EMPATIA

Dia dos Solteiros: sem pressão!

Psicólogos ouvidos por O IMPARCIAL atendem com frequência pessoas angustiadas por não terem um par. No Dia dos Solteiros, saiba por que o autocuidado e a empatia são as melhores companhias nessa fase

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Se o dia 12 de junho é celebrado pelos apaixonados, os solteiros também têm uma data especial para comemorar: o dia 15 de agosto.

Inclusive — assim como o Dia dos Namorados —, o Dia dos Solteiros também é considerado uma data comercial, instituída pela empresa AliExpress no ano de 2019. O intuito é celebrar os sentidos mais positivos da condição de solteiro: encorajando-se ao apreço à liberdade, longe da pressão social ou emocional para se encontrar um par.

Tal pressão de quem as cerca é um dos principais fatores pelos quais pessoas costumam sofrer por estarem solteiras. Nesta fase, é vital que quem a vive esteja mentalmente blindado e seguro – cercado de empatia e compreensão.

Solteira há um ano, a professora I. C. recorreu à terapia após o término.

“Consegui entender que é bom estar com alguém, mas que não é o fim do mundo estar sem. Senti falta de alguém por perto, em especial quando saía com amigos vivendo relacionamentos”, lembra a entrevistada.

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Ouvidos por O IMPARCIAL, profissionais da saúde mental explicam os motivos que deixam uma pessoa angustiada por estar solteira.

“A sociedade, muitas vezes, vê o relacionamento como sinal de sucesso e felicidade”, diz a psicóloga e especialista em psicopatologia, Aline Canhe. “Quem está namorando, casado ou tem filhos está perfeito e conseguiu, subiu ao patamar mais alto. As pessoas acabam se comparando”.

A psicoterapeuta alerta para a pressão familiar em torno de uma pessoa solteira. 

“Esta forma pode ser ainda mais pesada, em especial quando há expectativa. Se a família depositar nessa pessoa, a cobrança pode gerar ansiedade e diminuir a autoestima. E, em casos mais graves, contribui com problemas como depressão e ansiedade”, conclui.

Sexólogo e psicólogo, o especialista Jefther Felipe observa que a pressão familiar pode ser mais difícil de lidar por “vim de pessoas mais próximas, queridas. Insinuações sobre a necessidade de se ‘encontrar alguém’ ou ‘não ficar para trás’ podem agravar o sofrimento, criando um ambiente de julgamento”.

Enquanto I.C. não teve essa experiência, M. A. — jornalista e cursando Direito — vê sua solteirice incomodar gerações anteriores.

“Já tenho 29 anos, fico submetido a comparações com as idades em que meus pais e tios constituíram família. Às vezes, há comparação até com os primos da mesma idade. É uma cobrança resumida a matrimônio e, sucessivamente, em filhos”, expõe M. A.

Já para I.C., ser solteira ainda implica enfrentar barras sociais por outro fator: ser mulher. Ela relata que amigas já sofreram com o machismo por suas escolhas.

 “Mesmo por opção de estarem solteiras, elas ouvem que mulher que escolhe ser solteira não é pra casar’. Aí vem os questionamentos de quando irão casar, que estão ficando velhas pra ter filhos, etc”, conta.

Empatia

No âmbito social, há uma etiqueta para a interação com pessoas solteiras. Falas tóxicas, que podem ser agressivas e alimentar a angústia.

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“É muito importante evitar frases que possam fazer alguém se sentir mal ou pressionado a encontrar alguém. Dizeres como você só precisa tentar mais, você ainda não encontrou a pessoa certa, você está sendo muito exigente com quem se relaciona. Essas falas reforçam a ideia de que a vida de solteiro é um problema. O melhor é oferecer apoio sem julgamentos”, pondera a Dra. Aline Canhe.

“[Pessoas que julgam] desconsideram a complexidade das emoções envolvidas e podem fazer o solteiro sentir ainda mais pressionado ou inadequado. Em vez de oferecer conforto, essas falas podem intensificar sentimentos de solidão e frustração”, complementa o Dr. Jefther Felipe.

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Além da pressão familiar ou social, de experiências passadas que geraram expectativas irrealistas sobre o amor e a felicidade e do próprio medo da solidão, o s profissionais destacam a idealização como agravante da angústia por se estar solteiro. 

“A crença de que um relacionamento amoroso é a única fonte de realização pessoal pode contribuir para sentimentos de desesperança. […] Observo que esses sentimentos muitas vezes estão ligados a expectativas sociais e culturais sobre o que significa ser ‘bem-sucedido’ em termos de relacionamentos”, diz o psicólogo.

Os dois profissionais ouvidos por O IMPARCIAL relatam que atendem, com frequência, pessoas que sofrem pela ausência de um relacionamento.

“São relatos de sentimentos de inadequação, que percebo estarem ligados à autoimagem negativa e a uma idealização excessiva dos relacionamentos”, conta o psicólogo.

“Nós fazemos um trabalho terapêutico focado na construção de uma autoestima saudável – e na desconstrução de crenças disfuncionais. Do que se acredita que é certo apenas por ter sido imposto pela sociedade ou pela família”, detalha a Dra. Aline Canhe sobre o processo de cuidado com esses pacientes.

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Como o Dia dos Solteiros busca incentivar, esse status pode representar uma excelente oportunidade para o autocuidado e até mesmo para que se possa iniciar uma nova história com alguém na melhor forma, descobrindo e explorando o valor próprio. 

“Sem as demandas de um relacionamento, há mais tempo e liberdade para dedicar-se a si. Explorar novos interesses, fortalecer relações de amizade, investir em crescimento profissional e pessoal”, diz a Dra. Aline Canhe.

Ela pontua que dar uma chance ao autocuidado pode significar um bom preparo para possíveis experiências negativas.

“Esse autoconhecimento também é fator extremamente importante para se construir bons relacionamentos – para entender o limite do que se gosta e não gosta [no outro]. Também é um fator protetivo contra relações de abuso. Você se torna capaz de percebê-las mais rápido. É uma oportunidade de cultivar a autossuficiência”, diz a Dra. Aline Canhe.

“Sem as demandas de um relacionamento, é possível focar em desenvolver uma forte conexão consigo mesmo, o que é fundamental para a saúde mental e emocional”, complementa o psicólogo Jefther Felipe.

Foi o que percebeu a entrevistada I.C.

“No início [logo após o término], foi um sentimento de tristeza e solidão [mas] hoje em dia, eu entendo que era porque eu não me conhecia sozinha, não sabia apreciar minha companhia.”

Enquanto a jovem se encontrou neste novo capítulo de sua história, M.A. tem a solteirice como sinônimo de planejamento e futuro.

“Em primeiro plano, está o investimento de tempo na graduação e nos estudos para concursos. Sem muita pressa, o  relacionamento virá depois. Sou ciente de que é algo que precisa de tempo e dedicação também, portanto, não poderia concorrer com outras prioridades”, diz o universitário.

Revisão: Patrícia Cunha

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