DIA DOS NAMORADOS
Para fazer um romance dar certo é preciso querer, dizem especialistas
“Poucos relacionamentos vão permanecer felizes para sempre sem nenhum esforço”, comenta o psicólogo Robert Epstein, especializado em relacionamentos
Provavelmente seria preciso o tempo de uma vida inteira em busca da fórmula mágica para o amor fácil e saudável e, ainda assim, não se chegaria a uma resposta. Há quem diga que saber amar passa por processos tão individuais que é impossível definir, de fato, o que seria, afinal, viver esse sentimento de forma plena. Mas há também quem aposte — especialistas, inclusive — na existência de caminhos que, seguidos de coração aberto, podem levar a algo mais próximo da plenitude: sexo e amor não necessariamente andam juntos, mas podem se unir em prol do relacionamento (quase) perfeito.
“Nós, seres humanos, carregamos duas necessidades básicas. A primeira é de sobrevivência: casa, comida, educação, proteção. A segunda é de amar e ser amado”, avalia a psicoterapeuta Nartan Lemos. Sim, aparentemente, amar e ser correspondido é tão essencial para o homem quanto comer ou respirar. Talvez por isso os livros de autoajuda e os profissionais dispostos a indicar a direção para uma vida feliz a dois sejam tantos. Além do fato, claro, de que essa suposta felicidade é quase sempre escorregadia, incerta ou volátil. Na maioria dos casos, dura o tempo de uma paixão arrebatadora.
“Poucos — pouquíssimos — relacionamentos vão permanecer felizes para sempre sem nenhum esforço”, comenta o psicólogo Robert Epstein, especialista em relacionamentos e pesquisador sênior do Instituto Americano de Pesquisa e Tecnologia em Comportamento, nos Estados Unidos. Para fazer um relacionamento dar certo de verdade, portanto, é preciso querer. E correr atrás. Somente assim, diz Epstein, essa conta pode se inverter. “Muitos relacionamentos começam sem grandes problemas e, geralmente, eles não estão fadados ao fracasso. Todos podem ser felizes e durar para sempre se ambos os parceiros estiverem dispostos a fazer o trabalho”, afirma o especialista.
A estrada que leva ao amor nem sempre é fácil, curta ou óbvia. Muitas vezes, é preciso anos de brigas e desgastes para querer encontrá-lo. Ou é necessário que o relacionamento chegue ao pé de um grande abismo — ou se entra de cabeça no compromisso de transformá-lo completamente, ou se admite que é hora de praticar o desapego e partir para a próxima. O atalho é diferente para cada casal, mas em alguns pontos os especialistas concordam: aprender a amar, embora pareça algo tão natural para qualquer criatura viva quanto respirar, pode ser uma ciência complexa para muita gente mergulhada em relacionamentos doentios sobre os quais não conseguem enxergar a saída.
Desvendar a tal ciência, eles dizem, passa por uma série de etapas, quase todas mais voltadas para si do que para o outro. Autoconhecimento, autodescobertas, amor próprio, independência. Isso evita criar expectativas impossíveis de se alcançar, saber exatamente o que procurar em outra pessoa, e, para os inseguros, fugir de relacionamentos baseados na dependência do outro.
Para muitos, a terapia de casal é a resposta. Uns, encontram no tratamento individual a cura para os vícios comportamentais que os afundam em amores tóxicos. Outros buscam nas evidências científicas a chave do amor verdadeiro. Já para outros casais, o tantra pode ser o caminho mais fácil — e prazeroso — para a cura amorosa, espiritual e sexual, passando bem longe da pornografia e dos brinquedos de sex shop. Nesse último caso, a melhora passa pela cura do sexo, pela descoberta do próprio corpo, do corpo do outro, da observação das reações do parceiro aos cheiros, ao toque, ao olhar. No Dia dos Namorados, a Revista fez um passeio pelas diferentes ciências do amor em busca de uma resposta quase impossível de encontrar: amar se aprende?
Prova científica
Um estudo feito com jovens indianos que se casaram com pessoas escolhidas pela família são uma prova científica de que aprender a amar é possível. Em 1982, os psicólogos Usha Gupta e Pushpa Singh, da Universidade do Rajaquistão, fizeram uma pesquisa para definir a qualidade dos relacionamentos arranjados, levando em consideração a longevidade, satisfação e amor. A descoberta foi interessante: enquanto o amor nos casamentos ocidentais tende a diminuir com o tempo, esses casais passaram a se amar mais com o passar dos anos. Usando a escala de amor de Rubin, método que avalia a intensidade das relações desenvolvido pelo psicólogo Zick Rubin em 1970, os pesquisadores descobriram que o sentimento das pessoas acompanhadas no estudo aumentou ao longo do tempo. Em uma década, foi considerado duas vezes mais forte do que no início do casamento.
Em 2009, o pesquisador Mansi Thakar, da Universidade da Califórnia do Sul, e o pesquisador Robert Epstein apresentaram um estudo no Conselho Nacional de Relações Familiares que envolvia 30 indivíduos de nove países e cinco religiões diferentes. O amor deles cresceu, em média, de 3,9 para 8,5 em uma escala de 10 pontos em 19,4 anos.
Os indivíduos pesquisados identificaram 11 fatores que contribuíram para o aumento do amor, entre eles estavam compromisso, boa capacidade de comunicação, compartilhar segredos com o parceiro e mostrar e perceber a vulnerabilidade. Segundo essa pesquisa, ter filhos também aumenta os sentimentos pelo companheiro.
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