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Os ludovicenses que pedem a volta da Monarquia

A Proclamação da República ocorreu no dia 15 de novembro de 1889. Enquanto a data é celebrada, um grupo crescente pede a volta da Monarquia no Brasil, e explica os porquês

Há 129 anos, neste mesmo dia 15 de novembro, Marechal Deodoro da Fonseca proclamava a República Brasileira na capital carioca, tornando-se o primeiro presidente do país. Embora fosse grande defensor da Monarquia, o militar é tido como a maior figura no acontecimento histórico, sendo responsável por derrubar o “único sustentáculo” do país, segundo ele próprio. Atualmente, enquanto a Proclamação é propagada através da história como o corte institucional do cordão umbilical Brasil/Portugal, libertando o país dos monarcas, existe um grupo crescente que avalia o “golpe republicano” como uma danosa conspiração arquitetada para colocar grandes companheiros – o Marechal e o Imperador Dom Pedro II – um contra o outro, através de boatos, enquanto a população assistia atônita o processo que mudaria por completo o destino da nação brasileira, provando que, no Brasil, a história sempre se repete com militares, fake news e a bestialização do povo.

De acordo com Melhem Saad, advogado e presidente do Círculo Monárquico de São Luís – grupo que defende a volta da monarquia no Brasil –, ocorre que chegou aos ouvidos de Marechal Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant que o Gabinete de Visconde de Ouro Preto havia determinado suas prisões. “Começou um jogo com o Marechal para que ele proclamasse a República, mas ele não queria proclamar. De outro lado, alguns republicanos estavam impedindo Dom Pedro II de sair de sua residência. As pessoas que fizeram o golpe sabiam que se eles chegassem a conversar, as coisas estariam esclarecidas. No final do dia, disseram ao Marechal que Dom Pedro havia nomeado seu rival pessoal. Ele disse ‘este não, vamos proclamar a República'”, explica Saad, que concedeu uma entrevista a O Imparcial sobre a Proclamação, conjuntura política atual e os porquês de a monarquia ser a saída mais viável para o país, segundo o grupo.

Ludovicenses pedem a volta da monarquia. Na foto, destaque para o advogado Melhem Saad, presidente do Círculo Monárquico de São Luís, que segura a bandeira do Império. (Foto: Acervo Pessoal)

O Imparcial (IM): O que leva o grupo a considerar a monarquia uma saída viável para o Brasil?

Melhem Saad: A nossa bandeira é a restauração da monarquia no Brasil. O que leva a gente a ter essa intenção são justamente os bons exemplos que nós temos mundialmente e internamente. O bom exemplo que nossa monarquia foi enquanto forma de governo aqui no Brasil, um grande período de estabilidade política, institucional, um período em que tivemos um bom progresso e a democracia estava plenamente vigente, apesar de que muitas pessoas falam o contrário, e os exemplos atuais que nós temos. Alguns países que hoje são monarquias e que funcionam muito bem, como por exemplo Espanha, Canadá, Austrália, Inglaterra, Japão, Suécia, Holanda, entre outros diversos exemplos que têm como principal atributo a estabilidade institucional e política que a presença do monarca traz à nação. Isso para o Brasil é extremamente importante porque esse é o único empecilho para que a gente venha a ser um Brasil que dá de fato certo. A população brasileira, como diz Dom Bertrand, é um povo bom, que vai dar certo inevitavelmente. A gente tem um problema que é o problema institucional, e atrasa todo o brasil e que pesa muito na população. Se a gente tira esse problema, o Brasil vai pra frente.

IM: Você citou países que possuem sistema monárquico parlamentarista e que gozam de índices sociais elevados. Como a monarquia se comportaria no Brasil, um país que tem lidado com diversos escândalos de corrupção e índices baixíssimos?

