EDITORIAL
O Brasil mal acompanhado
Por razões que ninguém gostaria que fossem verdadeiras, o Brasil foi o centro das atenções negativas em evento internacional ocorrido em Lima, capital do Peru, na semana passada. Pela primeira vez em cinco décadas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial realizaram, em um país da América Latina, o encontro anual de ministros […]
Por razões que ninguém gostaria que fossem verdadeiras, o Brasil foi o centro das atenções negativas em evento internacional ocorrido em Lima, capital do Peru, na semana passada. Pela primeira vez em cinco décadas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial realizaram, em um país da América Latina, o encontro anual de ministros da Fazenda, presidentes de bancos centrais, executivos financeiros e acadêmicos de todo o mundo.
Nesse tipo de evento, são apresentadas as últimas análises dos economistas do FMI sobre a economia mundial, com destaques regionais para o desempenho de alguns países. De queridinho dos analistas e investidores internacionais na década passada, o Brasil passou a patinho feio, depois de perder brilho entre 2008 e 2011 e, em seguida, se afundar num brejo de desequilíbrios e retrocessos em seu desenvolvimento econômico, temperado com a má fama de país assaltado pela corrupção.
Dias antes da reunião de cúpula do evento, os dois organismos bilaterais divulgaram a tradicional segunda atualização do balanço da situação mundial e regional da economia. Não foi fácil para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, assistir à piora nas projeções para o crescimento do país, divulgadas em meio às estimativas para a economia mundial e para a maioria dos países emergentes.
O FMI lamentou ter de rebaixar de 3,3% (calculada em abril) para 3,1% sua expectativa de crescimento da economia mundial para este ano. Mas quando chegou a vez de destacar a situação da América Latina e do Brasil, esse pesar pareceu leve demais. O continente não deve, segundo o fundo, acompanhar o crescimento mundial, embora a região tenha a possibilidade de fechar o ano com média positiva de até 0,8%. Em boa parte, isso se deve à derrocada da economia brasileira, a maior da região.
O Brasil, segundo o relatório do fundo, terá um recuo de 3% no desempenho de sua economia, ou seja, o dobro do que o próprio FMI tinha previsto no relatório divulgado em abril. O fundo calcula que, em razão da recessão da economia brasileira e da valorização do dólar, o país deve cair da sétima para a nona posição no ranking das maiores economias do mundo. Será ultrapassado pela Índia e pela Itália, com repercussão negativa na escolha dos investidores internacionais.
Em Lima, a diretora-gerente do FMI, economista francesa Christine Lagarde, alertou para o fato de que, enquanto países da América Latina que fizeram reformas, como Peru, Chile, México e até o Paraguai, estão crescendo, outros, como o Brasil, Equador e Venezuela, “estão no terreno negativo”. Ela insistiu na necessidade de o Brasil recuperar o quanto antes a competitividade, melhorando o ambiente de negócios com reformas na educação e no mercado de trabalho.
Lagarde não disse nada que economistas brasileiros não vinculados ao Planalto já não tivessem avisado que aconteceria, desde que o governo adotou, em 2009, os princípios da chamada nova matriz econômica (NME). Em vez de demonizar o FMI, como fizeram no passado partidários do atual governo, melhor será levar a sério o alerta de Lagarde. Afinal, o mundo continua girando, enquanto o Brasil perde tempo precioso em destrutivas batalhas políticas, inerte ante o galope da inflação e a dor do desemprego.
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