EDITORIAL

A insanidade fundamentalista

Parece delírio de desinformados falar em novidade nas tensões que se sucedem no Oriente Médio. Depois dos infindáveis conflitos entre judeus e palestinos, da guerra no Iraque, da Primavera Árabe, da matança na Síria, o que de pior pode ocorrer na esfacelada região? Ali, nada é tão ruim que não possa piorar. O Estado Islâmico […]

Parece delírio de desinformados falar em novidade nas tensões que se sucedem no Oriente Médio. Depois dos infindáveis conflitos entre judeus e palestinos, da guerra no Iraque, da Primavera Árabe, da matança na Síria, o que de pior pode ocorrer na esfacelada região? Ali, nada é tão ruim que não possa piorar.
O Estado Islâmico (EI), gestado no vácuo de poder decorrente da apressada retirada das tropas americanas da antiga Mesopotâmia, exibe barbárie inédita no mundo contemporâneo. Com competente uso das mídias sociais, divulga, ao vivo e em cores, decapitação, afogamento e incêndio de prisioneiros. Mais: ostenta como troféu vandalismo contra patrimônios arqueológicos da humanidade.
São cenas que causam horror às consciências civilizadas do planeta. Curiosamente, porém, jovens sentem macabra atração pelo trágico espetáculo. Não só rapazes e moças do Oriente Médio e da África, mas também da Europa engrossam as fileiras dos fundamentalistas que há um ano criaram califado em parte do território iraquiano e sírio.
O EI é hoje a maior preocupação dos governantes do Velho Continente. Eles têm consciência de que o perigo mora em casa. Nacionais ou filhos de imigrantes com cidadania europeia abraçam a causa fundamentalista com paixão irresponsável. É inútil erguer muros ou reforçar as fronteiras. Lobos solitários, eles circulam com liberdade nos espaços que pretendem atacar.
Há uma semana, três atentados marcaram com sangue o primeiro aniversário de fundação do EI. Na Tunísia, berço da Primavera Árabe, atirador matou 38 pessoas em Sousse, praia frequentada por estrangeiros. Três meses antes, 23 turistas perderam a vida em ataque a importante museu local. Os alvos denunciam o objetivo do terror: minar a principal fonte de ingresso de recursos de Túnis.
No Kuwait, homem-bomba assassinou 27 fiéis e feriu dezenas de pessoas que rezavam em mesquita do país. Na França, Yassin Salhi decapitou o chefe, exibiu-lhe a cabeça e quase explodiu usina de gás industrial a qual tinha livre trânsito. A Arábia Saudita, guardiã de Meca e Medina, não escapa da sanha bárbara. Em maio, 20 xiitas morreram quando se encontravam na mesquita.
A maior parte dos assassinos são jovens que se sentem excluídos do país em que vivem. De um lado, em razão da pobreza que os priva das conquistas do desenvolvimento. De outro, porque, embora qualificados, não encontram oportunidade no mercado que se afunila com a crise econômica. Com a adesão em massa, eles conseguem repor as perdas decorrentes dos bombardeios contra o território dos jihadistas. Perplexo, o mundo não sabe como contê-los. Pior: teme que estejam perto do acesso às armas químicas, biológicas e radioativas.
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