“O pior sofrimento para uma mãe é um filho não te reconhecer mais.” Com esse sentimento, Suely de Sousa Carvalho, 53 anos, luta, desde 2013, para conseguir uma internação compulsória para o filho Romildo Bento Carvalho da Silva, 29. A última vez que esteve com ele foi em 1º de abril deste ano, quando o encontrou no Buraco do Rato, cracolândia localizada no Setor Comercial Sul. “Meu filho é muito bonito. Não é porque eu sou mãe, não, mas ele é muito bonito. Só que, nesse dia, ele estava sujo, barbudo e com a boca toda queimada (pelo crack). Estava em tal estado de alucinação que não me reconheceu”. A história de Suely é a mesma de tantas outras mães que travam uma batalha diária para manter os filhos em segurança e longe das drogas. O Correio conta a rotina e as atitudes extremadas de algumas delas nas edições de hoje e de amanhã.
O drama delas começou há pelo menos uma década. E estatísticas recentes divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública, no primeiro trimestre deste ano, mostram que houve aumento de 34,5% nos registros de tráfico, e de 81,5% nas ocorrências de uso e porte de drogas.
Foi nesse mundo que o filho de Suely entrou, ainda na adolescência, com maconha e crack. Desde 2013, está cada dia pior. Este ano, ele chegou a ser preso porque ficou nu na rodoviária do Plano Piloto durante a madrugada. Suely tem quatro filhos e, como o pai das crianças teve problemas com álcool, ela sempre foi a chefe de família. Para sustentar e educar os filhos, revende cobre de eletrônicos velhos. Um dos filhos tem autismo e também demanda atenção especial. “Cheguei a começar um curso de enfermagem, mas era difícil conciliar filhos, família e casa. Eu sempre estive sozinha”.
Romildo foi internado no Hospital Regional do Guará em 2013, mas fugiu. Lá, chegou a beber o álcool usado para esterilização. “Eu quero que ele volte para a clínica para se desintoxicar, nem que seja um pouco. Não sei mais em que porta bater, ele está morrendo aos poucos, um suicídio lento”, afirma Suely. “Minha preocupação é que nessa alucinação, ele faça mal a alguém”. Mesmo que especialistas reforcem que nem todos os casos são de internação compulsória, Suely acredita que é a melhor solução para o filho. Ela tem decisão judicial favorável ao tratamento em clínica. Desde então, quase toda semana, Suely deixa Santo Antônio do Descoberto (GO), onde vive, rumo ao centro de Brasília, para tentar falar com juízes, defensores e profissionais dos Centro de Atenção Psicossocial da Secretaria de Saúde. “Até agora, o que eu fiz foi juntar papel. E não estou conseguindo cuidar do bem mais precioso, que é a vida do meu filho”.
Desespero
Maria das Dores de Oliveira, 59 anos, carrega no nome um pouco do fardo que tem sido a sua vida. Prefere ser chamada de Dorinha pelos amigos do Núcleo Bandeirante. Deitada em um colchão sem lençol, em cima de uma estrutura metálica, cheia de caixas e jornais antigos, Dorinha descansa à tarde. Ela não tem casa. Mora no trailer onde vende balas, água de coco e cigarro. O equipamento está estacionado em uma área irregular há mais de 25 anos. Ao lado do quiosque, ela plantou árvores e cultiva flores. O maior sonho é ter um pedaço de terra para ficar tranquila no silêncio do mato. Por enquanto, a realidade é maior, e ela precisa de cuidar do amor que tem pelo filho Marlisson Davi Oliveira, 29. Isso faz com que ela queira protegê-lo e mantê-lo por perto. Por isso, Dorinha chegou à desesperada atitude de acorrentá-lo no apartamento de um amigo. A atitude levou Dorinha para a cadeia, acusada de cárcere privado. Com o fim do processo, ela pode pegar de 2 a 5 anos de prisão.