ARTIGO
Educação profissional é investimento
A baixa qualificação dos trabalhadores é um dos obstáculos para o desenvolvimento do Brasil. A educação básica deficiente, principalmente em linguagem e matemática, e a exclusão da maior parte da população do ensino profissionalizante minam a capacidade de a economia crescer. Mesmo em tempos de expansão, a escassez de profissionais bem formados dificulta a adoção […]
A baixa qualificação dos trabalhadores é um dos obstáculos para o desenvolvimento do Brasil. A educação básica deficiente, principalmente em linguagem e matemática, e a exclusão da maior parte da população do ensino profissionalizante minam a capacidade de a economia crescer. Mesmo em tempos de expansão, a escassez de profissionais bem formados dificulta a adoção de novas tecnologias que modernizam o parque industrial e aumentam sua produtividade. Em momentos de recessão, como o que enfrentamos, a preparação inadequada faz com que a recuperação da atividade seja ainda mais lenta.
Por essas e outras razões, a educação técnica deve estar no centro das atenções da política educacional, independentemente de a conjuntura ser propícia ou adversa. A economia vive seus ciclos, alternando épocas de expansão e de retração. A educação, entretanto, tem de levar em conta períodos maiores, contados a partir de gerações. As nações demoram para colher os frutos de medidas nesse setor. Em lugares como o Brasil, marcado por grandes disparidades regionais, essa característica é ainda mais forte.
A boa notícia é que estamos começando a pavimentar o caminho para a solução da equação. Entre 2008 e 2014, o número de matrículas nos cursos técnicos de nível médio passou de 928 mil para 1,74 milhão, num aumento de 87,5%. Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 90% dos brasileiros concordam que o ensino profissionalizante traz mais oportunidades no mercado de trabalho. No que diz respeito aos salários, a percepção também é positiva: 82% afirmam que empregados com certificado de qualificação profissional têm remunerações maiores.
Os nossos jovens não estão mais dispostos a abrir mão da educação profissional como forma de competir, de maneira vantajosa, pelos postos de trabalho. A necessidade de continuar ampliando o acesso a essa modalidade vem acompanhada do compromisso de garantir sua qualidade. Afinal, excelência nas práticas profissionais, quando alcançada, muda o patamar da produtividade das empresas, com os trabalhadores desenvolvendo suas tarefas num nível técnico mais elevado.
Nesse campo, temos o que comemorar. Em agosto, o Brasil sediou a olimpíada mundial de ocupações técnicas, a WorldSkills, disputada pela primeira vez na América Latina. A equipe brasileira — formada por alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e de seu congênere no comércio, o Senac — obteve o primeiro lugar, com o melhor desempenho entre competidores de 60 países. Conquistamos 11 medalhas de ouro, 10 de prata e seis de bronze, além de 18 certificados de excelência. Ficamos à frente de nações que têm tradição em educação profissional, como Coreia do Sul, França e Holanda.
Com esse resultado, buscamos um novo espaço entre os nossos concorrentes no mercado internacional. O papel do capital humano, que sempre foi importante para explicar o crescimento econômico e a produtividade do trabalho, será ainda mais crucial na era da economia do conhecimento. O mundo contemporâneo requer trabalhadores muito mais bem preparados para lidar com as novas tecnologias de produção e de organização das cadeias produtivas.
Não é de hoje que a tecnologia se tornou uma das mais fundamentais e poderosas forças a determinar a competitividade das empresas e a prosperidade das nações. Ela condiciona a eficiência com que se produz, a capacidade criativa das pessoas e a agregação de valor aos produtos e serviços. Por isso, os países precisarão de gente talentosa e bem treinada para promover o crescimento de longo prazo. Se essa premissa é válida para países desenvolvidos, aplica-se com ainda mais certeza aos emergentes.
O ensino profissionalizante tem feito parte da estratégia de recuperação dos países no período pós-crise global. Entre 2008 e 2014, nações como Alemanha, Japão, Bélgica e Noruega, entre outras da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), adotaram medidas para melhorar sua oferta. A educação para o mundo do trabalho, essencial para o aumento da produtividade e o desenvolvimento tecnológico, é um investimento com vistas à retomada do crescimento econômico num ritmo mais vigoroso. Por isso, deve continuar no centro dos esforços do setor público e da iniciativa privada. Assim, daremos passos mais firmes rumo ao pleno desenvolvimento.
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