EDITORIAL

Crise grega sem desfecho previsível

O anúncio da decisão da União Europeia que abre as portas para novo acordo com Atenas trouxe alívio para o mundo. O xis da preocupação não era a Grécia, cuja dívida não tem o poder de contagiar o bloco nem de comprometer outras economias já que a maior parte se encontra em mãos de organismos […]

O anúncio da decisão da União Europeia que abre as portas para novo acordo com Atenas trouxe alívio para o mundo. O xis da preocupação não era a Grécia, cuja dívida não tem o poder de contagiar o bloco nem de comprometer outras economias já que a maior parte se encontra em mãos de organismos internacionais. Trata-se de problema maior. A saída do país da zona do euro tem o poder de abalar a confiança na região e na moeda única. Não é pouca coisa. A União Europeia é o segundo mercado mundial, muito próximo do primeiro, os Estados Unidos.
A fase aguda da crise grega, que se arrasta há seis meses, parecia ter chegado a impasse. De um lado, os credores exigiam mais austeridade. De outro, os devedores alegavam não ter condições de empobrecer mais. As medidas impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o bloco do euro e o Banco Central Europeu estrangularam as possibilidades de crescimento do país e não acendiam nenhuma luz no fim do túnel. Ouvidos em plebiscito democraticamente convocado, os gregos disseram não a mais arrochos. Os bancos foram fechados para evitar corrida que poderia quebrá-los.
Até o presidente americano se mobilizou a fim de pressionar o prosseguimento das conversações. Barack Obama telefonou para a chanceler alemã e o primeiro-ministro grego. Angela Merkel, a mais dura negociadora, exigia o cumprimento rigoroso das medidas de austeridade para a concessão de nova ajuda a Atenas. Alexis Tsipras, acusado de populista pelos líderes europeus, afirmava não ter condições de impor mais sacrifícios à população. Ele, segundo Obama, precisava ser mais flexível nos acertos e negociar com o parlamento os imperativos dos devedores.
Ontem, depois de 17 horas de debates, os chefes de Estado da zona do euro chegaram a denominador comum. O acordo permite negociar o terceiro pacote de ajuda financeira – de 82 a 86 bilhões de euros. Para a obtenção de nova ajuda, mais arrocho se impõe. Os recursos só podem ser utilizados para investimentos e recapitalização dos bancos. Outras exigências: corte de gastos, aumento de impostos, privatizações, revisão nas aposentadorias.
Vencida a batalha externa, cabe a Tsipras enfrentar a luta doméstica. O parlamento terá de aprovar o acordo. É tal a gravidade da situação que é provável que consiga apoio apesar da rebelião interna que se ensaia. De 2009 a 2015, a economia encolheu 25%. O desemprego explodiu. Nada menos de um quarto da população está com os braços cruzados. Os jovens vivem situação pior. Entre rapazes e moças com até 25 anos de idade, a desocupação excede o percentual de 50%. A dívida ultrapassa 150% do Produto Interno Bruto (PIB).
O desfecho, apesar do avanço de ontem, continua uma incógnita. Especialistas traçam três cenários possíveis. Um: a Grécia cumpre as condições, obtém o empréstimo e continua na zona do euro. Dois: a Grécia se afasta temporariamente da zona do euro, faz os ajustes necessários e retorna posteriormente. Três: a Grécia sai da zona do euro, fato sem precedente no bloco europeu. Ninguém se arriscaria a jogar todas as fichas em uma hipótese. Só o tempo dará a resposta. Seja qual for, será dolorosa.
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