ARTIGO
Educação brasileira ontem e hoje
Em 1997, o professor emérito da Universidade de Londres Robert Cowen, orientador da tese “In search of elementary education: the case of Brazil” (À procura da educação fundamental: o caso do Brasil) aconselhou-me a não deixar que minha tese servisse somente para segurar portas. Achei seu conselho muito interessante. Contudo, até hoje a tese permanece […]
Em 1997, o professor emérito da Universidade de Londres Robert Cowen, orientador da tese “In search of elementary education: the case of Brazil” (À procura da educação fundamental: o caso do Brasil) aconselhou-me a não deixar que minha tese servisse somente para segurar portas. Achei seu conselho muito interessante. Contudo, até hoje a tese permanece parada em meu escritório. Quando voltei à universidade, fiquei admirada ao encontrar retratos de políticos nas portas das salas de aula, propaganda eleitoral nos corredores, alunos batendo na porta de salas de aula solicitando ao professor “um momento para pregar a revolução”. Pretendia apresentar a tese a meus colegas e alunos, como é de praxe em universidades no exterior, mas isso não aconteceu. Notei que não havia interesse pelo trabalho que eu havia feito.
Nos cinco anos nos quais voltei a dar aulas para alunos da pós-graduação, acontecimentos inverossímeis, de claro cunho político, eram constantes. Não havia interesse pela capacidade do profissional e, sim, pela opção política. Esses acontecimentos continuaram até que resolvi pedir demissão da universidade. Assim, fechava-se um tempo que não esperava acontecer após anos de estudos e satisfação acadêmica.
Hoje, sinto-me na obrigação de apresentar rápido resumo da mencionada tese. Ela examinou a inabilidade do Estado brasileiro para cumprir efetivamente a obrigação de oferecer educação fundamental para todas as crianças na idade adequada. O argumento geral da tese foi de que existia falta de “vontade política” da parte do Estado para resolver o problema. Tal conceito foi teorizado como “falta de condições no Estado que o permitissem ser um ator na educação fundamental”. A principal conclusão da tese foi que era possível criar as condições necessárias para o Estado funcionar como um ator na educação.
Deixei a academia, mas continuei interessada pelo desenvolvimento da educação no Brasil e no mundo. Publiquei dois livros e resolvi acompanhar o desenvolvimento da literatura sobre educação, principalmente o do canadense Michael Fullan, reconhecido estudioso internacional do assunto reforma educacional. Ele vem oferecendo importantes conselhos sobre reforma da educação em vários países.
Fullan começou a trabalhar com o assunto reforma da educação ao publicar uma série de livros, a partir de 1993. Seu livro Forças de mudanças — Explorando as profundezas da reforma educacional causou muito interesse de educadores em alguns países desenvolvidos. Daí por diante, outros livros do autor seguiram o mesmo caminho.
Em 2001, Fullan lançou o livro Liderando em uma cultura de mudança, no qual oferecia novas ideias para líderes de organizações educacionais. Alguns anos depois, em 2005, além de pesquisas que descrevem processos de mudança, em seu livro Liderança e sustentabilidade, o autor explicou a complexidade de melhorar escolas e sistemas escolares. Contudo, Fullan e seu grupo de estudiosos da educação constataram que seus livros, embora fossem elogiados por professores e diretores de escolas, não eram usados na prática. Assim, decidiram ir pessoalmente a escolas apresentar o conceito batizado como teoria prática. Foi assim que as mudanças na educação ocorridas em países como Cingapura, Coreia do Sul e Dinamarca, ficaram célebres.
Em 2014, Fullan continuou a oferecer outras ideias de impacto na área de educação. Na penúltima obra, The principal (O diretor), ele diz que diretores de escolas estão desempenhando papéis secundários nas unidades de ensino, mostra por que isso acontece e aconselha, em detalhe, como pode ser feito em ordem e escala. Finalmente, hoje, em 2015, o recente livro do estudioso, Freedom to change, four strategies to put your inner drive into overdrive (Liberdade para mudar, quatro estratégias para colocar sua força interior em movimento) está causando novo impacto na área de educação em vários países. Em suma, não é por falta de conhecimento científico sobre mudança educacional, oferecida por estudiosos do Brasil e do mundo, que a educação brasileira continua ser de má qualidade.
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