ARTIGO

Duas lições proveitosas

Há dois exemplos internacionais, repetidamente citados entre especialistas da importância da educação, pertinentes a projetos de desenvolvimento socioeconômico: um, o Japão, no século 19; e outro, a Coreia do Sul, no século 20. Ambos vieram de um tradicionalismo retrógrado, que não coadunava os procedimentos com o crescimento urbano e industrial da modernidade. Em curto espaço […]

Há dois exemplos internacionais, repetidamente citados entre especialistas da importância da educação, pertinentes a projetos de desenvolvimento socioeconômico: um, o Japão, no século 19; e outro, a Coreia do Sul, no século 20. Ambos vieram de um tradicionalismo retrógrado, que não coadunava os procedimentos com o crescimento urbano e industrial da modernidade. Em curto espaço de tempo, com as mudanças infraestruturais feitas, conseguiram ombrear-se com os padrões de progresso dos países ocidentais do primeiro mundo. Estão, hoje, perfeitamente à vontade na onda de mundialização da economia, que marca a passagem de ambos para o século 21.
Sobre o Japão já se falou demais, tanto na literatura econômica quanto na educacional, nos últimos 100 anos. Quanto à Coreia do Sul, nem tanto — razão pela qual vamos dedicar estes comentários à análise da conquista de alguns dos seus atuais índices macro. Para tanto, nos espelhamos em duas obras recentes: Preparando para o século 21, do historiador Paul Kennedy (editora Campos, Rio de Janeiro) e Educação na Coreia (2003-2004), editada pelo Ministério da Educação e dos Recursos Humanos daquela república e divulgada no Brasil pela Univer/cidade, do Rio de Janeiro. É claro que, com estes comentários, não estamos propondo a adoção das mesmas soluções pelo Brasil, com o intuito de obviar os esforços desenvolvimentistas, até porque sempre fomos críticos severos da importação de experiências alienígenas com vistas à implantação de reformas educacionais no Brasil.
Cada povo com seu estilo e seus problemas, sobretudo, no que diz respeito às políticas sociais elaboradas pelos respectivos governos. O que se pretende é fixar alguns parâmetros, que possam ser úteis aos polices-makers e educadores brasileiros, nos esforços para tirar o nosso sistema de ensino do pantanal em que se meteu a pátria educadora. Nos anos 1960, todos os índices econômicos e sociais da Coreia do Sul estavam abaixo dos do Brasil e se igualavam aos de Gana. O país, ocupado por décadas pelo expansionismo japonês no Extremo Oriente e castigado pela devastadora guerra contra a vizinha Coreia do Norte, nos anos 1950, encontrou meios para, a partir do armistício de 1953, reunir as forças vivas da nação e iniciar a implantação do projeto, destinado a torná-la, meio século mais tarde, uma das mais prósperas repúblicas do planeta.
A respeito disso, Paul Kennedy escreveu, na citada obra, todo um capítulo em que analisa os mais importantes fatores que asseguraram o sucesso dessa política. Destaca ele questões relativas ao planejamento socioeconômico; à opção pela indústria pesada e tecnologia de ponta, com vistas à economia de exportação; à poupança nacional, com regras rigorosíssimas, e aos investimentos governamentais em setores estratégicos, infraestruturais e outros havidos como prioritários; a ênfase à educação, nas duas políticas fundamentais e pétreas, a saber: preferência absoluta pela universalização da educação básica de qualidade, estendida a 100% da população, e formação universitária voltada de preferência para as engenharias, com milhares de estudantes bolsistas enviados aos países do Primeiro Mundo (em 1980, o número de alunos de engenharia que se formavam só nas instituições coreanas era igual à soma do Reino Unido, da Alemanha Ocidental e da Suécia juntos). Para se ter uma ideia dessa quantificação, enquanto que o Brasil forma, neste ano da graça de 2015, pouco mais de 30 mil engenheiros, por lá formam-se, anualmente, 10 vezes mais.
As conquistas educacionais na Coreia do Sul começam pela educação básica (infantil, fundamental e média) para todos os indivíduos até 18 anos, com qualidade e quase sempre em tempo integral. Conforme relatórios do ministério, incluídos na obra citada, há um Plano Geral de Educação para a Era da Informação, que, desde 2000, vem sendo rigorosamente executado. Ele é destinado a construir a infraestrutura para a educação no século 21. O planejamento está dividido em distribuição de equipamentos para as escolas, por um lado, e formação da rede de computadores, seguida da utilização da Internet, por outro. A atualização tecnológica visa à criação em toda a rede escolar do ambiente que conduza a um ensino que utilize a tecnologia da informação e comunicação efetivamente, bem como o incremento da distribuição de computadores às escolas, grande velocidade de acesso à Internet, adequada ao tamanho do estabelecimento e ao bom funcionamento dos equipamentos eletroeletrônicos.
Para acelerar o processo modelador da sociedade do conhecimento do século 21, concluiu-se o projeto de apoio ao desenvolvimento e utilização de programas de computador para ensino e conteúdos educacionais de qualidade. O Serviço Coreano de Informação sobre Educação e Pesquisa lidera os trabalhos de desenvolvimento dos materiais educativos em formato multimídia, bem como dá suporte para explicações sobre a tecnologia digital. Ao mesmo tempo, os professores são formados na pesquisa e utilização das novas tecnologias para assuntos curriculares. Os próprios docentes são estimulados a desenvolver e produzir programas educativos de qualidade para computadores, como parte integrante do seu trabalho didático-pedagógico em sala de aula. Outros programas de treinamento incluem o acréscimo de um especialista em informatização por escola, para dar assistência permanente ao uso da rede digital.
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