dia dos pais

Pais solo que querem ser “a diferença”

Apesar da raridade, pela predominância da maternidade solo, é possível encontrar pais responsáveis pela criação de seus filhos.

O jornalista Augusto e seus dois filhos: Isabel, de 6 anos, e Antônio, de 13 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 2015, enquanto que as mães solo representavam 26,8% das famílias com filhos, os pais solteiros representavam apenas 3,6%, de acordo com a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE). São 11 milhões de mães solo no Brasil, chefes de família muitas vezes em vulnerabilidade social.

Estamos acostumados a ver mães cuidando de um, dois, três filhos arcando com todas as responsabilidades. Apesar de a guarda compartilhada contribuir para alterar este cenário gradativamente nos últimos anos, ainda é predominante a maternidade solo.

Nesse cenário, encontrar pais que tenham lutado para ficar com suas crias, para criá-las e fazer questão de tê-las perto de si, seja por uma situação de fim de relacionamento, ou por motivos de morte, ainda é raro, mas existe.

O Imparcial conversou com dois pais solo que fazem de tudo para ser a diferença nas vidas de seus filhos e para contribuir para uma mudança de comportamento dos homens para com seus filhos.

Marcelo e Matheus. (Arquivo Pessoal)

O jornalista Marcelo Brandão, de 33 anos, é maranhense, mas há quase 10 anos mora em Salvador (BA), onde trabalha e cuida dos 3 filhos, de 14, 7 e 6 anos. Sarah Vitória, Maria Eduarda e Matheus André são suas maiores vitórias.

Marcelo é viúvo. Quando ele e sua ex-esposa se casaram eles eram jovens, com 20 anos. Logo em seguida, Sarah Vitória nasceu. Quando Maria Eduarda chegou, ele estudava e a luta era grande para criar as crianças.

Sarah Vitória, filha de Marcelo (Arquivo Pessoal)

Em seguida, veio o Matheus André. Mas a separação também chegou, e em meio a uma luta judicial pela guarda das crianças, veio o falecimento da mãe das crianças. “Eu voltei a morar com meus pais. E com 1 ano mais ou menos da separação, ela conheceu outra pessoa e eles acabaram casando, mas meus filhos não se davam bem com o marido dela. Ela ficou desempregada, os meninos não queriam morar mais com ela e eu entrei com um pedido de guarda deles. Eles vieram morar comigo, mas quase 2 anos depois a mãe deles teve um câncer e faleceu”, contou Marcelo.

Maria Eduarda, filha de Marcelo (Arquivo Pessoal)

Com os filhos pequenos, Marcelo aceitou o convite da irmã, que já morava em Salvador para ficar com ela. A rotina é desafiadora. “Eu tenho o suporte da minha irmã, mas eu estou conseguindo levar esse desafio à frente, que é de criar eles sem a mãe. Por eles faria tudo de novo. Eles significam tudo para mim. Ser pai é estar sempre presente e mostrando também para eles o lado bom da vida”, finalizou.

“Você terá um pai que poucos tiveram”

O também jornalista Augusto do Nascimento, 48 anos, cria o filho Antônio Augusto Bonfim do Nascimento sozinho desde que ele tinha 3 anos. Hoje, Antônio está com 13. E vendo o homem que ele está se tornando, Augusto do Nascimento lembra com emoção o nascimento de seu filho e tudo o que fez para que eles ficassem juntos. 

Augusto também é pai de Isabel Maria Oliveira do Nascimento, de 6 anos, com outra pessoa. Hoje, também separado, ele divide a criação com a ex-mulher.

O jornalista conheceu a ex-esposa, mãe de Antônio em São Luís, em 2005. Passaram 7 anos juntos e quando Antônio estava prestes a fazer 3 anos, ocorreu a separação. Augusto levou Antônio consigo, em comum acordo com a ex-mulher.

“Eu sempre fui muito apegado a ele desde que nasceu e sabia que precisaria estar com ele. Eu passei um tempo na casa de uma amiga, até me organizar, e depois eu aluguei uma quitinete. Daí fomos morar só nós dois. Deixava ele na creche e quando saia do serviço ia pegar. Foi meu companheiro, já que não tinha parentes aqui”, disse.

Isabel, Augusto e Antônio. (Foto: Arquivo Pessoal)

O amor pelo filho falou mais alto, mas as dúvidas, o medo e a incerteza eram grandes.  “Eu sabia que ia ser uma barra, porque ele era muito pequeno. Eu acordava às 4h da manhã para deixar tudo pronto, fazer as coisas da casa, até acordar ele para ir para a creche. Mas o sentimento no início era de falhar, de não estar mais ali para ele, faltar e não conseguir dar conta da criação”, contou Augusto, que é natural do Ceará.

A relação entre pai e filho, segundo Augusto, é muito aberta e transparente. Eles conversam sobre todos os assuntos, inclusive sobre o processo de separação com sua ex-mulher. “Nossa relação é muito boa. A paternidade é a maior responsabilidade que eu tenho na minha vida. Tanto na questão da criação física, da integridade física, quanto emocional, de preparar para a vida. O que eu faço hoje é pensando no futuro dele. E o grande encanto que eu vejo, é quando percebo a confiança que ele deposita em mim. Hoje eu me sinto um novo homem”, disse.

Consciente do papel de pai, Augusto observa que as coisas estão mudando aos poucos. “A paternidade solo é um desafio, o que para as mulheres é uma regra. Vejo que cada vez mais os pais têm tido uma participação maior na criação dos filhos, mas ainda falta muito. A carga ainda é muito sobre a mulher. Acho que a gente vai construir um mundo melhor quando tiver essa maior participação dos pais”, analisou.

Segundo Augusto, o seu pai (que hoje é falecido), não foi tão presente na vida dele. E ele recorda, emocionado, que quando pegou Antônio disse que ele teria um pai que poucos tiveram. “Quando eu vi aquele bebezinho, eu disse, eu vou fazer o meu papel. E tenho tentado”. A Isabel, sua outra filha de outro relacionamento, fica sob a guarda da mãe, mas também sob os cuidados de Augusto e de Antônio, que faz o papel de irmão mais velho.

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