EDITORIAL
O espirro da China
“Quando os Estados Unidos espirram, o Brasil pega pneumonia.” A frase, corrente na segunda metade do século passado, sintetizava a dependência da economia brasileira em relação à americana. Em 2015, o enredo sofreu adaptações. A sujeição se mantém. Mudou apenas a potência subordinante. O gigante norte-americano cedeu o protagonismo para o asiático. A China, durante […]
“Quando os Estados Unidos espirram, o Brasil pega pneumonia.” A frase, corrente na segunda metade do século passado, sintetizava a dependência da economia brasileira em relação à americana. Em 2015, o enredo sofreu adaptações. A sujeição se mantém. Mudou apenas a potência subordinante. O gigante norte-americano cedeu o protagonismo para o asiático.
A China, durante três décadas, cresceu 10% ao ano. A partir de 2011, enquanto o mundo afundava em profunda crise financeira, Pequim pôs o pé no freio. A desaceleração, porém, não se deu de forma desorganizada. Ao contrário. O governo queria a retração. Planejou-a com cuidado. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou aumento de 7,4%. Segundo previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), o índice de 2015 será de 6,8%. Em 2016, 6,3%.
Exportações de produtos com preços muito abaixo dos cobrados internacionalmente respondem pela extraordinária ascensão chinesa. Em nove dos 11 primeiros anos do século 21, as vendas externas tiveram incremento de mais de 10%. Em seis anos do período, registraram alta superior a 20%. A exceção ocorreu em 2008 e 2009, quando os importadores sofreram os efeitos da crise global. Em 2014, caíram para 6,4%.
Carente de produtos primários, o país compra muito. É o segundo importador do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. Trata-se do terceiro destino dos produtos do bloco europeu (28 países) e o quarto de Washington e Londres. Para lá se destina grande parte das exportações brasileiras, sul-africanas, japonesas, tailandesas e indonésias. A maior parte das exportações de soja e de minério de ferro do Brasil atravessa o Pacífico rumo a Shangai.
Daí o impacto na economia dos exportadores de commodities. Não por acaso as ações da Vale caíram com a queda das Bolsas chinesas. Não por acaso, também, se assiste à redução do preço internacional do petróleo, da soja, dos minérios. A conta fecha redonda. Trata-se da lei da oferta e da procura. Menor crescimento implica freio no apetite do gigante asiático. A abundância puxa os valores para baixo.
Mas nem tudo parece correr como traçado pela mão de ferro do Partido Comunista. A novidade que assusta o mundo é a crise da Bolsa de Shangai. Há um mês, o mercado acionário chinês exibia o melhor desempenho do mundo. O boom começou no ano passado, quando se alardeou que as ações estavam baratas. O anúncio seria sinal de que o governo impediria os preços de cair. Pequenos investidores aplicaram a poupança em papéis. Com o sinal amarelo, o poder central interveio. Mas o resultado não foi o esperado.
É precipitação falar em alarme. Sabe-se pouco sobre o comportamento da primeira bolsa de valores de um país comunista. A Bolsa de Shangai, inaugurada em 1990, não tem o peso da economia chinesa. Além disso, a correlação entre as bolsas chinesas e os ativos mundiais é baixa. Trata-se, porém, de indicador — aviso de que lá as coisas não estão totalmente sob controle.
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