EDITORIAL
Avalanche de violência
Retração econômica, crise política, incertezas e insegurança. O Brasil atravessa um dos piores momentos em sua história agravado pelo avanço da violência na maioria das unidades da Federação. Dez por cento dos homicídios cometidos no mundo ocorrem em solo brasileiro, segundo relatório da Organização das Nações Unidas. A taxa de assassinatos chega a 33,76 por […]
Retração econômica, crise política, incertezas e insegurança. O Brasil atravessa um dos piores momentos em sua história agravado pelo avanço da violência na maioria das unidades da Federação. Dez por cento dos homicídios cometidos no mundo ocorrem em solo brasileiro, segundo relatório da Organização das Nações Unidas. A taxa de assassinatos chega a 33,76 por 100 mil habitantes na Região Nordeste, sendo que o Ceará desponta como campeão — 46,9 casos em relação ao mesmo universo. Na sequência, vêm Sergipe (45/100 mil) e Pará (40/100 mil). Brasília fica abaixo da média nacional (23,9/100 mil), mas, ainda assim, longe do ideal.
Nessa avalanche de crimes, não escapam sequer as crianças. O país está entre os que mais fazem vítimas entre a população infantil por arma de fogo, de acordo com estudo do Comitê de Direitos Humanos da ONU. O crescimento da violência foi constatado no Diagnóstico dos Homicídios no Brasil, divulgado pelo Ministério da Justiça. O estudo revela que 71% das mortes ocorrem por artefato bélico. O Mapa da Violência 2015, recentemente divulgado, estima que 15,2 milhões das armas estão em mãos privadas, das quais 6,8 milhões registradas; 8,5 milhões, clandestinas e; e 3,8 milhões estão a serviço do crime.
O arsenal disponível, as vulnerabilidades sociais, as organizações criminosas, o tráfico de drogas, a violência patrimonial e doméstica estão entre fatores que favorecem o aumento das mortes violentas. Ao mesmo tempo, reforçam o entendimento de que trafegam na contramão os parlamentares que pretendem tornar sem efeito o Estatuto do Desarmamento, revogando as exigências legais para o porte e permitindo que, a partir de 21 anos, qualquer pessoa possa ter até três armas.
Somam para a triste estatística os embates entre civis e as forças de segurança pública. Reconhece-se que policiais exorbitam no exercício da função e recorrem ao auto de resistência para forjar álibis pela violência que cometem. Além disso, há a negligência do Estado, que vai desde o descumprimento da lei que ampara a retirada de armas das ruas até a ausência de infraestrutura, como iluminação, urbanização, saneamento básico, unidades de saúde e de educação, em áreas reconhecidamente críticas.
Ao apontar as falhas do poder público, o diagnóstico do Ministério da Justiça indica os caminhos para reverter a sangrenta realidade brasileira. Resta, portanto, deslocar do papel à realidade as medidas que o governo reconhece como indispensáveis para conter a mortandade. O Brasil não pode manter o rótulo de país perigoso, que elimina jovens e crianças sem nenhum pudor por meio da violência descontrolada. O prejuízo causado pelas tragédias diárias chega a quase 6% do Produto Interno Bruto (PIB). À conta, são adicionadas as perdas de vidas cujo valor é imensurável.
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