EDITORIAL

Ressuscitar a fraternidade

Liberdade, igualdade e fraternidade.” O tripé da Revolução Francesa, que mudou o perfil do Velho Continente, no fim do século 18, está fraturado. A fraternidade, atitude que torna os homens diferentes de todos os seres do planeta, foi deixada de lado, frente à tragédia de milhares de famílias em fuga dos países conflagrados no Oriente […]

Liberdade, igualdade e fraternidade.” O tripé da Revolução Francesa, que mudou o perfil do Velho Continente, no fim do século 18, está fraturado. A fraternidade, atitude que torna os homens diferentes de todos os seres do planeta, foi deixada de lado, frente à tragédia de milhares de famílias em fuga dos países conflagrados no Oriente Médio e no norte da África.
Em embarcações frágeis, desde o início deste ano, 350 mil pessoas se expuseram aos riscos da travessia do Mar Mediterrâneo em busca de sobrevivência na Europa. Nada menos que 2,7 mil morreram na trajetória. Os que alcançaram terra firme foram recepcionados com obstáculos políticos, militares e cercas de arame farpado.
A Europa está dividida quanto às soluções para a crise provocada pela onda migratória. Eslováquia e Áustria exigem respeito aos acordos de Dublin, pelos quais migrantes não podem circular livremente no espaço de Schengen, que congrega 26 países, dos quais 22 integram a União Europeia, sem portar pedido de asilo ao país por onde entraram no continente. Ambos responsabilizam a Alemanha pelo comportamento dos refugiados que afrontam as regras estabelecidas.
Os alemães preveem que receberão 800 mil refugiados até o fim deste ano. Defendem a distribuição equânime dos que procuram amparo entre as nações do bloco e ajuda a pessoas em situação de risco. A proposta não tem a aquiescência, entre outros, do Reino Unido. Desde o início da guerra civil na Síria, 4 milhões deixaram o país, mas apenas 216 foram acolhidos em solo britânico.
Para o governo inglês, a solução para a crise passa pelo fim dos conflitos no Oriente Médio e no norte da África. Embora a paz seja a opção ideal, o desejo da maioria dos atingidos pelas guerras não tem força suficiente para transformar a realidade da noite para o dia. Fugir e buscar sobreviver é a única alternativa que resta. Trata-se de tragédia que mostrou a feiura da cara em cena registrada na Turquia. Uma imagem que falou mais do que mil palavras.
Menino de 3 anos achado morto no balneário de Bodrum comoveu o mundo. O episódio soou como mais um grito de clamor para que os governantes ressuscitem o sentimento de humanidade. Traduzam em atitudes a expressão solidariedade. A solução para a crise será debatida, no próximo dia 14, por representantes dos governos dos 28 integrantes da União Europeia. Mais do que ninguém, os refugiados esperam resposta que seja bálsamo ao sofrimento que têm enfrentado desde que se viram obrigados a deixar a terra natal.
O restante do mundo torce para que os europeus construam um entendimento e vivifiquem o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”. A sobrevivência dos migrantes não pode ficar condicionada à solução para conflitos que se arrastam há décadas. Ao contrário. É das ações de hoje que depende a vida de milhares de pessoas. Questões políticas, econômicas não podem se traduzir em pena capital aos que buscam a vida.
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