LIBERDADE, LIBERDADE

Traidor de Tiradentes foi enterrado em São Luís

Joaquim Silvério dos Reis teria sido enterrado na Igreja de São João, em São Luís, mas atualmente não se sabe onde estão seus restos mortais

A Inconfidência Mineira, seus meandros e desdobramentos fazem parte, atualmente, de uma obra de ficção na televisão. Trata-se de uma das delações mais emblemáticas ocorridas em solo brasileiro e que nunca deixou de ser assunto, embora outras tenham sido destaques recentes na história brasileira nos últimos tempos. O delator (?) Joaquim Silvério dos Reis, Coronel Comandante do Regimento de Cavalaria Auxiliar de Borda do Campo, contratador de entradas, fazendeiro e proprietário de minas, que, diante da possibilidade de ter suas dívidas perdoadas pela Coroa, resolveu delatar os inconfidentes, deixando como mártir da Inconfidência Tiradentes.

Uma parte de sua vida, antes de falecer, se passou aqui no Maranhão. Uma história pouco conhecida e controversa. Para começar, documentos e pesquisas comprovam que ele foi enterrado na Igreja de São João, no Centro de São Luís, porém, há divergências quanto ao que houve depois com seu túmulo e qual teria sido o destino dos seus restos mortais.
Igreja São João - Túmulo de Joaquim Silverio dos Reis

Antes de sua morte, entre idas e vindas para o Brasil, Joaquim Silvério dos Reis retornou ao Brasil em definitivo quando da transferência da Corte Real portuguesa para a colônia, em 1808. A história oficial registra que sua morte foi em 1819 – data que constava na lápide onde seus restos mortais foram enterrados, conforme está registrado à página 292 do livro de óbitos número 8, arquivado inicialmente na catedral metropolitana, Igreja da Sé, mas que hoje se encontra no Arquivo Público do Estado.

O túmulo foi destruído?
Foto: Reprodução.


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Joaquim Silvério dos Reis, traidor de Tiradentes

Há controvérsias. Com informações do pároco da Igreja de São João, padre Heitor Costa Moraes, os restos mortais dele foram resgatados e levados para Minas Gerais, para integrar o Museu da Inconfidência Mineira, fato não confirmado pelo Museu. “A informação não procede. Não sabemos o paradeiro dos restos mortais de Joaquim Silvério dos Reis, considerado o traidor do movimento”, diz a nota assinada por Cláudia Klock, da Assessoria de Comunicação.

Outra versão seria de que na década de 1970, na gestão do bispo Dom João Mota (1964-1984), o mesmo teria mandado os restos mortais para Minas, e que nem mesmo Joaquim teria morrido em São Luís, e sim, em Recife. “O corpo dele teria vindo para cá e ele teria sido enterrado na Igreja porque tinha influência com um capitão Mor daqui. Naquela época, as pessoas muito ricas eram enterradas em Igrejas, mas Dom João Mota não quis um traidor aqui”, afirma Ranulfo Gomes, assistente da paróquia.
Essa versão é refutada e comprovada por documentos pelo professor assistente do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão, Manoel de Jesus Martins, que analisou a trajetória de Silvério dos Reis no Maranhão após os acontecimentos de 1789, onde o mesmo desfrutou dos privilégios obtidos junto à Coroa Portuguesa, como “primeiro denunciante” do movimento mineiro. O Arquivo Público do Estado registra sua presença na região entre 1809 e 1819.
No Maranhão
“Silvério dos Reis veio para o Maranhão em 1809 porque aqui era outra unidade portuguesa, que nada tinha a ver com o Brasil. O mal que ele fez para os brasileiros não tinha nada a ver com o Maranhão, aqui não tinha ressonância e ao contrário, era um bem-feito, pelo fato ser colônia portuguesa. Ele passou dez anos aqui como comandante da milícia, um posto de alto destaque. Morreu aqui e foi sepultado aqui. Eu não estou dizendo que ele não é delator, a vinda dele para cá foi estratégia no sentido de tirá-lo do foco”, diz o professor Manuel.
Sobre a história do túmulo de Silvério dos Reis localizado no ossuário à esquerda da entrada da igreja, e a de que foi destruído com as sucessivas reformas pelas quais a construção passou, o professor considera que seja provável pelo fato de que a Igreja possa ter precisado de espaço e que por isso tenha sido realocado. Mas também não tem conhecimento de para onde ele possa ter ido.
Os benefícios da delação
Foto: Reprodução.


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Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes

Em Joaquim Silvério dos Reis: Honra e Prestígio no Maranhão (1989), Manuel de Jesus quis provocar uma indagação: ele foi delator para quem? Ao apresentar o artigo, o professor afirma que o maior compromisso dele foi o de buscar as melhores oportunidades, de colher vantagens a qualquer custo.

Enquanto era execrado em Minas e outras partes do país, no Maranhão chegou como autoridade e foi muito bem recebido. “No Maranhão, a chegada de mais uma autoridade portuguesa não causaria supresas; pelo contrário, tendia a ser bem recebida, pois a colônia lusa era numerosa o bastante para proporcionar-lhe o conforto e a segurança de estar entre iguais”, diz um trecho do artigo.
Foi diante da possibilidade de ter suas dívidas perdoadas pela Coroa que Joaquim resolveu delatar os inconfidentes. Após a denúncia, permaneceu preso na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, entre maio de 1789 e janeiro de 1790. Em 1974 partiu para Portugal, onde foi recompensado. “Recebeu o ‘foro de fidalgo da Casa Real, o hábito de Cristo e o perdão de uma dívida fiscal de mais de 400.000 cruzados, além de uma pensão de duzentos mil réis”.
De volta ao Brasil, em 1795, tentou reconstruir sua vida, mas encontrou clima hostil à suas pretensões, principalmente no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, tendo sofrido vários atentados.
De 1801 a 1808, residiu em Portugal e, além de receber pensão anual de 400 mil réis, foi incluído como acompanhante na comitiva real em demanda para o Brasil. Quando ele chegou aqui continuou pedindo regalias, utilizando-se de fisiologias. Então, o príncipe regente, Dom João, já sem paciência para tantos pedidos, tratou logo de afastá-lo do convívio real transferindo-o para o Maranhão.
ASPAS: No Maranhão, a chegada de mais uma autoridade portuguesa não causaria surpresas; tendia a ser bem recebida Manuel de Jesus, autor do artigo
Virou novela
Ricardo Dantas vive Joaquim Silvério dos Reis em Liberdade, Liberdade

A história de Joaquim Silvério dos Reis voltou à tona com a estreia da novela Liberdade, liberdade exibida na Rede Globo. O ator Ricardo Dantas viveu o personagem, que teve sua história amenizada por conta da existência fictícia de Rubião, vivido por Mateus Solano, que acabou sendo o vilão da trama. Na história, Joaquim era contratante de entradas, uma espécie de administrador que mexia com contratos públicos, e um dos inconfidentes. Tinha uma dívida com a Coroa. A fim de ter seu débito perdoado, fez uma espécie de “delação premiada”, denunciando os colegas de conspiração ao então governador de Minas, Visconde de Barbacena. Chegou a ser preso também, mas depois foi solto. Posteriormente, virou traidor dos inconfidentes.

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