EDITORIAL

Sem ler, escrever e calcular

Avaliações são necessárias, mas não suficientes. Desde a década de 1990, o Ministério da Educação aplica provas regulares para testar o aproveitamento dos estudantes. A régua vai do ensino fundamental ao superior. Informações, que se acumulam exame após exame, são mais que suficientes para chegar a diagnóstico. O passo seguinte seria definir o caminho para […]

Avaliações são necessárias, mas não suficientes. Desde a década de 1990, o Ministério da Educação aplica provas regulares para testar o aproveitamento dos estudantes. A régua vai do ensino fundamental ao superior. Informações, que se acumulam exame após exame, são mais que suficientes para chegar a diagnóstico.
O passo seguinte seria definir o caminho para corrigir falhas. Assim, sucessivamente, até atenuar arestas e atingir patamares cada vez mais próximos da perfeição. O que se vê, porém, é a inércia. Sem correção de rumos, a foto repete o retrato feio. É o que mostra o resultado da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), divulgado na quinta-feira.
Em 2014, 2,4 milhões de estudantes do 3º ano do ensino fundamental de 49 mil escolas públicas se submeteram à prova. Só 11% atingiram o nível de leitura e de compreensão de texto considerado ideal pelo MEC. Matemática também ficou com a imagem borrada. Menos da metade das crianças (43%) foram capazes de lidar com números.
É preocupante. Mais preocupante que o desempenho demonstrado nas avaliações dos demais níveis de ensino. É que a alfabetização se estende até o 3º ano. Se o estudante não aprendeu a ler e escrever nesse período, carregará a deficiência vida afora. Antigamente se falava em primário malfeito para caracterizar a pessoa que não sanou dificuldades elementares na fase certa.
Os milhões de brasileiros reprovados na ANA são candidatos a engrossar as estatísticas dos analfabetos funcionais. Concluirão o ensino fundamental e talvez o médio, mas serão barrados nas universidades de ponta e nos empregos disputados. São condenados a perpetuar a pobreza. Só a escola de qualidade democratiza o saber e permite galgar degraus que conduzem à ascensão social.
O diagnóstico, que se mantém ao longo das décadas, exige medicação eficaz. Embora com atraso, a receita precisa ser aviada. Ela passa necessariamente pela qualificação dos professores, melhora do material didático e modernização de métodos. Há que envolver a universidade no processo. O currículo dos cursos que formam docentes está desconectado da realidade. Alunos e mestres olham paisagens diferentes e falam línguas estranhas.
Mais uma vez, o desempenho de 2014 acende a luz vermelha. O alerta é claro: não há tempo a perder. Sem ação efetiva, condena-se mais que uma geração de brasileiros. Condena-se o Brasil. Vale a analogia. Uma pessoa procura o médico porque está com febre. Feita a consulta e providenciados os exames de laboratório e imagem, dissipam-se as dúvidas. Ela está com pneumonia. O clínico manda-a para casa sem medicá-la. Passados alguns dias, o quadro piora. Ela volta ao consultório. Repete-se o procedimento. Resultado: o paciente morre.
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