Joseph Blater se encontrou com Benjamin Netanyahu em Jerusalém. Na bagagem, levou a proposta de promover amistoso pra lá de bem-vindo. De um lado, a seleção israelense. De outro, a da palestina. O palco da partida será a neutra Zurique. Para o sim, o premiê impôs uma condição: a Federação Palestina de Futebol deve retirar a ação que move na Fifa contra Israel.
O xis da questão: os atletas, como a população em geral, precisam de passaporte para circular no próprio país. Há checkpoints mantidos por Telavive que dificultam o ir e vir entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Muitos são presos. Jogadores quase nunca conseguem treinar. Os árabes acusam os judeus de racismo. Exigem, por isso, a expulsão dos vizinhos da entidade.
Blater diz que a Fifa quer dar uma chance para a paz. O papa quer seguir roteiro semelhante. Pais e mães dos dois lados sonham o mesmo sonho. Querem que os filhos saiam sem risco e voltem pra casa sãos e salvos. Por que não? Kurt e Katy construíram uma teoria sobre a estrutura da violência. Identificaram uma série de atitudes que a caracterizam. Chamaram-na síndrome do inimigo — enfermidade social com sintomas persistentes.
Um deles: desconfiar radicalmente do inimigo. Ele é mau, traiçoeiro ou fraudulento. Outro: culpá-lo por tudo de ruim que acontece. Outro ainda: interpretar negativamente os atos dele. Se vem do lado de lá, só pode ser coisa do diabo. O mais importante: negar-lhe individualidade. Não o ver como gente de carne e osso que tem pai, mãe, irmão, filhos. Ele é rechaçado como grupo. Judeus matam palestinos. Não Yousseff, Salim ou Said. Palestinos matam judeus. Não Davi, Salomão ou Sherman.
A partida em Zurique pode dar rosto ao inimigo. Ao se olharem nos olhos, judeus e palestinos se tornam menos inimigos. Abrem brechas para o conhecimento. Conduzem à aproximação com o ambiente, a história, os motivos do outro. No Oriente Médio, olhinhos curiosos verão o amistoso. Ops! O jogo planta sementinha na alma maltratada: o vizinho serve para algo mais do que alvo de bala.