A batalha contra a inflação acontece todos os dias, nos supermercados, dentro de casa, nos shoppings, nas ruas. Do jeito que é possível, as maiores responsáveis pelo orçamento da casa se esforçam para fugir da crise. Independentemente de suas profissões, elas são verdadeiras administradoras financeiras. Não se desanimam ao notar as remarcações que levaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) chegar na sexta-feira a 8,8%, a maior taxa acumulada em 12 meses desde dezembro de 2003. Aprendem, mesmo que seja na marra, a fazer tudo caber na renda cadente das famílias.
No supermercado, elas têm deixado produtos nas prateleiras, trocado marcas e buscado promoções. A dona de casa Evanice Machado, de 36 anos, se considera uma campeã de economia na hora das compras. O tomate, por exemplo, que teve uma das maiores altas nos últimos meses, ainda vai para o carrinho, porém em menor quantidade. “Quando levo leite, por exemplo, eu nem olho a marca, só o preço. Se um produto fica mais caro, procuro alternativas mais baratas”, conta. Os aumentos de custo dos alimentos também não passam despercebidos para a psicóloga Elizabeth Pereira, 55. Ela fica de olho nas promoções, evitando apertar muito o orçamento. A carne bovina, cujo preço ela considera ter “aumentado absurdamente” desde o ano passado, é trocada por opções mais baratas, como frango ou peixe. “Depende da promoção do dia”, explica. Outra maneira de economizar é flexibilizar a escolha dos produtos. “A marca não importa muito. Existem produtos muito bons e mais baratos que não são aqueles mais conhecidos. Não custa experimentar”, acredita.
A consultora financeira Gabriela Vale, da Libratta Finanças Pessoais, concorda que se desapegar das marcas pode ajudar a economizar. Mas ressalva que nem sempre isso é necessário. “Se uma pessoa tem preferência por uma marca mais cara, não precisa abrir mão disso, desde que compense buscando opções mais baratas de outros itens”, explica.
Para Gabriela, o que realmente funciona no supermercado é abandonar as compras de mês e focar em pequenas compras semanais. “Estoques são uma péssima ideia, porque estimulam o consumo. Por exemplo, quando alguém tem muito detergente na despensa, não se importa de gastar mais na hora de lavar louça. Quando tem só o essencial, rende muito mais”, exemplifica, deixando claro que isso serve para qualquer produto. Outro ponto negativo dos estoques é que eles estimulam a inflação. “Os donos de supermercado percebem que os clientes estão comprando muito detergente, então aumentam o preço. É a lei da oferta e da demanda.”