MS: O grande problema do Brasil é a crise institucional. Os índices sociais tendem a melhorar se a gente não tem uma crise institucional. Nós podemos ver que em todos os períodos da república os piores índices sempre estão atrelados aos momentos de maior instabilidade. O papel do monarca nesse caso é atuar nessa questão institucional. Mas essa nossa proposta de restauração da monarquia vem atrelada a uma série de outras reformas políticas, por exemplo a instituição do parlamentarismo, com a abolição do voto proporcional e a instituição do voto distrital.

IM: Enquanto membros do Círculo Monárquico, vocês fazem alguma crítica em relação à monarquia brasileira na época Imperial?

MS: Não há sistema perfeito. Nós temos diversos exemplos de sistemas de governo, que vão de república à monarquia, ditadura, e todos eles têm seus problemas. A nossa opção pela monarquia justamente é a que apresenta menos problemas e mais soluções. Agora nós tivemos alguns problemas básicos que outros países também tiveram na nossa monarquia e que a gente não consegue identificar como um problema que seria fulcral para a proibição desse regime […] A gente teve bons exemplos de transições na nossa monarquia, que foram muito melhores que em muitos países, como a abolição da escravidão. Aqui no Brasil, apesar de ela ter demorado mais, foi feita de forma progressiva, e diferente de outros países ela não foi impositiva e não gerou uma guerra como nos Estados Unidos. Essa forma de a monarquia lidar com o povo é uma forma que apesar de estender um problema crítico, vai fazendo com que esse fogo vá diminuindo. Apesar disso, ela [a abolição] nos custou o trono, nos custou a monarquia. As pessoas que eram contrárias à república ficaram completamente insatisfeitas com o Imperador e abraçaram a causa republicana, os republicanos de última hora.

IM: De que forma vocês são vistos pela sociedade em geral? O fato de defenderem a volta da monarquia causa alguma estranheza?

MS: Posso falar livremente? Como loucos (risos). Isso tem mudado. A gente se reúne desde 2012. Teve uma reunião através do Expresso Liberdade em São Luís, e ali a gente começou a traçar algumas diretrizes de análises de estudos. O grupo tinha mais ou menos 30 pessoas. A gente ia pensar pautas boas para o Brasil, e dentre elas a que ficou como principal é que a monarquia seria uma das nossas bandeiras. No começo sofremos um preconceito imenso. Nenhuma pessoa que a gente começava a conversar sobre monarquia recebia a gente senão como chacotas. A gente foi em programas de rádio em que de três ligações, duas eram pra dizer que a gente tinha que ser internado no Ruy Palhano [psiquiatra]. E aí a gente veio persistindo. Como dizem os chefes da Casa Imperial, o trabalho da monarquia é um trabalho longo, demorado, porque não é uma questão populista que as pessoas simplesmente dizem que vai solucionar e ponto. A gente precisa informar como vai solucionar, e devagar a gente vai fazendo isso. Hoje a gente tem uma aceitação muito boa. Nós vamos em vários programas de rádio e as pessoas ligam não mais para fazer chacota, mas para perguntar, curiosas mesmo. A gente também não tem adotado lados. A gente tem tentado trazer tanto pessoas de esquerda e de direita, conversado. Temos sido interpelados na própria página do Círculo, que é pública, às vezes até de forma grosseira, e a gente tem a nossa conduta de ser bem gentil sempre, conversar e explicar, porque a gente não acredita em má fé. Às vezes as pessoas entendem uma coisa, mas na verdade essa coisa não representa o que aconteceu de fato aqui no Brasil. Isso acaba trazendo as pessoas a gostarem mais.

IM: Vocês estão organizando um bandeiraço para o dia 15, data que celebra a Proclamação da República. Qual o objetivo?

MS: Todo dia 15 a gente se reúne pra fazer um aulão, e desemboca num bandeiraço. Aqui em São Luís ele tem ocorrido há mais ou menos três anos. Não é uma manifestação que nós usamos para gritar palavras de ordem. A gente tem uma aula relacionada à questão da Proclamação, as pessoas levam suas bandeiras coloniais, e é sempre um evento que vai muita criança, adolescente, pais… É mais uma coisa para famílias, quase um piquenique na verdade, sem a comida (risos).

