A resistência das bactérias a antibióticos não discrimina países pobres ou ricos, desenvolvidos ou em desenvolvimento. Democrática, afeta nações dos cinco continentes. Não por acaso foi tema da 66ª reunião da Assembleia Mundial da Saúde, realizada em novembro do ano passado. Três fatores respondem pela criação e expansão do problema.
O primeiro: o uso indevido do remédio — seja por automedicação, seja por erro de dosagem, seja por tempo inadequado. O Brasil deu passo importante na repressão ao consumo arbitrário ao exigir prescrição médica para a compra do produto. A receita atenua o risco.
O segundo: o tempo de tratamento. Muitos, mesmo com orientação profissional, não tomam as doses recomendadas. Ao menor sinal de melhora, interrompem a medicação. Recomeçam o consumo com a volta dos sintomas. O resultado do vaivém é o comprometimento da reação que o organismo deveria apresentar.
O terceiro, mas não menos importante, refere-se à produção. Os antibióticos não atraem os laboratórios. Por serem de uso determinado, não prolongado como os destinados a diabéticos ou hipertensos, o interesse pela pesquisa não acompanha a necessidade do mercado. Bactérias novas ficam à espera de resposta satisfatória.
Trata-se de drama de difícil solução. Conhecem-se o problema e a chave para solucioná-lo. As bactérias se multiplicam rapidamente. Cada geração pode trazer mutações com resistência ao meio ambiente. Combater as superbactérias implica alto investimento — não só na pesquisa de antibióticos mais potentes, mas também na busca de antibacterianos sintéticos. Os recursos são, porém, destinados a outras urgências.
Hospitais de Brasília enfrentam crise que pode se agravar. Três unidades da rede pública registraram casos de pessoas infectadas. Trata-se de pacientes idosos e debilitados, sem imunidade suficiente para reagir à agressão de superbactérias. Até ontem, as estatísticas mostravam quatro óbitos e 21 isolamentos.
Para prevenir tragédia maior, impõe-se medida emergencial: melhorar a higienização das pessoas e do ambiente. Enfermos, acompanhantes e profissionais têm de valorizar a lavagem das mãos, o uso do álcool-gel e de material protetor, como avental, luvas e gorro.
Vale lembrar que médicos, enfermeiros e auxiliares, com mais resistência que as demais pessoas que circulam pelas unidades de saúde, devem redobrar os cuidados. Eles também podem contagiar. Todo cuidado é pouco. Há necessidade de sempre mais.