Cinco dias

Os últimos passos de Janot no comando do Ministério Público Federal

Além de ter de prestar esclarecimentos sobre os áudios da JBS, o procurador-geral passará pelo crivo do plenário do STF, o que definirá a possibilidade de uma nova denúncia contra Temer ou não

Reprodução

A poucos dias de deixar o cargo de procurador-geral da República, Rodrigo Janot passou longe de ter um feriado tranquilo. Depois de denunciar uma organização criminosa no PT, na sexta-feira, apresentou acusação sobre um “quadrilhão” no PMDB do Senado. Agora, tem até próximo domingo para deixar o mínimo de pendências possíveis para a sucessora Raquel Dodge, que assume o comando do Ministério Público Federal (MPF) no dia 18. A semana será cheia. Janot tem de dar explicações à ministra Cármen Lúcia sobre as citações ao Supremo Tribunal Federal (STF) em áudios gravados por Joesley Batista e passará pelo crivo da Suprema Corte antes de encaminhar a prometida nova denúncia contra o presidente da República, Michel Temer. Além disso, o MPF também terá de revisar os benefícios concedidos ao empresário da JBS.

O impasse com a Justiça não será o único problema de Rodrigo Janot nesta reta final do mandato. Tendo poucos dias para apresentar uma nova denúncia contra o presidente, o procurador-geral estará sob julgamento do plenário da Suprema Corte. Na quarta-feira, o pleno de ministros julgará o pedido de suspeição contra Janot feito pela defesa de Temer. Os advogados alegam perseguição política e pedem que qualquer acusação seja suspensa até que o caso JBS seja esclarecido. O ministro Edson Fachin, relator do pedido, decidiu a favor de Janot nesta semana, mas, diante do recurso, levará a decisão ao plenário. A possível apresentação de um pedido para investigar o presidente dependerá do crivo dos magistrados.

A acusação de Janot contra Temer tem como base, pelo menos, sete delações premiadas, uma delas de Lúcio Funaro, apontado como operador de propinas do PMDB ligado ao ex-deputado Eduardo Cunha. “Ele está trabalhando com força total para fazer o que anunciou. Eu aposto que a denúncia vai sair”, comenta um integrante do MPF próximo a Janot. O procurador acredita que deixar de agir nesse caso específico seria como “nadar e morrer na praia”. A denúncia deve conter acusações de formação de quadrilha e de obstrução de Justiça.

Apesar de o calendário de atividades da PGR estar mantido, a divulgação de áudios dos executivos da JBS, que envolveram o ex-procurador da República Marcelo Miller, enfraqueceu Janot. Um aliado na procuradoria-geral comparou o impacto do caso à prisão, em maio, do procurador Ângelo Goulart Vilela, amigo de Janot. Ele ficou 80 dias preso após delação de Joesley Batista. “Mesmo que os envolvidos sejam presos, o clima continua de suspeição. Se descobriram duas pessoas próximas envolvidas, por que não haveria mais?”, questionou, completando: “Ele encerra com um acaso triste, porque isso excede a questão pessoal e põe em dúvida uma série de fatores.” A situação pode afetar até mesmo a entrada de Raquel Dodge no comando do MPF. “Ela entra com nova equipe, o que dá um novo fôlego, mas esse é o tipo de acontecimento que respinga no ministério como um todo”, lamenta o procurador, que prefere manter o anonimato.

Marca

Rodrigo Janot deixa a chefia do MPF após quatro anos de intenso combate à corrupção no país. Ele entra para a história como um dos procuradores que mais investigaram desvios de dinheiro público e tornou-se a primeira autoridade a pedir a investigação de um presidente no exercício do cargo. Restando apenas cinco dias úteis para o fim da gestão, Janot precisará da cooperação da sucessora, Raquel Dodge, para manter o fôlego da Lava-Jato e das denúncias contra políticos. “Passar o bastão será uma tarefa difícil para o Rodrigo, que conseguiu colocar a procuradoria no centro do poder. Nunca houve tanto holofote em cima da instituição. Acredito que ele vai deixar as coisas amarradas de maneira que a Raquel (Dodge) não consiga fugir. Fale-me qualquer coisa que é apreciada atualmente pela procuradoria e responda: ela pode simplesmente ser enterrada?”, afirma um subprocurador ligado a Janot que prefere não se identificar.

Ressaltando as responsabilidades de ocupar o cargo máximo do MPF, um importante procurador da República disse ao Correio “levar fé” que os esclarecimentos sobre os ministros do Supremo serão tratados com especial celeridade. “Ele precisa colocar um ponto final nisso antes que a nova procuradora-geral entre em cena. Caso contrário, vai ter todo o trabalho dos últimos quatro anos apagados e ficar conhecido como ‘o cara que colocou o MP em uma enrascada com o Judiciário’. E, você sabe, esse terreno é extremamente fértil, né?”, destaca.

Por causa das suspeitas em relação à delação premiada de Joesley Batista, que, supostamente, mentiu e omitiu no depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), a expectativa é de que revise os benefícios da delação. Na noite de ontem, pediu ao Supremo a prisão preventiva do empresário.

Outra ação prevista para a próxima semana é o esclarecimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) das citações a ministros da Corte feitas por Joesley e

Saud no áudio

Após ter tido a primeira denúncia contra o presidente Michel Temer derrubada na Câmara dos Deputados, Janot ainda deve apresentar ao STF mais um pedido de investigação contra o chefe do Executivo. Entretanto, terá de passar pelo crivo do plenário do Supremo antes.

Trabalho de perder a dieta

Durante o recesso do Judiciário, Rodrigo Janot viajou aos Estados Unidos para fazer palestras e retomou um hábito pouco saudável: o consumo excessivo de refrigerantes. Meses atrás, um dos nutricionistas do Ministério Público Federal teria aconselhado o procurador a pegar leve com a bebida.

Desde que assumiu a chefia da instituição, Janot engordou 23kg. Conseguiu perder 12kg, mas, com a correria dos últimos tempos, teria recuperado alguns. A meta é voltar ao peso de antes, e, para isso, teria recorrido ao método de Máximo Ravenna, o mesmo que emagreceu Dilma Rousseff antes do impeachment.

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