IM: Vocês consideram que a Proclamação tem alguns pontos obscuros que são omitidos pela história?

MS: Sim. A Proclamação foi muito ensinada como uma coisa boa que aconteceu no Brasil, mas nas aulas a gente nunca tem aquela visão da população. Tem a visão dos militares, dos republicanos, dos “derrotados”, os monarquistas, mas a visão das pessoas é omitida. A gente tem alguns livros da época que falam sobre o que aconteceu de fato, como em “Os Bestializados” [de José Murilo de Carvalho]. As pessoas ficaram olhando aquilo bestializadas, sem saber o que estava acontecendo. A Proclamação, apesar do nome, foi um golpe republicano […] Houve uma conspiração que foi atrás de pessoas fortes no governo como Benjamin Constant, Marechal Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, e essas pessoas, inclusive o próprio Marechal, foram muito ludibriados por boatos na época.

IM: Recentemente os brasileiros elegeram para a Presidência da República Jair Bolsonaro, do PSL, após mais de uma década de governos do PT. Como vocês se posicionaram nesse espectro?

MS: A gente tem identificado que o Brasil precisava de um momento de renovação política. Essa renovação pela monarquia se daria sempre num momento em que a crise institucional está iniciando. A forma do Imperador de solucionar esse problema seria dissolver o parlamento e convocar novas eleições. Aqui no Brasil, hoje, a gente não tem isso. A única forma da mudança é através do voto a cada quatro anos ou o impeachment, que é algo muito custoso ao Brasil. Nós tivemos 13 anos de Partido dos Trabalhadores, com pessoas mais ligadas à esquerda, algumas à esquerda revolucionária que estavam no comando do país. Algumas pautas instituídas por eles eram inclusive boas, como a ajuda às pessoas mais pobres, como o Bolsa Família, alguns incentivos ao primeiro emprego. Outras pautas foram mais obscuras e acabaram lesando profundamente a população, e isso veio a ser escancarado com os escândalos do Petrolão e Mensalão. Havia então uma necessidade dessa renovação, e a única coisa que nós nos posicionamos foi contra a manutenção. Não nos posicionamos a favor de uma pessoa, nem do próprio Bolsonaro, nem Ciro, nem Marina, mas a gente se posicionou contra o PT mais por uma questão de renovação, e não de extinção ou de que sejam retirados da sociedade. Essa troca de poder, apesar de termos algum tempo de Michel Temer, não aconteceu de forma democrática, então a gente vê com bons olhos essa modificação no sentido de renovação. Mas sem colocar absolutamente nenhuma esperança em nenhum presidente. Nenhum presidente é herói da nação, mas acaba sendo visto como salvador, a pessoa que vai solucionar todos os problemas. Nem Lula conseguiu solucionar, nem FHC, nem Bolsonaro vai conseguir. Temos 130 anos de história de presidentes que não solucionaram os problemas da nação e muito menos o maior problema institucional.

IM: A mídia noticiou recentemente a possibilidade de Luiz Philippe Orleans e Bragança, eleito deputado federal, como Ministro das Relações Exteriores, o que ainda não foi confirmado por Bolsonaro. Como vocês avaliam a possibilidade de a família real ocupar um cargo no executivo?

MS: Luiz Philippe foi eleito deputado federal. As pautas dele são de reforma política, e essas reformas estão completamente alinhadas com as pautas monarquistas, mais no sentido parlamentaristas que monarquistas de fato. O movimento monarquista está dividido nesse momento: por um lado seria muito bom ver um membro da família real, o moimento olha com bons olhos, porque uma das funções da Família Imperial é representar o país para outros países. Seria bom ver um membro da Família Imperial fazendo esse papel. Por ouro lado as pessoas estão felizes que ele se elegeu como deputado federal, e acho que esse lado é o maior, porque Luiz Philippe tentando solucionar esses problemas institucionais políticos, o Brasil já melhora um pouco.

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