transformação. Homens, mulheres, crianças e jovens de Canaã continuam cativos do analfabetismo funcional e da ação governamental. Não têm formação que lhes permita romper com a realidade. O pão dá votos, mas não liberta os votantes. Não os capacita para galgar a pirâmide social e romper, em definitivo, com a miséria. Eles continuam vítimas do desprezo dado à educação. O país também é refém do atraso. Para a nação e os cidadãos do interior de Pernambuco, mais uma década perdida.
Até quando as políticas públicas continuarão preservando ciclos que emperram os avanços necessários à construção de uma sociedade livre, independente, apta ao exercício pleno da cidadania e capaz de impulsionar e fortalecer o desenvolvimento socioeconômico? Educação de qualidade não é luxo nem deve ser produto de consumo exclusivo das castas com elevado poder aquisitivo.
Boa escola é alavanca para retirar o país da mediocridade e torná-lo grande, sem iniquidades que compõem colcha de retalhos repleta de tecidos de fome, miséria e preconceitos. Mas não é preciso muito esforço para constatar que a educação pública é negligenciada a cada governo, não importa o matiz ideológico de quem detém o poder. Seguimos no exercício da imersão profunda no reino do obscurantismo, atrás de países com muito menor potencial de desenvolvimento. Até quando?
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