Os gregos vão hoje às urnas responder se aceitam as condições impostas pela União Europeia para a concessão de outro pacote de ajuda. Tanto o não quanto o sim se traduzirão em enormes sacrifícios para a população. Ao propor o referendo, o primeiro-ministro cumpre promessa de campanha que soou como música aos ouvidos dos eleitores, que não viam luz no fim do túnel. Alexis Tsipras assegurou que recusaria as exigências de austeridade impostas pelas autoridades monetárias.
Berço da democracia, a Grécia é também berço da tragédia. Desde a eclosão da crise de 2008, porém, a desdita ganhou cenário diferente. Em vez dos palcos, passou a ser representada nas ruas, nas casas e no dia a dia dos cidadãos. O estouro da bolha global pôs fim à festa do mercado financeiro que, com juros baixos, incentivava gastos sem preocupação com a solidez da economia. A ressaca abateu fortemente países novatos na Zona do Euro. Entre eles, Grécia, Portugal e Espanha.
Atenas sofreu o golpe nas profundezas das entranhas. Com dívidas que ultrapassam o valor do PIB, o governo recorreu a empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI), do bloco do euro e do Banco Central Europeu. Almoço grátis não existe nem lá nem cá. Para receber o dinheiro, o país precisou adotar medidas extremamente duras — privatizações, elevação de impostos, corte de benefícios sociais e enxugamento da máquina pública, que implicou redução de postos de trabalho.
As consequências, como frisava o conselheiro Acácio, vêm depois. No caso da nação mediterrânea, a conta dos deficits fiscais crescentes se faze sentir há sete anos. O arrocho levou o país a forte recessão. De 2009 a 2013, a economia encolheu 25%. O desemprego explodiu. Em 2009, a taxa era de 8,4%. Em 2014, saltou para 24,8%. Pior para os jovens — mais de 50% dos rapazes e moças com menos de 25 anos estão sem trabalho.
É tal o buraco que nem as concessões de devedores e credores surtiram efeito. Em relatório divulgado na quinta-feira, o FMI considera imperativo empréstimo emergencial. O clima é de incertezas. Seja qual for, o resultado do referendo conduzirá o conflito econômico e político. O não fechará as portas da Europa ao governo, que corre o risco de poder ficar sem moeda e praticamente sem bancos. O sim implicará mais restrições e aprofundamento da recessão.
A atual tragédia grega, como as do passado, ensinam lição que não pode ser ignorada pelos governantes. É indispensável ter cuidado com o gasto público e fugir do endividamento descontrolado. Apesar da crise, a situação do Brasil longe está de se equiparar à da Grécia. A dívida bruta brasileira gira em torno de 65% do PIB. A da Grécia, 185%.