A entrada na universidade é um marco importantíssimo na vida dos jovens e suas famílias, e representa o início de nova fase, com esperada evolução nos âmbitos pessoal e profissional. No Brasil, os chamados calouros entram na faculdade aos 18 anos, segundo o Censo da Educação Superior 2012, do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação. Em um cenário repleto de mudanças, curiosidades e expectativas, ao se deparar com novos desafios, o aluno tende a procurar ser socialmente aceito e viver intensamente as ocasiões para aproveitar essa fase tão promissora. É o início, portanto, de possível risco para uma trajetória de abuso de álcool e suas consequências.
Não são raras as festas universitárias nas quais o consumo de bebidas alcoólicas em altas quantidades atinge alguns alunos, felizmente uma minoria. O contexto em que se encontram — expostos às chamadas pressões de grupo — contribui para agravar a situação. Trata-se de importante fator de risco, em que o próprio comportamento do grupo é capaz de influenciar o jovem, ou seja, após as primeiras doses, se o coletivo continua bebendo, ele tenderá a fazer o mesmo, perdendo a capacidade de controle e apreciação do momento.
Nas confraternizações e comemorações, alguns jovens beberão até ficar embriagados. E, assim, tornam a beber de forma exagerada, acreditando que tal hábito simplesmente faz parte da experiência universitária, em um contexto de alegria, bons relacionamentos e êxitos. Mesmo quando sofrem prejuízos decorrentes do beber excessivo, como a frequente ressaca, ou dão PT (de perda total, quando passam mal e desmaiam), alguns acham legal ou até divertido. Somente quando acontece uma consequência trágica, como a perda de um colega ou casos de violência sexual associados ao uso de álcool, surgem a reflexão e a crítica sobre o comportamento.
Diante do ambiente onde o excesso pode ser a norma, é preciso limites. Não adianta esperar que a mudança venha somente a partir dos alunos. Essa é responsabilidade que deve ser compartilhada entre toda a sociedade. O ponto de partida desse desafio é o maior controle sobre as festas que são organizadas. Esse é um papel que precisamos exercer, orientando e supervisionando e, principalmente, dando o exemplo.
As consequências do consumo excessivo de álcool abrangem desde queda no desempenho acadêmico, perda de vivências sociais e cognitivas apropriadas, relações sexuais sem proteção ou ainda indesejadas, até a morte, seja por acidentes, lesões ou mesmo coma alcoólico — grau tão severo de intoxicação que afeta de forma fatal o funcionamento de todo o corpo e do cérebro. Especialmente entre os jovens, há um problema frequente e associado a repercussões graves: o beber pesado episódico (consumo de grande quantidade de álcool em pouco tempo). Dados do I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras revelam que 25% dos estudantes relataram tal padrão em pelo menos uma ocasião no mês anterior à entrevista, ou seja, um em cada quatro estudantes está frequentemente exposto a comportamentos de risco e outros prejuízos.
Alerto ainda que a coleta de dados científicos é ferramenta de extrema relevância para que novas pesquisas e intervenções sejam elaboradas. Segundo dados do DataSUS, do Ministério da Saúde, 242 mortes foram atreladas ao diagnóstico de transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool para a faixa etária de 20 a 29 anos em 2012. Se verificarmos a divisão de tais óbitos pelo número de horas em um ano, teríamos o equivalente a 1 morte a cada 36 horas, matematicamente falando. Por outro lado, o total de 56.536 mortes contabilizadas para esta faixa seria o mesmo que, aproximadamente, 0,4% associadas ao álcool.
Muitos leitores certamente passaram por experiências positivas com o uso de álcool na faculdade. De fato, o consumo social, moderado, de bebidas alcoólicas pode, sim, fazer parte da vida de adultos, mas reafirmo a importância de lutarmos contra o uso de álcool por menores de idade e o uso excessivo em geral. Precisamos ser intolerantes com notícias como a recente morte do estudante em Bauru, combater as ocasiões permissivas para tal nível de embriaguez como as festas open bar, ensinar os adolescentes a enfrentar os estresses da vida de forma saudável. A morte de um universitário é a morte do futuro. É o contrassenso do que precisamos buscar se quisermos um país com cidadãos plenos e produtivos, e com saúde.