EDITORIAL
Fé, vida e meio ambiente
O agravamento da crise ambiental, que coloca sob profundo risco a vida no planeta, foi tema, pela primeira vez, de encíclica papal — Laudato si (Louvado seja). O sumo pontífice Francisco conseguiu conciliar fé e ciência para advertir as nações sobre a responsabilidade coletiva e individual em relação ao futuro da Terra. Não importam a […]
O agravamento da crise ambiental, que coloca sob profundo risco a vida no planeta, foi tema, pela primeira vez, de encíclica papal — Laudato si (Louvado seja). O sumo pontífice Francisco conseguiu conciliar fé e ciência para advertir as nações sobre a responsabilidade coletiva e individual em relação ao futuro da Terra. Não importam a etnia, a condição socioeconômica, a cultura, a origem, os interesses específicos quando a perpetuação de todas as espécies está em jogo.
As descobertas científicas são insuficientes para reverter o curso da degradação. Ou mudamos a relação com a pátria comum da humanidade ou seremos tragados pela irresponsabilidade no trato com o patrimônio ambiental. O papa chama a atenção para a necessidade de revisão do comportamento dos homens e dos líderes das nações com a natureza e os recursos por ela oferecidos.
A resistência dos chefes de Estado em repensar o modelo de produção tem postergado acordo efetivo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Cada um, a seu modo, impõe condições em defesa de objetivos muito particulares, quando deveriam ter preocupação e dedicar energia para as questões globais, que, indistintamente, afetam a todos. A maioria dos modelos econômicos vigentes, com base no consumo desenfreado, se mostraram incompatíveis com o equilíbrio ambiental. Revelaram-se insustentáveis.
Os excessos comprometem as relações humanas e a existência. O planeta dá sinais de exaustão. Entre as muitas advertências, merecem especial atenção as recorrentes tragédias climáticas — furacões, tsunamis, enchentes, secas, — e a perda contínua de fontes de água potável. Os povos dos países menos desenvolvidos pagam preço altíssimo frente às desigualdades, que expandem fome e miséria, resultado, em boa parte, da agressão humana ao meio ambiente.
No texto, o papa Francisco faz menção à Amazônia. Em 16 anos (de 1997 a 2013), o desmatamento suprimiu 248 mil km² de floresta, área equivalente ao estado de São Paulo, de acordo com balanço divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Mata Atlântica já perdeu 85% da vegetação. Ambos são biomas com espécies endêmicas, que muito podem contribuir com princípios ativos importantes para a saúde humana. No entanto, são extirpados pela ação irracional do homens, ávidos em acumular fortuna. Falta cuidado e sobra despreocupação com a atual e as futuras gerações.
A carta do papa Francisco não é direcionada apenas aos católicos. É alerta máximo aos indivíduos de todas as nações, e bem pode ser comparada a pedido desesperado de socorro da mãe Terra. Trata-se de versão ampliada do ensinamento de velho líder indígena da Amazônia, chancelado pela autoridade e força política do líder máximo do catolicismo: “Quando não mais houver matas nem rios, o dinheiro não alimentará os homens”. A vida terá se extinguido.
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