TAXA

Em seis meses, projeto consegue reduzir cesarianas em 42 hospitais do país

A iniciativa, que tem o apoio do Ministério da Saúde, vem sendo aplicada desde março em 38 hospitais particulares e quatro com atendimento pelo Sistema Único de Saúde

Em apenas seis meses, o projeto piloto Parto Adequado, desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, o Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare Improvement conseguiu aumentar em 7,4 pontos percentuais a taxa de partos normais dos 42 hospitais que participam da experiência. O resultado parcial foi apresentado hoje (27), em São Paulo.
A iniciativa, que tem o apoio do Ministério da Saúde, vem sendo aplicada desde março em 38 hospitais particulares e quatro com atendimento pelo Sistema Único de Saúde e já demonstrou queda no número de cesarianas, que é o objetivo principal do programa.
A taxa de partos normais nestes hospitais, que respondem por 85 mil partos a cada ano no país – o que corresponde a cerca de 6% dos partos realizados em todo o Brasil – passou de 19,8% em 2014 para 27,2% em setembro deste ano, com a taxa de cesáreas estimada em 72,8% no mês passado.
Segundo Martha Oliveira, diretora de desenvolvimento setorial da ANS, o Brasil tem a maior taxa de cesarianas do mundo. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza 15%. Mas não é esse o nosso objetivo. Nosso objetivo é reduzir a taxa de cesarianas”, disse.
“Ao longo do tempo, tivemos uma organização do trabalho do médico onde era mais fácil agendar todas as pacientes para o mesmo horário para se fazer a cirurgia. E os hospitais foram se adaptando a essa realidade. Todo o sistema de saúde foi se moldando para favorecer o procedimento cesariano”, afirmou.
Rita Sanches, coordenadora da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, também concorda que o parto normal precisa ser estimulado para evitar as complicações da cesariana, para as gestante e, principalmente, para o bebê.
“O primeiro benefício é chegar ao termo da gestação e entrar no trabalho de parto, porque o estresse do trabalho de parto também amadurece o bebê. E ao passar pela vagina da mãe, os líquidos pulmonares são espremidos e o bebê nasce respirando muito melhor. Ele também tem que ter contato com as bactérias da mãe para ter uma flora intestinal adequada, quando for adulto. Sabemos que quem nasce de parto normal tem uma saúde muito melhor quando adulto. E a mãe tem muito menos morbidade do que fazendo cesárea.”
Um outro problema associado à cesárea, segundo o médico Miguel Cendoroglo Neto, diretor superintendente do Albert Einstein, é que ela estimula os nascimentos antes da completa formação do bebê, ou seja, antes da 39ª semana de gestação, de acordo com a conveniência do médico ou da mãe.
“Atualmente, o obstetra não espera a mãe entrar em trabalho de parto. O parto é agendado”, destacou. Um dos riscos é que há uma possibilidade 120% maior do bebê nascido por cesariana ir para uma unidade de terapia intensiva (UTI). “Um contingente desses bebês vai parar na UTI neonatal, ou porque não estão bem desenvolvidos ou porque ainda têm problemas no pulmão. Parte deles vai morrer”, disse Miguel.
Para participar do projeto, que terá em princípio um ano e meio de aplicação, os 42 hospitais tiveram que adequar seus recursos humanos e estruturais, capacitar os profissionais e promover a revisão das práticas relacionadas ao atendimento das gestantes e dos bebês.
A mudança, segundo Rita Sanchez, está sendo feita aos poucos, passo a passo, para não colocar em risco a vida do bebê e da gestante. Depois desse período de experiência, o projeto poderá ser disseminado para outros hospitais do país.
Cada hospital vai decidir o melhor modelo, ou quais modelos a serem adotados. As possibilidades são o parto feito pelo plantonista do hospital; o parto feito por médico pré-natalista do corpo clínico, com suporte da equipe de plantão; ou o parto assistido por três ou mais médicos e enfermeiras.
O projeto conta com o apoio de mais de 30 operadoras de planos de saúde. Segundo a diretora da ANS, a ideia é que as operadoras passem a mudar também a forma de financiamento, remunerando melhor toda a cadeia, principalmente quando o parto ocorre sem problemas. Hoje, segundo Martha, o financiamento é maior quando envolve a internação do bebê em UTI. A ideia é que a partir de agora esse financiamento seja maior quando ocorrer de forma natural, sem riscos.
“No modelo atual de financiamento, sempre se joga o peso no procedimento de maior complexidade. E a maior complexidade é a UTI. Precisamos resgatar o que é o parto e, se ele foi adequado e teve um desfecho bom, vamos remunerar esse parto, seja ele normal ou cesariana, que teve um desfecho bom”.
No entanto, a ANS não pretende baixar uma norma para que as operadoras mudem a forma de atuação o que, segundo ela, não funcionaria. A ideia é que as operadoras sejam estimuladas a fazerem isso, premiando-as, por exemplo, com títulos de empresa sustentável.
Além da queda no número de cesarianas, o projeto também vem observando queda no número de internações dos bebês. Segundo Paulo Borem, representante do IHI, dois hospitais da cidade de Jaboticabal demonstraram redução de 60% no número de bebês em UTIs neonatal após a implantação do projeto.
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