O vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, considerou hoje (3) que um “não” no referendo grego de domingo não vai reforçar o poder de negociação de Atenas perante os credores e, ao contrário, pode enfraquecer o diálogo. “Seria errado supor que um ‘não’ reforçaria a posição de negociação grega. É o oposto”, declarou, em entrevista ao jornal alemão Die Welt.
Para Dombrovskis, a situação na Grécia está “significativamente pior do que na semana passada”, antes de o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, interromper as negociações e anunciar a realização de um referendo. Ele acredita que a questão do referendo não é fatucal nem juridicamente correta e que “os gregos vão enviar no domingo um sinal político ao resto da Europa”.
Por outro lado, a intervenção ontem (2) do antigo primeiro-ministro conservador Costas Karamanlis, que quebrou um silêncio público de cinco anos, foi o grande destaque dos jornais gregos de hoje que apoiam o “sim” no referendo de domingo.
“Karamanlis: Escolhemos o ‘sim’ por razões nacionais. Vibrante intervenção do antigo primeiro-ministro”, cita a manchete do diário conservador Kathimerini, numa alusão à intervenção do ex-líder da Nova Democracia, afastado do poder em outubro de 2009 pelo Movimento Socialista Pan-Helénico – Pasok, então liderado por George Papandreou, no início da “crise da dívida” que se prolonga até hoje comprometendo a economia da Grécia.
“Nossa posição no núcleo duro da Europa é uma questão de segurança nacional. Não significa saída da União Europeia e aventureirismo”, destaca o periódico de centro-esquerda Ethnos, próximo do Pasok.
Os gregos vão se pronunciar no domingo sobre a última versão de uma proposta de acordo dos credores da Grécia, que prevê uma série de reformas e de medidas orçamentárias em troca da continuação do apoio financeiro ao país.
Ainda na sua primeira página, os resultados de uma pesquisam mostram vantagem de 1,4 ponto percentual do “sim” sobre o “não” (44,8% contra 43,4%) e mostra ainda que para 61% dos entrevistados o voto “Não” a Grécia arrisca sua posição no bloco europeu.
As declarações consideradas chocantes do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, sobre os bancos, quando disse que apenas serão reabertos após um acordo com os parceiros europeus, ou as reações ao discurso do ministro da Defesa, Panos Kammenos, de que “as Forças Armadas asseguram a estabilidade interna”, foram destaque em outros jornais.
O diário de centro-esquerda Ta Nea optou antes pela manchete: “Caos, pobreza e drama – o voto não assusta”, uma tendência manifestada por parte considerável do eleitorado e que o governo de Syriza tenta contrariar a todo o custo.
Assim, o diário de esquerda Efimerida ton Syntakton destaca o “Sim a um governo de tecnocratas” na Grécia, após a entrevista do presidente do parlamento Europeu, Martin Schulz, ao jornal alemão Handelsblatt, onde defendeu o “sim” no referendo, a demissão do governo de Alexis Tsipras e a formação de um Executivo de tecnocratas, que deverá assinar um novo plano de resgate com os credores após eleições.
O Avgi, jornal do partido Syriza, enfatiza os “Compromissos de Tsipras no dia seguinte à votação de domingo”, insiste que não está em jogo a saída do euro e sugere um acordo que forneça uma saída, sem novos planos de resgate, para evitar que a Grécia se torne uma “colônia endividada”. O relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que reconhece a insustentabilidade da dívida grega, abrindo as portas a uma eventual reestruturação, é outro tema destacado pelo jornal.
Já o diário oficial do Partido Comunista Grego (KKE) destaca uma foto do comício na Praça Syntagma, promovida na noite de ontem pelo partido, que ocupa parte considerável da primeira página do Rizospastis. “Governo-FMI-BCE: conflito na frente capitalista aprofunda-se, ataque ao povo intensifica-se”, lê-se na primeira página, numa confirmação da sua atual estratégia política e que passa pelo apelo à abstenção no referendo de domingo. “Empobrecem o povo com a proposta da UE-BCE-FMI e com as propostas do governo”, destaca ainda o diário do Partido Comunista grego.