SEGURANÇA PÚBLICA
Catedrais do desperdício
O repórter de tevê indigna-se durante a matéria: “O assalto aconteceu a 300 metros de um posto da PM!”, diz ele, apontando para o “kinder ovo” ali pertinho. O jornalista opta primeiro pelo lugar-comum para depois constatar, nas entrevistas, que há meses a cabine não recebe a visita de policiais e estava trancada com cadeados. […]
O repórter de tevê indigna-se durante a matéria: “O assalto aconteceu a 300 metros de um posto da PM!”, diz ele, apontando para o “kinder ovo” ali pertinho. O jornalista opta primeiro pelo lugar-comum para depois constatar, nas entrevistas, que há meses a cabine não recebe a visita de policiais e estava trancada com cadeados. A reportagem é fictícia, mas casos semelhantes ocorrem todos os dias. O Correio denuncia esse absurdo há anos. Equipamentos públicos que custaram milhões aos contribuintes transformaram-se em monumentos ao desperdício de dinheiro. O projeto de policiamento comunitário agoniza diante dos olhos dos brasilienses e sob o silêncio das autoridades.
Mais de R$ 250 milhões foram gastos na construção de postos para a PM. Cada um custou mais de R$ 100 mil e estão espalhados por todo o DF, nas cidades mais pobres e em áreas nobres, como as Asas Sul e Norte. O então candidato ao GDF José Roberto Arruda apostou nesse programa de policiamento. Como governador, acelerou a implantação do projeto. As inaugurações eram quermesses para políticos e cabos eleitorais. Arruda saiu do Buriti pelas portas dos fundos, e os postinhos caíram em desgraça como estratégia de segurança. Ficou claro que o programa tinha pouco (ou nenhum) apoio da polícia ou de especialistas do setor.
Os governos se sucederam e a situação piorou. Agnelo abandonou os postos. Acossados pela imprensa, algumas autoridades chegaram a anunciar que as cabines seriam usadas como base para atendimento de órgãos do GDF, como o Detran. Mas nada saiu do papel. Eram palavras ao vento, só para ganhar tempo. Este ano, a Polícia Militar confirmou a desativação de 60 postos. Não há efetivo para esse tipo de policiamento. Também faltam recursos para equipamentos.
Admito não ter conhecimento técnico para afirmar se o projeto tinha ou não qualidade, ou se era viável. Mas é triste ver tantos equipamentos subaproveitados e uma estrutura cara sendo destruída pelo tempo e pelo vandalismo. Algumas cabines foram queimadas em incêndios criminosos, outras estão pichadas. É o dinheiro dos impostos desaparecendo diante da população, que pede segurança. Se a escolha do modelo de policiamento foi errada, cabe aos nossos governantes corrigi-la ou adaptá-la. A destruição dos postos comunitários não é apenas o fracasso de uma ideia, mesmo que populista. Toda a sociedade e a democracia saem perdendo.
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