EDITORIAL
Violência desafiadora
A violência tomou proporções que assustam e deixam autoridades da área de segurança atordoadas. As ferramentas de que elas dispõem não lhes dão condições de combater a criminalidade com eficácia. Assaltos à luz do dia pipocam Brasil afora, e o roubo de cargas, praticado por quadrilhas muito bem armadas e a mando do crime organizado, […]
A violência tomou proporções que assustam e deixam autoridades da área de segurança atordoadas. As ferramentas de que elas dispõem não lhes dão condições de combater a criminalidade com eficácia. Assaltos à luz do dia pipocam Brasil afora, e o roubo de cargas, praticado por quadrilhas muito bem armadas e a mando do crime organizado, deixam atônitos os governantes. A pesquisa Retratos da sociedade brasileira: segurança pública, feita pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra dados que impressionam.
Eis alguns: 9% dos entrevistados foram furtados, assaltados ou agredidos em um ano; 19% sabem de parentes que foram vítimas de um desses crimes e 2% relataram agressões tanto contra si quanto contra um familiar. Cerca de 30% da população sofreu diretamente com a violência entre março de 2014 e março deste ano. Uma das consequências da realidade brutal é que 80% dos brasileiros mudaram algum hábito por causa da criminalidade.
Os crimes contra as pessoas ou o patrimônio, porém, não se concentram em cidades tidas como centralizadoras de riquezas, como Rio de Janeiro e São Paulo. As maiores incidências estão nas regiões Norte / Centro-Oeste e Nordeste, onde, respectivamente, 43% e 33% dos ouvidos relataram terem sofrido eles próprios ou um parente furto, assalto ou agressão no período considerado.
O percentual também é alto entre os residentes nas capitais, com 42%, e, nas cidades com mais de 100 mil habitantes, com 38%. A violência restringe o ir e vir da população, pois 54% dos consultados evitam sair à noite, 48% deixaram de andar por alguns bairros ou ruas, 36% mudaram o trajeto entre a residência e o trabalho ou a escola.
O combate ao tráfico de drogas e de armas é prioridade para a segurança pública na opinião de 58% dos entrevistados. A maioria defende punições duras contra crimes mais violentos, como sequestro, estupro, assaltos seguidos de morte. Mas, para que as sugestões se transformem em realidade, impõe-se o cerco aos criminosos nas fronteiras, portos e aeroportos.
Só de fronteiras terrestres, o Brasil tem 16.886 quilômetros, além de 7.367 quilômetros de marítimas. Por elas chegam contrabandeadas armas potentes e grandes carregamentos de cocaína, maconha, LSD, ecstasy. A maioria ouvida pelo Ibope quer as Forças Armadas participando mais efetivamente da empreitada para auxiliar a Polícia Federal, que, segundo afirmam, precisa de mais dinheiro e estrutura para combater, com inteligência, o crime de origem internacional.
A segurança pública figura em segundo lugar na lista dos 23 maiores problemas que o Brasil enfrenta, perdendo apenas para a saúde. Mais da metade dos brasileiros (51%) considera a situação ruim ou péssima e 36%, regular. Ideias há muitas para mudar o cenário. Em alguns estados, especialistas em criminalidade anunciam estudos para melhorar a performance do poder público nessa guerra, na prática, desigual. Mas, enquanto medidas eficazes não ocorrem, o cidadão de bem permanece acuado, entregue à própria sorte.
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