EDITORIAL
Calote na educação
O Brasil vive tempos esdrúxulos. Más notícias se sucedem sem intervalos desde que acabou a eleição do ano passado. Não há índice animador. Saúde, educação, segurança, emprego, inflação andam para trás. Como em tsunami incontrolável, as ondas parecem empurrar para irremediável retrocesso as conquistas amealhadas nas últimas décadas. Entre tantos infortúnios, o mais trágico atinge […]
O Brasil vive tempos esdrúxulos. Más notícias se sucedem sem intervalos desde que acabou a eleição do ano passado. Não há índice animador. Saúde, educação, segurança, emprego, inflação andam para trás. Como em tsunami incontrolável, as ondas parecem empurrar para irremediável retrocesso as conquistas amealhadas nas últimas décadas.
Entre tantos infortúnios, o mais trágico atinge a educação. O cenário não poderia ser mais sombrio. Além dos problemas crônicos — currículo desatualizado, mão de obra precária, má qualidade do ensino, material didático indigente, aprendizagem insatisfatória, evasão crescente —, novas desditas atingem o setor.
Duas ocuparam o noticiário da semana. Ambas golpeiam projetos que pareciam dar alguma resposta aos gargalos e desafios do ensino superior. Em razão do corte horizontal nos recursos do Orçamento promovido pelo Palácio do Planalto, dois programas sofreram pesado golpe. Bolsistas no Brasil e no exterior viram escorrer pelo ralo investimento de tempo e dinheiro.
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) deixou no caminho 180 mil estudantes. Eles não conseguiram concluir o cadastro no site do MEC, apesar de insistentes tentativas. Liminar concedida pela Justiça de Mato Grosso mandou ampliar o prazo, mas o Tribunal Regional Federal derrubou a obrigatoriedade de prorrogação.
Criado como remédio para vencer o provincianismo da universidade brasileira, o Ciência sem Fronteiras (CsF) impõe aos estudantes situação constrangedora. O atraso nos repasses, além de comprometer a aprendizagem, lhes dificulta a satisfação de necessidades básicas. Muitos não têm dinheiro sequer para se alimentar e locomover.
A situação constrangedora ultrapassou os limites particulares. O Institute of International Education (IIE), que intermedeia o repasse de verbas do programa nos Estados Unidos, encaminhou carta aos jovens em apuros. Sugeriu-lhes que lançassem mão do “jeitinho brasileiro” para responder ao problema. Diante da reação, pediu que desconsiderassem o conselho.
Na Pátria Educadora, slogan lançado no discurso de posse do segundo mandato de Dilma Rousseff, as palavras não conversam com os atos. A polícia solta cachorros contra manifestação de professores. Docentes estão paralisados em cinco estados. Alunos depredam escolas. Universidades públicas suspendem as aulas por falta de condições de trabalho. Sem conciliar palavras e ação, em vez de educadora, a pátria é madrasta.
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