EDITORIAL

Crise sem solução à vista

Morrer ou morrer. Essa parece a alternativa dos refugiados que buscam abrigo na Europa. Milhares de pessoas, sobretudo da África e do Oriente Médio, arriscam a vida para escapar de guerras, doenças, fundamentalismos religiosos, perseguições políticas e étnicas. Em barcos frágeis, explorados por traficantes de gente, enfrentam as ondas do Mediterrâneo, que se transformou em […]

Morrer ou morrer. Essa parece a alternativa dos refugiados que buscam abrigo na Europa. Milhares de pessoas, sobretudo da África e do Oriente Médio, arriscam a vida para escapar de guerras, doenças, fundamentalismos religiosos, perseguições políticas e étnicas. Em barcos frágeis, explorados por traficantes de gente, enfrentam as ondas do Mediterrâneo, que se transformou em trágico cemitério de adultos e crianças.
Balanço divulgado na semana passada pelas Nações Unidas informa que 250 mil imigrantes chegaram ao Velho Continente nos sete primeiros meses de 2015. Deles, 98 mil desembarcaram na Itália e 124 mil na Grécia, os portos mais próximos do ponto de saída. Nada menos de 2.400 ficaram no caminho. Morreram em naufrágios que se tornaram espetáculo banal na tragédia em que se transformou a luta pela sobrevivência.
As levas de exilados, sem documentos ou autorização legal para entrar no país, constituem desafio para os Estados. A União Europeia, como federação, não fixou regra apta a orientar os membros do bloco. O resultado indigna as consciências civilizadas do mundo. Montam-se acampamentos em que se amontoam famílias sem perspectiva de futuro.
Na Grécia, as condições subumanas dos abrigos receberam críticas de organismos internacionais. Na França, em Calais, a situação não é mais confortável. Refugiados tentam atravessar o Eurotúnel rumo ao Reino Unido. O país sempre foi tolerante com os imigrantes por constituírem mão de obra barata. Agora, porém, decidiu apertar o cerco.
Em época de crise, quando faltam empregos e se restringem benesses do estado de bem-estar social, Londres aprovou lei que impede o aluguel de imóveis a ilegais. O proprietário deve fazer papel de polícia: verificar a condição do inquilino. Só poderá alugar o imóvel o imigrante legal. A lei tem efeito retroativo. Atinge os que se encontram instalados.
Sem norte, cada um dos membros da União Europeia conjuga um único verbo: defender-se. Fato ocorrido na Alemanha simboliza a realidade dos 28 sócios do clube. Em visita a escola situada no norte do país, a chanceler Angela Merkel protagonizou episódio constrangedor. Jovem palestina, em perfeito alemão, pergunta por que demoram tanto as decisões sobre asilo. Ela e a família aguardavam a resposta fazia quatro anos. “A Alemanha”, respondeu a chanceler, “não pode receber todas as pessoas. Algumas terão de voltar”. A moça chorou.
A grande maioria, porém, não tem para onde voltar. A fim de fazer o caminho de volta, é preciso que haja mudanças no país de origem. No caso da Síria, por exemplo, impõe-se que a guerra civil bata ponto final e se derrote o Estado Islâmico. Enquanto tal cenário não se concretiza, há que buscar formas de acolher os refugiados com dignidade. Itália e Grécia, portas de entrada mais procuradas pelos imigrantes, propuseram sistema de cotas estabelecidas para todos os países da UE. Sem êxito. E sem solução à vista.
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