A população do Centro-Oeste foi a que mais se endividou em 2015. Segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o número de consumidores inadimplentes na região aumentou 3,98% durante os primeiros quatro meses do ano, resultado maior que a média nacional, de 3,39%. Apenas no mês passado, 95 mil pessoas foram incluídas em listas de negativados. De acordo com o levantamento, 40,9% dos habitantes da área que compreende o Distrito Federal e os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul possuem pendências com credores.
Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, explicou que o crescimento do número de inadimplentes ocorre em todas as regiões. No quadrimestre, o Sul teve alta de 3,19%; o Nordeste, de 3,07%; o Norte, de 2,81%; e o Sudeste, de 2,66%. “Mês após mês, as regiões vão se revezando no primeiro lugar. Ultimamente, o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste têm liderado porque a população só agora está aprendendo a lidar com a bancarização mais forte.”
Para Marcela, a alta dos índices de endividamento é um efeito negativo colateral do desenvolvimento econômico. “As localidades fora dos grandes centros cresceram bastante nos últimos anos, após estímulos do governo. E a inadimplência também chega, infelizmente. A maior quantidade de devedores está no Sudeste, onde 21,8 milhões de brasileiros estão com o nome sujo. Proporcionalmente, todavia, a população do Norte é a que se encontra mais comprometida: 45,2% dos habitantes da região têm contas em atraso. Em todo o país, as dívidas são concentradas em bancos e no comércio.
Bola de neve
A auxiliar de limpeza Eliane Fernandes, 28 anos, ficou com o nome sujo ao perder o controle dos gastos com o cartão de crédito. “Fui comprando coisas supérfluas e, quando percebi, não conseguia mais pagar”, contou. A dívida, que começou há quase um ano, passou de cerca de R$ 300 para R$ 1,2 mil. Para quem recebe salário mínimo, como ela, é um valor impossível de ser quitado de uma só vez. Enquanto junta o dinheiro para honrar o compromisso, a pendência só cresce. “Eu só consigo pagar o valor mínimo, mas os juros vão acumulando e vira uma bola de neve”, disse ela, que pretende renegociar a quantia com o banco.
Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest, recomenda a quem se encontra na mesma situação Eliane, que faça um mapeamento da dívida antes de tomar uma decisão: “Crie uma lista com o nome do credor; a quantia devida; qual o prazo e os juros praticados. A partir disso, faça um orçamento mínimo, com gastos que não dá para deixar de pagar, como luz, água, escolas. Depois, veja o que pode ser vendido para ajudar, como aquela bicicleta que está parada na garagem”, exemplificou. Após colocar as contas na ponta do lápis, o consumidor está liberado para a negociação com os credores, segundo Calil. “Negocie da dívida mais cara para a mais barata — mais cara é a com maiores juros. Tente um acordo com o credor e honre o que prometeu. Não deixe de pagar nenhuma, mas quite uma de cada vez.”