Na madrugada de ontem, o Brasil perdeu o cantor e compositor sertanejo Cristiano Araújo, 29 anos, em acidente automobilístico. Na altura do Km 613 da BR-153, entre os municípios goianos de Goiatuba e Morrinhos, o carro do artista capotou. Ele e a namorada (19 anos), que ocupavam o banco traseiro, foram encontrados fora do veículo em estado gravíssimo. Ambos não resistiram aos ferimentos. Avaliação preliminar da Polícia Rodoviária Federal é de que o casal não usava cinto de segurança. O motorista e o passageiro da frente, protegidos pelo equipamento, tiveram escoriações leves.
A tragédia que consternou os fãs do músico e o meio artístico, sem contar com a inimaginável dor dos familiares e amigos, é mais um alerta para a necessidade do uso do cinto de segurança por todos os passageiros. Diferentemente do que se pode supor, quem viaja no banco de trás não está protegido em caso de capotagem ou colisão. Ao contrário. Sem o equipamento, a pessoa corre risco de ser lançada para fora do veículo, ter lesões graves e ser jogada contra os demais passageiros, enfim, morrer ou provocar a morte de alguém.
Testes revelam que, numa velocidade de 64km/h, as desacelerações de um veículo lançado contra barreira deformável podeM multiplicar em até 40 vezes a massa de qualquer objeto no interior do carro. Assim, uma pessoa que pesa 75km poderá atingir o ocupante da frente com impacto de 3 toneladas, segundo o Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi Brasil).
Com a edição do Código Brasileiro de Trânsito, em 1997, o uso do cinto de segurança passou a ser obrigatório. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) vem agindo com mais rigor na cobrança pelo uso do cinto. Em 2013, aplicou 69.767 multas por passageiro sem a proteção. Em 2014, o número caiu para 57.554, e, neste ano, até agora, foram 38.321 punições. No DF, foram aplicadas 313 sanções, no ano passado, e 136 em 2015.
Por dia, mais de 100 pessoas morrem vítimas de acidentes de trânsito no país. Ou seja, é Boeing que cai diariamente. Como as tragédias são pulverizadas, há baixa sensibilidade para os dramas ocorridos nas vias. A consternação se expressa quando a tragédia afeta celebridades ou grupos de pessoas em um único sinistro. No Brasil, prevalece a cultura da negação da violência. Assim, as campanhas educativas são menos agressivas do que em países mais desenvolvidos.
Na Austrália, Inglaterra e França, as peças são mais realistas e impactantes, o que leva condutor e passageiro a refletir com mais seriedade sobre o comportamento adequado no trânsito. No Brasil, a falta de recursos também soma para reduzir as inserções educativas na mídia.
Diante do elevado número de vítimas, é hora de o poder público repensar a forma de dialogar com a sociedade. As perdas são expressivas, incompatíveis com tons amenos para advertir condutores e passageiros. Educar para o trânsito significa reduzir gastos com a saúde, com a invalidez temporária ou permanente dos cidadãos. Antes de tudo, é privilegiar a vida. Por sua vez, as pessoas não podem ser indiferentes aos alertas e colocar na conta do Estado as tragédias que se multiplicam nas estradas. A responsabilidade pela mudança tem de ser compartilhada entre sociedade e governos.