Maranhão perto de realizar seu sonho
Ex-governador do Estado e ex-ministro de Infra-estrutura do Governo José Sarney, José Reinaldo Tavares falou com exclusividade a O Imparcial

Secretário Zé Reinaldo falou com exclusividade ao jornalista Raimundo Borges, de O Imaprcial - (foto/ montagem: reprodução)
Como responsável pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Projetos Estratégicos do governo Carlos Brandão, o ex-governador José Reinaldo Tavares continua pensando em iniciativas que tirem o Maranhão da pobreza. Em entrevista exclusiva a O Imparcial, ele esbanja otimismo com o futuro. Está entusiasmado com o Projeto “Casas da Esperança” que ampara a mãe desde o pré-natal até a criança atingir seis anos. “É nessa idade que o cérebro humano desenvolve tudo que a pessoa precisa para o resto da vida”, pontua ele, citando o prêmio Nobel de Economia James Heckman, defensor dessa ideia.
O IMPARCIAL – Como titular da área de desenvolvimento e estratégias do governo Brandão, qual a avaliação que o senhor faz dos primeiros oito meses da gestão?
José Reinaldo Tavares – O Maranhão nunca esteve tão perto de realizar o sonho maior de desenvolvimento econômico, aproveitando o seu imenso potencial para atrair investimentos privados, gerar empregos e até se tornar a solução para grande parte dos problemas do Brasil. Sabemos que o Estado em si não é o gerador de empregos para combater a pobreza e as desigualdades. Mas sim, as grandes empresas.
Quais os gargalos que o Maranhão precisa ultrapassar para sair desse longa condição de Estado mais pobre do Brasil e qual a estratégia para mudar tal realidade?
Um dos problemas do atraso do Maranhão é capital humano. Até uma empresa de restaurante quando se instala no Maranhão, encontra dificuldade de contratar garçons preparados, assim também na construção civil e no agro falta mão de obra de alto nível. A causa dessa debilidade é a pobreza. Temos 60% da população maranhense em situação de pobreza e 17% dela são muito pobres. Portanto, essas famílias dependem do governo para tudo, desde o nascimento. A Universidade Ceuma fez um pesquisa a respeito disso e constatou que a pobreza atinge as pessoas desde o pré-natal.
Como resolver esse grave problema?
Um dos caminhos são as casas da Esperança. É um projeto fantástico que muda a concepção do combate à pobreza, cuidando das mães desde o pré-natal e depois, das crianças de zero a seis anos. É nessa idade que o cérebro humano desenvolve tudo que a pessoa precisa para o resto da vida. É um projeto concebido pelo Prêmio Nobel de Economia, James Heckman, da Universidade de Chicago. Ele diz que quando se cuida bem das crianças de zero a seis anos, muda o país. É esse programa que estamos preparando aqui. O projeto está pronto com tudo da melhor qualidade para tornar a Casa da Esperança uma referência.
Como colocar um projeto desses em prática e quantos municípios poderão recebe-lo?
Primeiro, precisamos definir os bolsões de pobreza. Em São Luís, já identificamos, por exemplo, a Vila Embratel. A Vale doou uma área de 1 ha. Vamos precisar de recursos da Loteria das Apostas, que o Congresso vai aprovar. Tem outra fonte novíssima de recursos que o ministro da Fazenda Fernando Haddad está lançando ainda em setembro, que são os títulos soberanos, dentro do Arcabouço Fiscal. São dois tipos de títulos. Um ambiental e outro social.
Dr. José Reinaldo, em 2023 o governador Carlos Brandão começou o governo praticamente sem oposição na Assembleia Legislativa e, no âmbito nacional, o Estado tem quatro ministros na Esplanada. O que todo esses apoiamentos estadual e federal significam para o governo do Maranhão tocar seus projetos sociais e de combate à pobreza?
