“O Menino Maluquinho”

Maranhenses na produção da primeira animação brasileira da Netflix

O Imparcial conversou com Beto Gomez, um dos diretores; e Gabriel Gomes, um dos ilustradores da série.

Beto Gomez, um dos diretores da série; Gabriel Gomes, um dos ilustradores.

“Era uma vez um menino que tinha o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés.” Essa é a famosa frase que abre o livro O Menino Maluquinho”. Lançado no dia 24 de outubro de 1980, o livro já foi adaptado para teatro, quadrinhos, ópera infantil, videogame, internet e cinema.

(Foto: Divulgação/Netflix)

Nascidos na década de 1980 devem recordar da popularidade da história dos quadrinhos. Criada pelo famoso desenhista e cartunista Ziraldo, os desenhos em quadrinhos do Menino Maluquinho fizeram tanto sucesso à época, que ganhou, logo depois, adaptação para o audiovisual.

Não tem como falar de “Menino Maluquinho” e não rememorar aquele gostinho de infância. Pura nostalgia!. (Foto: Divulgação/Netflix)

A série

Esta é a primeira vez que a obra vira série em animação, com novos personagens e um enredo que injeta ao universo de O Menino Maluquinho, temas bastante contemporâneos. A série se propõe a criar uma nova geração de fãs do garoto que moldou o imaginário coletivo de toda uma geração.

(Foto: Divulgação/Netflix)

Com produção da Chatrone, a animação tem adaptação de Carina Schulz e Rodrigo Olaio, direção de Beto Gomez e Michele Massagli, direção de arte de Beta Kruger e Walkir Fernandes e direção de animação de Fits. Gustavo Suzuki como roteirista-chefe.

Parte da equipe no painel sobre o Menino Maluquinho na Perifacon. (Foto: Divulgação/Netflix)

O Menino Maluquinho estreou no dia 12 de outubro, na Netflix, com nove episódios curtos, as aventuras e as confusões do Maluquinho estão garantidas. A animação contém bastante vivacidade, um mergulho no imaginário infantil, claramente, consegue cativar as crianças pois acrescenta ao cenário, diversidade de cores e elementos divertidos. Uma série para toda a família!

Fora da Caixinha

Assim podemos definir o menino que usa uma panela na cabeça, um garoto que, como diz o bom maranhense: “apronta e borda”, cheio de animação, alegre e que adora envolver os amigos em suas aventuras.

(Foto: Divulgação/Netflix)

O Imparcial conversou com Beto Gomez, um dos diretores; e Gabriel Gomes, um dos ilustradores da série. Confira:

O Imparcial: Esta é a primeira vez que a obra do Ziraldo vira série em animação, quem teve a ideia e como esse projeto chegou até vocês?

Gabriel Gomes: A série já estava há um tempinho em produção quando eu ingressei no projeto, A Dogzilla, o estúdio encarregado pelo visual da série, estava montando a equipe de design de personagem e abriram uma vaga, foi aí que eu entrei no projeto.

O.I Como foi fazer parte da primeira série de animação brasileira da Netflix?

Beto Gomez: Ao mesmo tempo que foi uma responsabilidade enorme foi também uma oportunidade muito boa de representarmos a animação brasileira mostrando o quão capacitado a gente é, produzindo animações com a mesma qualidade de qualquer outro país. Então eu espero que o Menino Maluquinho ajude as pessoas a enxergarem que a cultura e nossa capacidade de produção é pra ser muito valorizada mesmo.

Gabriel Gomes: Foi bastante legal! Tínhamos muita liberdade pra propor ideias, piadas e deixar o projeto mais rico.

O.I. De que forma novos personagens foram injetados e como foi pensado o processo de inclusão de temas contemporâneos ao enredo?

