EDITORIAL
Papa lança desafios pela vida
Na celebração dos 70 anos da Organização das Nações Unidas, o papa Francisco desafiou os governantes de todos os países a superar a ganância do poder por riquezas, erradicar a exclusão social e desenvolver políticas em defesa do patrimônio ambiental. Exortou todos à construção de um mundo com desenvolvimento, sem perseguições aos cristãos, com mediação […]
Na celebração dos 70 anos da Organização das Nações Unidas, o papa Francisco desafiou os governantes de todos os países a superar a ganância do poder por riquezas, erradicar a exclusão social e desenvolver políticas em defesa do patrimônio ambiental. Exortou todos à construção de um mundo com desenvolvimento, sem perseguições aos cristãos, com mediação de conflitos a fim de que a dignidade humana seja valorizada.
A construção da equidade passa pela reforma e adequação do Conselho de Segurança da ONU e dos organismos financeiros, especialmente criados para o enfrentamento das crises econômicas, a fim de que todas as nações tenham participação real nas decisões. Para ele, as mudanças ajudarão a “limitar qualquer espécie de abuso ou usura especialmente sobre países em desenvolvimento”.
O ex-cardeal argentino é o quarto papa, na história da Igreja Católica, a discursar na abertura da conferência anual das Nações Unidas. Ele reforçou a necessidade de superação do fenômeno da exclusão social e econômica. Fez referência ao tráfico de pessoas, órgãos e tecidos humanos, à exploração sexual de crianças, ao trabalho escravo — o que inclui prostituição — ao tráfico de drogas e armas, ao terrorismo e à criminalidade internacional organizada.
Hoje, no planeta, há 795 milhões de famintos, segundo o último estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado neste ano. O dado expressa queda na comparação com anos anteriores, quando a população de indivíduos abaixo da linha da pobreza ultrapassava 1 bilhão. No Brasil, também ocorreu redução do número de famintos. Hoje, o país tem 16 milhões na miséria, o que equivale a 8,5% da população, contra 24,3%, em 2001.
A cerca de dois meses da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), em Paris, o papa lembrou aos líderes mundiais que os seres humanos são parte do ambiente. “Vivemos em comunhão com ele, porque o próprio ambiente comporta limites éticos que a ação humana deve reconhecer e respeitar”, disse, para alertar que qualquer dano ambiental “é dano à humanidade”.
O pontífice cobrou ética dos governantes e os concitou a trabalharem “por um mundo sem armas nucleares”, com aplicação plena do Tratado de Não Proliferação até a proibição total desses artefatos. Ele fez veemente apelo face à dolorosa situação do Oriente Médio e dos países africanos, especialmente do norte daquele continente, populações são submetidas aos horrores dos conflitos bélicos por motivos religiosos. Muitos que não conseguiram escapar pagaram a adesão à paz com a própria vida ou com a escravidão.
Francisco, o homem da reconciliação e da paz, segue um roteiro que busca a transformação das pessoas para a construção de um mundo que seja “a casa comum de todos os homens” e que deve “edificar-se sobre a compreensão duma certa sacralidade da natureza criada”. Para isso, ele ensina que de todos os dirigentes é exigido “grau superior de sabedoria, que aceite a transcendência, renuncie à construção duma elite oniponte e entenda que o sentido pleno da vida individual e coletiva está no serviço desinteressado aos outros e no uso prudente e respeitoso da criação para o bem comum”. O Sumo Pontífice é exemplo da palavra que deve orientar da revisão dos modelos de desenvolvimento em favor da perenidade do planeta e da vida.
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