Esse ponto é importantíssimo para o Maranhão, que terá como fechar acordos sobre projetos que visem desenvolver o Estado, contando com forte apoio político estadual e em Brasília. Carlos Brandão tem enorme capacidade de dialogar com todo mundo. Com Flávio Dino, com o José Sarney, com o presidente Lula, que teve aqui a segunda maior votação. Portanto, lidera com muita competência a gestão política e administrativa para mudar o Maranhão. Faz diferente até de quando fui governador. Era bombardeado por todos os lados, agora não, ele tem apoio para tudo que propõe em favor do Maranhão.
São quatro ministros prontos para colaborar. O das Comunicações, Juscelino Filho, por exemplo, vai suprir o Estado de cobertura de internet aonde é ela fraca, ou nem tem para todo mundo. É com a internet que se melhora os serviços de saúde, formação de capital humano, a educação, preparação da mão de obra e de implantação da infraestrutura. O apoio da Assembleia Legislativa também é fundamental. Inclusive a Casa da Esperança já foi aprovada. Hoje não existe mais aquela política predatória que atrasou o Estado. Brandão conversa com todos os lados.
Desde quando assumiu, Carlos Brandão prega um governo de união, renovação e continuação. Com oito meses no exercício do mandato, ele tem dado continuidade aos programas bem sucedidos do governo Flávio Dino?
Os secretários de Saúde e de Educação são os mesmos. A prova é o Felipe Camarão na Educação, adotando toda a experiência adquirida. Então, esse ponto nem se discute.
O Ceará avançou muito adotando os sistema continuado de governança sem ruptura com o anterior. As divergências políticas não se sobrepõem ao desenvolvimento do Estado. E tem dado certo, principalmente na Educação, em que o Ceará é referência no Brasil. No Maranhão pode-se falar em copiar o modelo cearense?
Não precisamos copiar. O que precisamos é adotar na escola municipal publica um modelo parecido com as escolas privadas que, algumas delas se equiparam até as europeias. Na grande maioria das escolas do fundamental pública, os alunos chegam sem saber nada. Portanto, os municípios precisam de apoio para mudar essa realidade, com método de ensino com metas e dando compensação aos professores. Sem isso, os alunos acabam desestimulados e se evadindo da escola, agravando a condição de pobreza.
O senhor disse que o sistema portuário de São Luís é o ponto de partida para o desenvolvimento do Maranhão, agora já tem o projeto do Porto de Alcântara. O que ele significa, estrategicamente para o sistema portuário e para a economia?
Esse é o projeto mais importante atualmente no Brasil. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) considera-o mais importante para o sistema de transportes. O Branco Mundial fez um estudo indicando que esse projeto, que vai integrar a ferrovia Norte-Sul ao Centro-Oeste, penetrando em Mato Grosso, possibilita uma logística de negócio que até hoje o agro não tem. Depende do transporte de caminhão com uma logística demorada, cara, com distâncias enormes e ainda é ineficiente. Nos Estados Unidos, o preço do transporte de grãos é custa quatro vezes menos que no Brasil.
O senhor, quando ministro dos Transportes do governo José Sarney, foi o idealizador da Ferrovia Norte-Sul, sendo alvo de pesadas críticas da mídia do Sudeste; como se sente hoje vendo essa mesma ferrovia cortando o Brasil de Norte a Sul, exatamente como foi projetada?
Realmente, na época que lançamos o projeto fomos muito combatidos. Se dizia até que ele ligava nada a lugar nenhum. Havia a indústria automobilística fabricante de caminhões que ficou contra; grupos internacionais tinham interesses encastelado num verdadeiro cartório de submissão do Brasil ao sistema de transporte caríssimo e predatório à economia do País. Esse foi o motivo de tanto combate à Norte-Sul. Mas hoje só falta o eixo que a integra ao Centro-Oeste, chegando a Mato Grosso, maior produtor de grãos e, na outra ponta, ligando ao Porto de Alcântara. Quando isso ocorrer, o Brasil será completamente outro país em termos de transporte.