B. G:. A ideia da série sempre foi valorizar a obra do Ziraldo, mas também apresentar o personagem para um público novo, que talvez não conhecesse O Menino Maluquinho. Com isso a gente trouxe o personagem para os dias de hoje, com referências atuais, e muita pesquisa de elementos brasileiros para construir esse universo que o personagem do Maluquinho ia morar. Desde as pinturas de muro de escola em cenários, referências de memes ou filmes que alguns artistas traziam, isso só ia aumentando as possibilidades da série. Os personagens novos iam surgindo a partir disso também, como a capivara de estimação da Naná, mãe do Maluquinho, ou os clássicos velhos da praça que toda cidade tem e que parece que vêm junto com o banco. Então tudo surgia a partir de muita conversa e troca de ideias com a equipe, todo mundo participou demais nessa construção.

G. G:. Os personagens novos que foram introduzidos tinham que trazer esse censo de brasilidade, e na construção do visual deles não foi diferente, sempre tentando explorar a pluralidade do povo brasileiro e evitar que os personagens parecessem genéricos.

O.I. Como as histórias por trás dos episódios foram cogitadas e trabalhadas?

B. G:. A história da série começa exatamente quando o livro do Menino Maluquinho termina, com o divórcio dos pais. Então foi o pontapé de como esse universo do personagem ia expandir e como as histórias iam evoluir a partir daí. É um processo longo, as histórias são feitas em uma sala de roteiro, que aconteceu durante a pandemia e por isso os encontros foram virtuais. E essas salas de roteiro são um grande brainstorm e compartilhamento de histórias e vivências pessoais de cada um que tá lá, começam a ser discutidas possibilidades e o que seria legal de explorar do personagem pra criar o universo da série. O importante era que fosse bem brasileiro, mas que fosse de todo canto do Brasil, não só focado em uma região, a partir daí surgiam as ideias de episódios.

G. G:. Os roteiristas foram responsáveis pela criação das histórias dos episódios e quando eu entrei nele, os roteiros já estavam prontos.

O. I. É muito nítido, o sentimento de nostalgia e a memória afetiva que a série desperta nos fãs dos filmes e dos quadrinhos, como vocês trabalharam e exploraram essas características e potencialidades?

B. G:. Como o personagem fez parte da infância e adolescência de muita gente, a série já vem com esse climinha bom de nostalgia mesmo, de rever um personagem que todo mundo gosta e é familiar com ele desde o livro. Então tinha esse elemento de ter que conversar com esse público, mas nunca esquecer que é um desenho voltado para um público novo também. O clima da série é bem familiar e leva muito em conta tudo que já foi produzido sobre o Menino Maluquinho, mas teve uma expansão do universo, com uma nova cidade, mais amigos, a escola, entre outros, e isso é uma ótima maneira do personagem continuar atual.

G. G:. A referência principal, desde o começo, foi o trabalho do Ziraldo, que sempre foi muito presente na infância de muita gente, sejam os quadrinhos ou os livros. A pesar da série ter seu estilo próprio, estudar o trabalho do Ziraldo era sempre incentivado pelos diretores de arte e no final, a série é uma grande celebração do trabalho dele.

O. I. Poderiam comentar um pouco sobre o processo criativo?

B. G:. A série inteira foi feita durante a pandemia, então foi novo para todo mundo envolvido, o fato da gente não se encontrar pessoalmente foi bem ruim, mas também possibilitou ter uma equipe de quase 300 pessoas cada um de um lado do Brasil. O processo criativo de uma série de animação é bem longo, começando com a sala de roteiro, produção da arte de cenários e personagens, gravação de voz, storyboard, animação, trilha sonora e pós-produção. Em cada uma dessas etapas é uma equipe diferente, onde todo mundo tem espaço pra acrescentar uma coisa nova, como eu era um dos diretores acabei participando de tudo, desde uma “excursão virtual” via google maps pela cidade do Ziraldo, que serviu de inspiração para a equipe de arte, até conversas de como seria a trilha sonora da série.

G. G:. O processo criativo era bem livre, eu sempre procurava explorar várias soluções e basear os desenhos no meu próprio cotidiano, isso deixaria o resultado diferente e as vezes engraçado.

O.I. Curiosidades por trás da série?

B. G:. Algumas curiosidades: O Antonio Pinto, filho do Ziraldo e que serviu de inspiração para a criação do personagem do livro O Menino Maluquinho, foi quem fez a trilha original da série em parceria com o André Abujamra. Na série (em cenário ou props) dá pra ver algumas artes escondidas de personagens do Ziraldo, como o bichinho da maçã (como a marca do celular dos personagens) ou o saci. A equipe de arte criou uma “Ziraldoteca”, com muito material do Ziraldo como artista gráfico para ser usado como inspiração e bíblia na produção de arte.

