ARARIBOIA

Incêndio em terras indígenas do Maranhão atrai organização mundial

O Greenpeace acompanhou os trabalhos realizados na Terra Indígena Arariboia que é consumida por um incêndio que já destruiu 45% do território

 
 
 
 
 
 
 
 
A organização de proteção ambiental Greenpeace se volta para o incêndio florestal da Terra Indígena Arariboia, que abrange a região de Amarante, Arame, Buriticupu, Santa Luzia e Bom Jardim das Selvas, no Maranhão. 
Na área vivem 12 mil Guajajaras e cerca de 80 indivíduos isolados do povo Awá-Guajá. O incêndio dura dois meses e é o maior já registrado em terras indígenas no Brasil. 
A organização não governamental (ONG) divulgou nesta quarta-feira imagens inéditas dos trabalhos realizados para conter o fogo no local.
Acompanhada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a convite de lideranças Guajajara, a equipe do Greenpeace também esteve por terra dentro da TI Arariboia e pôde avaliar melhor o tamanho do estrago produzido pelo incêndio. “Foi chocante constatar a dimensão gigantesca da destruição e perceber que os Guajajara e Awá-Guajá são as grandes vítimas dessa tragédia”, afirma Danicley de Aguiar, da Campanha da Amazônia do Greenpeace. “Além da erradicação do fogo, a maior preocupação é garantir a sobrevivência desses povos. Muitas roças foram destruídas e o acesso à caça deve ficar comprometido, por isso os índios poderão ter sérias dificuldades para conseguir alimentos. Depois que o fogo for controlado, será necessário que o governo acompanhe de perto essa situação”, completa ele.
Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace.


Marizilda Cruppe / Greenpeace

Fotografias aéreas mostram incêndio florestal na Terra Indígena (TI) Arariboia, no Maranhão

Em meio à forte fumaça que tomava conta da aeronave, Sonia Guajajara, liderança da Apib e moradora da TI Arariboia, observava incrédula o incêndio pela janela do avião: “O que vai ser do meu povo, a vida não vai ser fácil, vamos sofrer muito sem nossa floresta”, disse ela. Segundo Sônia, os Guajajara identificaram os focos de incêndio logo no início do mês de setembro e, por meio de alguns brigadistas indígenas, informaram os coordenadores das brigadas do Prevfogo, braço do Ibama especializado na prevenção e combate a incêndios. “Não é aceitável que os órgãos competentes, como a Funai e o Ibama, não tenham percebido o aumento dos focos de incêndio dentro da terra e tenham demorado tanto para tomar as providências necessárias para combater o fogo que se espalhava pelas aldeias”, complementou Sônia.
Aliança entre índios Guajajara da Terra Indígena Arariboia e bombeiros do Maranhão tenta impedir que o fogo avance sobre a parte mais conservada de floresta dentro do território. No local, vivem também cerca de 80 Awá-Guajá isolados, que estão ameaçados pelo fogo. O incêndio dura dois meses e é o maior já registrado em terras indígenas no Brasil. Cerca de 45% dos 413 mil hectares do território foram destruídos. A falta de uma política eficaz de proteção das terras indígenas permite o roubo de madeira e aumenta o risco de que incêndios como esse possam se repetir em outras terras, já que a degradação causada pela atividade madeireira ilegal torna a floresta vulnerável ao fogo. 25 de outubro de 2015. Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace.    Alliance between Guajajara people from the Arariboia Indigenous Land and firefighters from Maranhão state, in Brazil, tries to stop the fire on the most conserved part of the forest within the territory. On the site also live about 80 Awá-Guajá isolated people, who are threatened by the fire, the largest ever recorded in indigenous lands in Brazil. About 45% of 413,000 hectares of land have been destroyed. The lack of an effective policy to protect indigenous lands allows illegal logging and increases the risk that fires like this can happen in other lands, since the degradation caused by illegal logging makes the forests vulnerable to fire. October 25th, 2015. Photo: Marizilda Cruppe / Greenpeace.

Os brigadistas indígenas, chamados “guardiões”, estão na vanguarda das iniciativas de proteção do território Guajajara. Desde o início do incêndio se apresentaram aos órgãos do estado como uma força auxiliar para o combate às chamas, mas foram rejeitados pelo Ibama sob o argumento de que não teriam experiência de combate a incêndios e não faziam parte das brigadas do programa Prevfogo.

Madeireiros estão sendo acusados pela propagação do fogo, que seria uma represália às ações de monitoramento autônomo do território realizadas pelos índios para impedir a extração de madeira ilegal. Junto com outras terras indígenas do Maranhão, a Arariboia sofre com a invasão e o roubo de madeira de maneira sistemática. A falta de uma política eficaz de proteção das terras indígenas permite que isso aconteça e aumenta o risco de incêndios como esses: a degradação causada pela atividade madeireira ilegal torna a floresta vulnerável ao fogo.
Em outubro, o Governo do Maranhão declarou situação de emergência em 11 terras indígenas no estado. Além da Araribóia a situação se estende às terras indígenas Geralda Toco Preto, Canabrava Guajajara, Governador, Krikati, Lagoa Comprida, Bacurizinho, Urucu, Juruá, Porquinhos e Kanela. Segundo as lideranças indígenas do Maranhão, porém, há registros também de focos de incêndio em outras terras além das citadas no decreto, como é o caso da Alto Turiaçu, do povo Ka’apor.
Com a ajuda de seis soldados do Corpo de Bombeiros do Estado do Maranhão, cerca de 48 índios Guajajara trabalham atualmente na extinção dos focos de incêndio no centro da TI Araribóia. “Mesmo com todas as dificuldades de logística e comunicação, os guardiões têm sido muito efetivos no combate aos focos de calor que ameaçam o povo Awá-Guajá, se confirmando como um exemplo de bravura e solidariedade”, assinala Danicley de Aguiar.
Preocupada com as consequências dessa tragédia social e ambiental, Sônia Guajajara clama por maior integração entre os órgãos de Estado responsáveis por extinguir o incêndio na Terra Indígena. “Não há espaço para falhas, pois estas podem significar a destruição de toda a floresta e assim comprometer a vida dos povos Guajajara e Awá-Guajá. “Não vamos abrir mão de defender nossas florestas e nossos irmãos” conclui ela.
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias