Herança  

Tradição familiar é origem de metade dos deputados maranhenses

Irmãos, netos, sobrinhos, afilhados, conjugues, mais da metade dos deputados maranhenses vêm de famílias influentes na política maranhense  

Reprodução

Quando o Brasil era apenas uma colônia, o rei de Portugal, D. João III, tomou uma atitude: dividir o país em Capitanias Hereditárias. Cada capitania tinha um donatário: um nobre de confiança do rei, cujo objetivo era administrar e desenvolver aquela região. Caso os donatários morressem, as terras passariam a ser administradas pelos filhos. Aquela política dos meados de 1534 mudou sua estrutura com o passar dos anos, mas resquícios daquela época são vistos ainda hoje. Basta analisar a “origem” dos deputados que compõem os quadros atuais da Assembleia Legislativa e Câmara Federal. Quase a metade desses políticos possuem sobrenomes fortes no cenário do Maranhão.

No Poder Legislativo estadual, dos 42 deputados eleitos em 2014, aproximadamente 50% vêm de famílias influentes e com tradição política ao longo dos anos. São filhos, irmãos, netos, cônjuges, etc. A troca de nomes na Assembleia pode até representar certa renovação de nomes, mas o que parece ter mais valor nesta análise é a renovação familiar: mudam-se os nomes e permanecem os sobrenomes.

Por ordem alfabética, na lista de deputados estaduais aparece Adriano Sarney (PV). O sobrenome é a continuação da tradição de sua família, que teve início com o ex-presidente da República José Sarney, e tem ramificações na ex-governadora Roseana e no ministro do Meio Ambiente, o deputado federal licenciado Sarney Filho (pai de Adriano). Adriano é um deputado da chamada renovação. Tem demonstrado grande atuação no parlamento, mas carrega consigo o peso do sobrenome. Assim como ele, outros parlamentares se utilizaram desta herança, para conseguir angariar votos Maranhão afora.

Para Ricardo Costa Oliveira, cientista político e sociólogo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e autor do livro Teias do Nepotismo, os elos de parentesco “são um fenômeno social e político do atraso” e estão intimamente ligados ao conservadorismo. Na prática, a influência destes clãs reduz as chances de uma verdadeira renovação.

No sangue

É comum que os filhos queiram seguir os exemplos dos pais ou de outra referência familiar. No caso da Assembleia Legislativa do Maranhão, esse fenômeno acontece. Os atuais deputados estaduais Levi Pontes (PCdoB), Andréa Murad (PMDB), Eduardo Braide (PMN), Nina Melo (PMDB), Vinicius Louro (PR) e o licenciado Neto Evangelista (PSDB) seguiram os passos dos pais que, em algum momento, exerceram o cargo de deputado. Outros parlamentares foram influenciados diretamente por suas famílias políticas e “fizeram carreira”. É o caso do deputado Rafael Leitoa (PDT), cujo clã Leitoa é muito forte em Timon, terceiro maior colégio eleitoral do estado. A força dos Leitoa na Região dos Cocais é antiga. E isso ajudou muito para que Rafael Leitoa obtivesse mais de 27 mil votos em 2014.

Quem também tem grande influência familiar é o deputado Fábio Macedo (PDT), que ingressou na política aos 15 anos. Sua família tem poder na cidade Dom Pedro, onde o irmão Hernando foi eleito prefeito na última eleição. O deputado estadual Rigo Teles (PV) também chegou à Assembleia Legislativa muito graças à força de sua família na região de Barra do Corda. Rigo é filho do ex-prefeito da cidade, Manoel Mariano de Sousa, o Nenzim.

Um exemplo de que a política do Maranhão está realmente envolvida com a renovação familiar pode ser observado no caso do deputado Stenio Rezende (DEM), cuja família é repleta de políticos, a começar pelos irmãos Juscelino Rezende (ex-prefeito de Vitorino Freire) e Vianey Bringel (prefeita de Santa Inês). O sobrinho, Juscelino Filho, é atualmente deputado federal. O mesmo acontece com o deputado Ricardo Rios (SD), cuja família tem domínio em Vitória do Mearim. Além disso, o prefeito de Turiaçu, Umbelino, é tio de Rios.

Apesar de não serem exatamente uma “renovação”, é importante citar os deputados Edivaldo Holanda (PTC) e Humberto Coutinho (PDT), que possuem famílias tradicionais politicamente. Enquanto Holanda é pai do prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior, Coutinho é esposo da ex-deputada Cleide e é tio do ex-prefeito de Caxias, Léo.

Em Brasília

Na Câmara Federal, o cenário não é muito diferente da Assembleia Legislativa quando o assunto é “herança política”. Pelo levantamento de O Imparcial, a quantidade de deputados federais maranhenses oriundos de grupos políticos regionais importantes também beira os 50%. Na atual legislatura, destaque para André Fufuca (PP), que até já assumiu interinamente a Câmara dos Deputados.

Fufuca é um bom exemplo da força de seu clã. Seu pai, Fufuca Mendes, é prefeito de Alto Alegre do Maranhão. Certamente, muitos dos 56.879 votos que obteve em 2014 para ser eleito deputado federal podem ser colocados na conta da influência de sua família.

Dos 18 deputados federais em exercício que o Maranhão possui na Câmara, pelo menos oito sofrem grande influência familiar: Alberto Filho (PMDB) é filho de Zé Alberto, ex-prefeito de Bacabal; Deoclides Macedo (PDT) foi prefeito duas vezes de Porto Franco e é irmão da deputada estadual Valéria Macedo; João Marcelo Souza (PMDB) é filho do senador João Alberto; Juscelino Filho (DEM) é da família Rezende, tradicional em Vitorino Freire; Luana Costa é esposa do ex-deputado federal e ex-prefeito de Santa Inês, Ribamar Alves; Pedro Fernandes (PTB) é irmão do ex-deputado Manoel Ribeiro; Rubens Pereira Júnior (PCdoB) é filho do ex-deputado Rubens Pereira; e Victor Mendes (PSD) é filho do ex-prefeito de Pinheiro, Filuca Mendes.

A lista de parlamentares que “fizeram carreira” muito em função de suas famílias aumenta quando se observa os deputados que não estão em exercício, como é o caso do ministro Sarney Filho (PV), que foi eleito em 2014. O deputado Davi Alves Silva Júnior (PR) é filho do ex-deputado Davi Alves Silva e, por muito tempo, utilizou-se da figura do patriarca para conseguir se eleger.

 

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