EDITORIAL
Enem deve motivar ações do MEC
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 com o objetivo claro. Visava avaliar o desempenho dos estudantes que caminhavam rumo à universidade. Passados 17 anos, o teste tomou novos rumos. Pouco a pouco, tornou-se passaporte para ingresso no nível superior. Em outras palavras: substituiu o velho e criticado vestibular. Apesar de […]
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 com o objetivo claro. Visava avaliar o desempenho dos estudantes que caminhavam rumo à universidade. Passados 17 anos, o teste tomou novos rumos. Pouco a pouco, tornou-se passaporte para ingresso no nível superior. Em outras palavras: substituiu o velho e criticado vestibular.
Apesar de não constar do DNA da prova, a análise da escola ganhou espaço que desvia a atenção de pais, estudantes, especialistas e autoridades. A preocupação com o ranking levou para o segundo plano (ou para o esquecimento) ações impostas pelos resultados. O Ministério da Educação (MEC) deixa de fazer o que precisa ser feito.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) tem a função de avaliar os estudantes. Aplica a prova e divulga o resultado. A atribuição do órgão acaba aí. Cabe ao MEC ir adiante – conjugar o verbo interferir. Com o diagnóstico em mão, promover ações aptas a qualificar os professores e melhorar o ensino.
Nada menos de 6,2 milhões de estudantes fizeram o Enem em 2014. Quase 16 mil escolas figuram no ranking divulgado na quarta-feira. Eles deixaram registrados preciosos dados que, analisados, podem nortear políticas corretas para manter os acertos e corrigir os erros existentes. Lamentavelmente, porém, as informações se vão pelo ralo. Perdem-se na falta de foco e de objetivos claros.
Pior: o desperdício não constitui privilégio do Enem. Outras avaliações, como Prova Brasil, Provinha Brasil e Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), têm o mesmo destino. Divulgam-se os resultados sem que produzam consequências. É como se um enfermo fosse ao médico com pneumonia. O médico fizesse o diagnóstico e o mandasse de volta para casa sem prescrever a medicação adequada. Na semana seguinte, repete o procedimento. Na outra, também. Resultado: o doente morre.
Não por acaso, o ranking de 2014 reprisa os anteriores. As instituições privadas figuram no topo. A primeira pública a aparecer na relação ocupa o 22º lugar – o Instituto Federal do Espírito Santo, em Vitória. O colégio capixaba exibe as três marcas que caracterizam a elite das escolas públicas: são federais ou estaduais, selecionam os alunos, são ou oferecem cursos técnicos. “Insanidade”, ensinou Albert Einstein, “é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Impõem-se mudanças. Elas passam, necessariamente, pelos professores. Qualificar o corpo docente implica mais que pagar salários dignos, à altura dos oferecidos aos profissionais que figuram na elite dos servidores do Estado. Implica plano de carreira que atraia talentos e estimule a meritocracia. Implica educação continuada e qualificação permanente, que, por sua vez, deve produzir resultados que se reflitam no desempenho discente. Sem avanços, o Brasil continuará enxugando gelo.
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