G. G:. Um objeto da série que eu desenhei e que me deixou mais orgulhoso foi o Ovolanche, um prato feito só de ovos.

O.I. Na série é bastante explorada o uso das cores, de ilustrações, gírias, como foi pensado e qual a proposta do uso imagético dos episódios?

B. G:. O Ziraldo tem uma identidade muito forte como artista gráfico que não tinha como a gente não levar isso pra produção da série. A gente usou referências de enquadramento dos quadrinhos dele, ou layouts de poster que o Ziraldo produziu como inspiração do que queríamos estabelecer como linguagem pros episódios da animação. Então tudo é inspirado na arte do Ziraldo e também na diversidade da equipe que fez parte do projeto.

G. G:. A série passa essa imagem de um brasil cotidiano e tenta ser o mais atual possível pra se comunicar com as novas gerações e eu vi que isso era aplicado em todos os departamentos de arte do projeto.

O.I. Vocês são do Maranhão, certo? Poderiam contar um pouco da trajetória de vocês, da experiência em fazer parte de um projeto dessa envergadura?

B. G:. Sou de São Luís e formado em Desenho Industrial na UFMA em 2006, cheguei a trabalhar por um curto período com design gráfico. Em 2007 fui morar em Toronto, no Canadá, onde trabalhei por um tempo como faxineiro, limpando vidros, ou fazendo sanduíches no Subway enquanto tentava emplacar um emprego com design, mas que acabou não dando muito certo. Em 2011 eu fiz um curso de animação clássica na Vancouver Film School no Canadá. Aí comecei a trabalhar com animação somente em 2012 na Birdo Studio e desde então participei de várias séries antes do Menino Maluquinho. Fui diretor por 3 temporadas na série “Oswaldo” da Cartoon Network, diretor de animação na série das mascotes das Olimpíadas do Rio 2016. “Vinicius e Tom: Divertidos por Natureza” da Cartoon Network. E já trabalhei também em séries como “Cupcake e Dino: Serviços Gerais” (Netflix) e “Star Wars: Força do Destino “(Disney XD). Além de produzir meu curtas autorais que já passaram em alguns festivais, como Animamundi, TAAFI (Canadá), Fest Anca (Eslováqui), HAFF (Holanda).

G. G:. Sim, sou de Carolina no Maranhão! Desde pequeno eu sempre quis trabalhar com desenho animado e logo que eu saí do ensino médio eu foquei os meus esforços pra fazer isso dar certo. Antes do maluquinho eu trabalhei em outros dois projetos de desenho animado, mas série animada, essa é a primeira que eu participo, foi um trabalho longo, mas bem legal de fazer, conheci muito artista bacana, o Beto que é um dos diretores da série e que também é maranhense, além de que muita gente passou a conhecer o meu trabalho depois do lançamento.

O. I. Poderiam contar um pouco do papel que cada um exerceu dentro da série, e sobre vocês para que o público mais jovem do jornal e quem não os conhece, possa conhecer?

B. G:. Eu sou o Beto Gomez e fui o diretor da série, então estive envolvido em todas as etapas, desde o início com o desenvolvimento até a finalização dos episódios. Muitas reuniões com todas as equipes e participando das decisões criativas. Atualmente eu trabalho como diretor na Birdo Studio, mas também sou animador 2d e quadrinista. Desde a minha época de UFMA eu produzia quadrinhos e distribuía fanzines nas paradas de ônibus do CCET e no centro histórico, pode ser que alguém ainda tenha um desses por aí guardado hahahaha. Continuo produzindo quadrinhos e tiras, que publico no meu instagram.

G. G:. No projeto eu fiquei apenas no departamento de design de personagem e props, então eu era encarregado de criar o visual de personagens, desenha-los em poses especificas e desenhar objetos importantes das cenas. Além de design de personagem, hoje em dia eu também trabalho com ilustração e Storyboard.

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