ENTREVISTA EXCLUSIVA

Saulo Arcangeli: “Nós participamos da festa democrática, mas entramos como penetra”

O candidato do PSTU, Saulo Arcangeli, afirma que a participação do seu partido nas eleições busca conscientizar o trabalhador

Saulo acredita que só a revolução vai mudar a vida do trabalhador. (Foto: Pedro de Almeida)

O professor da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão) Saulo Arcangeli tem 46 anos e é candidato ao Senado pelo PSTU. Já concorreu para vereador e prefeito de São Luís, mas não se elegeu em nenhuma oportunidade. Ativo na vida sindical, Arcangeli coloca sua candidatura como antissistema, de extrema esquerda, e apesar de ter uma vida ligada aos partidos mais tradicionais do seu campo ideológico, por ter militado no PT e ter passado pelo PSOL, considera que o ex-presidente Lula “cavou sua própria cova”.

O senhor foi coordenador da campanha do Lula no Maranhão em 2002, mas rompeu com o partido por divergências ideológicas. Como você e seu partido analisam a situação do ex-presidente?

Nós defendemos que todos os corruptos devem estar presos. Eduardo Cunha tem que estar preso, Pallocci também, o Cabral que era o grande aliado do Lula no Rio de Janeiro. Não vou entrar no mérito se existem provas ou não, ele estava em todo esse processo, e nós temos a compreensão que todos os corruptos devem ser presos e devolverem o que foi roubado.

Mas vocês acreditam no processo democrático?

Não. Nós vivemos na ‘democracia dos ricos’, e a eleição é a prova disso, ela só serve para manter os partidos e as estruturas que estão aí. O MDB, por exemplo, que roubou o Brasil, recebe mais de 200 milhões de Fundo Partidário, que é dinheiro púbico, e o PSTU que nunca se envolveu em corrupção e nunca pegou dinheiro de empresários recebe menos de 1 milhão. Nós não vivemos num estado democrático de direito, aqui a população vive nas piores condições de vida, sem ter garantido os direitos democráticos básicos, como educação, saúde, lazer, cultura, esporte, e moradia. Num país em que 6 pessoas tem a mesma riqueza que 100 milhões de pessoas… isso demonstra que vivemos em um sistema perverso.

Então porque você se põe a prova nas urnas se não acredita no processo eleitoral?

Para colocar o programa do nosso partido em evidência. Nós participamos dessa festa, mas entramos como penetras. O problema do país não vai se resolver com eleição. O trabalhador precisa se organizar, porque o poder econômico continua definindo a eleição.

Se não se resolve com eleição, então como?

Organização dos trabalhadores. Precisamos assumir o poder através dos conselhos populares, porque a ‘democracia representativa’ não funciona. O povo está elegendo representantes que não discutem com os eleitores o que está sendo feito no parlamento. A reforma trabalhista, por exemplo, que foi aprovada pela maioria dos senadores e deputados do Maranhão, não foi discutida com trabalhadores e sindicatos, e hoje nós já sentimos o reflexo disso, é a lei da terceirização, onde nenhuma empresa precisa ter vínculo com empregado: temos uma pejotização, onde o patrão não paga direito do trabalhador. Ninguém mais precisa ser funcionário, tudo é terceirizado.

E porque a classe não está organizada e a revolução que vocês propõem em marcha?

Essa é nossa tarefa, e sabemos que esse processo é para médio e longo prazo. Nós fomos derrotados na reforma da previdência, mas conseguimos barrar a quebra da estabilidade do serviço público, conseguimos defender as terras quilombolas e indígenas. E nós temos um projeto de revolução socialista, que nos diferencia de Lula ou Flávio Dino, por exemplo, porque não acreditamos na conciliação de classes, mas essa conciliação só fortalece a burguesia. Queremos organizar toda a classe e mostrar que, por exemplo, os caminhoneiros, apesar de todas as contradições, conseguiram parar a produção, e nós vamos provar que toda a classe trabalhadora unificada pode se organizar para lutar por seus direitos. Esse processo revolucionário, que pode não ser em nossa geração, mas os de baixo tem que se mexer para tirar os de cima, que nos exploram e nos oprimem. Nós precisamos explicar também que a culpa da situação de como vive o povo brasileiro é do sistema capitalista.

E você acredita que pode ser eleito?

Apesar de toda crítica que temos ao Senado Federal, acredito que os trabalhadores, se aceitarem nosso programa, podem eleger alguém que está na luta diária da classe. Nós lutamos por uma sociedade igualitária, sem exploração e sem opressão, e somente os trabalhadores organizados podem mudar essa situação ruim e transformar nossa sociedade em algo melhor, mais justo. Por isso pedimos voto, cada voto no PSTU é tirar um voto da burguesia e do patrão. É só nossa organização e nosso enfretamento que vai solucionar os problemas do Brasil.

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