DADOS

Maranhão é 2º estado com mais grávidas de até 17 anos

Em todo o Brasil, mais de 250 mil mulheres que deram à luz tinham menos de 17 anos

Foto: Reprodução

“Tinha apenas 15 anos. Quando descobri que estava grávida, fiquei sem chão, sem saber o que fazer”, disse Brenda Mendes, de 20 anos. “Foi um choque para mim, para minha família e para os meus amigos, porque não planejava engravidar tão cedo”, confessou Tayna Castro, de 21 anos.

As frases são de duas jovens que tiveram filhos antes dos 17 anos. Choque, surpresa e preocupação são palavras sempre presentes quando Brenda e Tayna comentam sobre um dos momentos mais emblemáticos de suas vidas: a gravidez. Hoje, as crianças têm cinco anos e, como afirmam as duas mães, são presentes de Deus. Mas, antes disso, elas tiveram que enfrentar inúmeras dificuldades ao se verem obrigadas a sair do papel de “filha”, para ocupar o papel de “mãe”.

Essa realidade alcança inúmeras meninas no Brasil e principalmente no Maranhão. Isso porque o estado aparece na 2ª posição no ranking dos estados do Nordeste com maior quantidade de mulheres grávidas até os 17 anos, proporcionalmente à quantidade de mulheres que deram à luz.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das mulheres que residiam no Maranhão e que tiveram filhos no ano de 2015 (107.609 casos), 13.184 não haviam alcançado a maioridade. Isso representa 12,3% do número de mulheres que gestaram no ano.

Dados do IBGE

O Maranhão perde somente para Alagoas, que, das 51.339 mulheres que gestaram no estado, 6.925 tinham menos de 18 anos, representando 13,5% dos partos. O dado é alarmante e preocupa pelas consequências que traz tanto para as crianças – que nascem em ambientes familiares fragilizados –, quanto para as mães, que sentem o corpo e as responsabilidades serem alterados antes do tempo.

O risco de se engravidar na adolescência reside no fato de o estado hormonal da mãe ainda estar em fase de maturação. É o que garante a ginecologista obstetra Lícia Kercia, que atende pela Rede Hapvida Saúde.
“Quando a gravidez acontece mais perto da menarca, que é a primeira menstruação da mulher, o organismo ainda está se adaptando ao controle hormonal. Quando se instaura a gravidez, o corpo passa a produzir um turbilhão de hormônios que trarão várias alterações no corpo da menina, como volume de sangue e o funcionamento dos rins”, explica.

Para a psicóloga Yullia Marizia, as consequências dizem respeito, principalmente, às limitações psicológicas pelas quais essa “nova mãe” terá de enfrentar. “Antes era comum às mulheres casarem cedo e engravidarem no período adolescente, mas hoje a configuração social tornou bem delineadas as etapas da vida. Infância, adolescência, vida adulta e velhice. A adolescência é o momento de autoconhecimento. É quando o indivíduo se dá conta de que a vida passa e que as responsabilidades chegarão em breve”, esclarece.

Estrutura familiar

Ainda segundo a ginecologista obstetra Lícia Kercia, um dos principais motivos de haver tantas meninas engravidando tão cedo é a falta de estrutura na família. Ela conta que a banalização do sexo leva meninas e meninos a iniciar a vida sexual cada vez mais cedo.

“Seja por influência da mídia, seja por influência dos amigos, hoje é ‘careta’ ser virgem. Por isso, nosso trabalho é sempre de esclarecer que sexo tem que ser feito com responsabilidade e que ele traz consequências”, diz.

Um agravante também é a falta de informação. Muitas meninas acham que a utilização frequente da pílula do dia seguinte como método contraceptivo é suficiente, mas a ginecologista pondera que, quando prolongado, o uso pode não surtir o efeito desejado.

“Elas acabam ignorando a questão da proteção. Geralmente, elas partem para o uso da pílula do dia seguinte, e o uso frequente acaba aumentando o índice de gravidez. Isso porque, a cada vez que ela toma, a segurança reduz em 2% a eficácia do contraceptivo, reduzindo o potencial de prevenção desse método”, pontua.

Apoio faz a diferença

Brenda Mendes e Tayna Castro, as personagens desta matéria, afirmam que passaram por problemas, mas as duas repetiram uma palavra que fez toda a diferença na vida delas: Apoio. “As pessoas acham que, quando se tem um filho cedo, a vida acaba, mas comigo isso não aconteceu. Tenho tempo para estudar e também para passar com minha filha. Mas tive muito apoio dos pais, o que me ajudou muito”, lembra Tayna Castro.
Frente às dificuldades, o que mais elas receberam da família e amigos foi apoio, realidade nem sempre presente na história de outras garotas que engravidaram cedo. É o caso de Clara, que preferiu não identificar o sobrenome. Ela teve um filho aos 17 anos e comenta que, embora não tenha sido expulsa de casa, não recebeu apoio da família e nem de amigos próximos.

“Me senti sozinha e, no lugar onde deveria encontra auxílio, dei de cara com olhares de reprovação e palavras de desânimo. O que tive de fazer foi permanecer firme com a gravidez apesar de todas as dificuldades”, revela com tristeza. Clara, de 22 anos, atualmente mora sozinha com seu filho, que tem hoje 5 anos de idade.

Informação sobre anticoncepcional

Para especialistas, a informação ainda é a melhor forma de prevenção. A aliança entre família e escola pode ser de extrema importância para a conscientização desses adolescentes.
“As escolas podem ajudar a esclarecer pontos como a imensa gama de opções de métodos anticoncepcionais que podem prevenir. Além disso, as mães precisam conversar bastante com suas filhas e mostra a elas como proceder nessas situações. Conversar com os meninos também é essencial para orientar quanto ao sexo indiscriminado”, declara.

A psicóloga Yullia confirma que a conversa entre pais e filhos é sempre o melhor caminho e aponta que, quando esse diálogo começa desde cedo, os impactos são indefinidamente menores. “É algo mais que certo: conversar e manter diálogo sobre sexualidade diminui em muitos níveis os riscos de um indivíduo cometer deslizes inconsequentes”, afirma.

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