Ainda em meio à onda mundial de aplausos à decisão da Suprema Corte que derrubou os últimos obstáculos no país ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, os Estados Unidos assistem aos primeiros passos de um movimento de resistência à aplicação da jurisprudência em âmbito federal. Enquanto organizações da mídia, empresas e internautas de todos os continentes comemoravam a mudança, setores conservadores da sociedade americana questionavam o veredito da instância judicial máxima e tentavam atrasar ou bloquear os efeitos da decisão, com base em diferentes interpretações da Constituição do país e até mesmo em trechos da Bíblia.
A decisão controversa foi resultado de votação apertada, com cinco votos a favor e quatro contra. Em seu voto vencido, o juiz da Suprema Corte Antonin Scalia afirmou que a legalização do casamento homossexual é “um golpe judicial” e equivale à “imposição de valores” por parte de uma “maioria elitista de juízes” sobre 320 milhões de americanos. Segundo Scalia, os cinco votos que tornaram universal o direito ao casamento em todo o país, independentemente de sexo, contrariam “uma visão que, até 15 anos atrás, era unânime entre todas as gerações de todas as sociedades”. O presidente da Suprema Corte, John Roberts, acredita que o ato jurídico, que se sobrepõe a leis contra a união gay aprovadas em 14 estados, “tira o poder das mãos do povo”. “O clero de togas pretas se pronunciou. Será que a Igreja se curvará perante os novos mestres?”, escreveu Roberts na sua manifestação contra a federalização do reconhecimento do casamento gay.
Desde o anúncio da decisão, na sexta-feira, casais do mesmo sexo se apressaram a oficializar a união em 13 dos 14 estados onde antes estavam impedidos de se casar. A exceção foi Louisiana, onde o procurador-geral James D. Caldwell contestou a decisão da Suprema Corte nacional e entravou os pedidos de casamento homoafetivos. Em comunicado, Caldwell afirmou que ainda não há obrigação legal para que as autoridades emitam certidão para casais do mesmo sexo naquele estado. O procurador considera a decisão uma “intromissão do governo federal no que deveria ser uma questão estadual”. O governador Bobby Jindal também criticou os juízes da principal instância do Judiciário nos EUA.