As denúncias do presidente e acionista da UTC Engenharia, Ricardo Ribeiro Pessoa, provocaram reação imediata nesta noite de sexta-feira (26/6). A presidente Dilma Rousseff, cuja campanha é citada como alvo de pagamentos irregulares, convocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto. Ao todo, foram R$ 62 milhões em pagamentos cuja origem era dinheiro desviado da Petrobras.
Só para o caixa 2 do PT, foram R$ 3,6 milhões. Pessoa firmou que pagou o valor para o partido entre 2010 e 2014. Os valores foram pagos aos então tesoureiros José de Filipi Júnior e João Vaccari Neto, presos na Operação Lava-Jato. Ele fez delação premiada em que apresentou documentos, planilhas e agenda pessoal não apreendida pela Polícia Federal para comprovar pagamentos ilegais a campanhas de 18 políticos, como Dilma e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Collor (PTB-AL), o senador Ciro Nongueira (PP-PI) e o ex-senador Gim Argello (PTB-DF).
Em delação premiada prestada a procuradores da Procuradoria Geral da República (PGR), Pessoa trouxe informações novas sobre a investigação que apura esquema de desvio de dinheiro na Petrobras, que foi vítima de um cartel de empreiteiras que combinava licitações, superfaturava obras e repassava propinas a políticos e funcionários da estatal. A delação foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque o empreiteiro fez acusações contra políticos com foro privilegiado, como ministros, deputados e senadores.
Segundo o Correio apurou com fontes com acesso à investigação, Pessoa prestou 27 depoimentos durante uma semana. Além das afirmações, apresentou documentos. Um deles é uma agenda pessoal, que não foi apreendida pela Polícia Federal. Os depoimentos foram tomados em Brasília, mas para evitar chamar a atenção, as oitivas não aconteciam na Procuradoria Geral da República, mas no Ministério Público Militar, de acordo com essa fonte. A quantidade de detalhes que trouxe chegou a atrapalhar o andamento da negociação do acordo.
De acordo com a a revista Veja, os pagamentos para 18 figuras políticas tinham origem nos contratos da empreiteira com a Petrobras. Lista divulgada pela publicação elenca a distribuição de R$ 62,75 milhões para políticos. O ex-presidente Collor foi quem mais recebeu dinheiro de contratos com da UTC com a petroleira: R$ 20 milhões. Em segundo lugar, ficou João Vaccari, que comandou as finanças do PT até ser preso na Lava-Jato: R$ 15 milhões.
A campanha de Dilma de 2014 recebeu R$ 7,5 milhões. A de Gim, R$ 5 milhões. Condenado no mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu ficou com R$ 3,4 milhões. O prefeito de São Paulo, R$ 2,6 milhões, pouco mais que os R$ 2,4 milhões da campanha de Lula em 2006. O ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante, R$ 250 mil.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, os pagamentos feitos pela UTC Engenharia ao PT sob forma de caixa dois incluíram repasses em 2010, 2011, 2012 e 2014 nas mãos de Filippi, totalizando R$ 750 mil. Para Vaccari, foram R$ 2,9 milhões divididos em parcelas em 2011, 2012 e 2013.
Negativa
Procurado, o PT não se manifestou até a publicação deste texto. Mas o ministro Aloízio Mercadante negou ter recebido doações irregulares da UTC Engenharia. “A empresa UTC, por ocasião da campanha ao governo do Estado de São Paulo, em 2010, fez uma única contribuição, devidamente contabilizada e declarada à Justiça Eleitoral, no valor de R$ 250 mil reais, conforme demonstrado em minha prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral”, afirmou o ministro ontem, por meio de uma nota distribuída à imprensa. A doação foi feita em 27 de agosto de 2010.
A Constram, empresa do grupo da UCT, fez ainda outra doação, de mais R$ 250 mil, em 29 de julho de 2010. O ministro destacou que esse valor também foi informado à Justiça Eleitoral. “Desconheço o teor da delação premiada do senhor Ricardo Pessoa”, afirmou Mercadante.