DO LUXO AO ABANDONO

Conheça a história por trás do luxo e glamour do antigo Hotel Central

Cenário dos tempos áureos da sociedade ludovicense da década de 40, o hotel localizado no Palácio do Comércio, Centro de São Luís encontra-se desativado desde 1996

Reprodução

As novas gerações talvez não o conheçam: é um senhor de setenta e poucos anos que reside no centro de São Luís. Sua trajetória se confunde, poucos sabem bem quem ele realmente é, mas as histórias são muitas para os ouvidos atentos, curiosos e saudosistas. Se ao imaginar este senhor você idealizou o Palácio do Comércio, prédio imponente situado entre as praças Benedito Leite e Dom Pedro II, imaginou certo.

A construção data do início dos anos 1940 e, desde então, deu lugar à Associação Comercial do Maranhão, a um museu, comércios, bares, e ao luxuoso Hotel Central que, sem dúvidas, constitui grande marco na história do Maranhão.

Antes mesmo do hoje conhecido Palácio do Comércio ser construído, já havia uma hospedaria no mesmo local e de mesmo nome do hotel que a partir dos anos 1940 fez parte de uma mudança de estilo de vida do ludovicense. A primeira “versão” do Hotel Central tem registros que datam do início do século XX e, na época, era gerida por Alfredo Champoudry, francês radicado no Maranhão que explorou o ramo hoteleiro do Estado.

O hotel entrou em declínio após a morte do francês e foi demolido junto ao prédio ao lado – o Palácio dos Holandeses – por conta de uma política higienista implantada na época, para dar lugar ao Palácio do Comércio, construído com influências do Art Déco e financiado pelo Tesouro Estadual. O Hotel Central foi construído também para suprir uma carência sentida até mesmo pelo Presidente Getúlio Vargas, que notou o déficit em visita ao estado em 1934, pouco menos de uma década antes da inauguração do espaço.

Anos áureos

O então “novo” Hotel Central foi inaugurado em maio de 1943. Símbolo de luxo, glamour e retrato de uma sociedade ludovicense que passava a forjar seu estilo de vida no que, aqui, era inovador. Uma nova forma de pensar a cidade se traduzia na arquitetura: prédios como a sede da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e o Cine Roxy, assim como o Palácio do Comércio, seguiam as linhas do Art Déco – estilo que já antes do início dos anos 1940 entrava em declínio, mundialmente falando. Os ludovicenses começavam a frequentar as matinês e encontros sociais, muitos deles nos salões, no bar e restaurante do Hotel Central.

O prédio do Palácio do Comércio contava com bares e lojas que movimentavam – e movimentam até hoje – o centro da capital no primeiro pavimento. O segundo andar dava espaço à sede da Associação Comercial do Maranhão e ao Museu Comercial, Industrial e Agrícola do estado. Todos os outros compartimentos do Palácio do Comércio serviam ao hotel.

De acordo com o Guia de Arquitetura e Paisagem de São Luís e Alcântara, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Hotel Central era dotado de equipamentos e ambientes que “primavam pelo conforto dos hóspedes, uma clientela diversificada que ia de marines a autoridades e artistas internacionais”. O prédio dispunha de restaurante e salão nobre na cobertura e uma planta complexa. Eram três escadarias para circulação vertical em pontos diferentes do imóvel.

O comerciante Francisco José, de 52 anos, relembra os tempos de ouro do Hotel Central. Ele, que na época do auge do estabelecimento vendia jornais de circulação nacional nos arredores da Benedito Leite e Dom Pedro II, conta que a hospedaria recebeu grandes nomes e que movimentou a capital por um bom tempo.
“Tinha o bar do hotel aqui embaixo, com o melhor sorvete. Era na época que não tinha nada nas praias”, recorda. Francisco atualmente tem um comércio no primeiro pavimento do Palácio do Comércio e explica que, depois de “um tempo de crise” e de ter trocado de administração, o hotel ficou abandonado. “Teve uma época que a Prefeitura alugou [o prédio], mas depois saiu. E o aluguel é muito caro”, conta o comerciante.

Palco de um crime

Nem só de luxo, festas e elegância viveu o Hotel Central. Uma curiosidade que hoje poucos lembram é que, por detrás das paredes do edifício, um assassinato ocorreu. Entre encontros de pessoas influentes regados a bebidas da melhor qualidade, geralmente após o fechamento de negócios – o que hoje conhecemos como o famoso happy hour –, no dia 7 de dezembro de 1973, uma sexta-feira, o empresário e campeão de tiro ao alvo Ivon de Oliveira Sousa, de 36 anos, atirou contra a face de José Ribamar Sacramento Pestana Costa, contador do Tribunal de Contas do Estado, de 34. O “motivo” do crime teve nome: Hilma Almeida Viana. Ivon namorava a moça e, por conta de uma espécie de disputa pela garota, assassinou Ribamar nas dependências do antigo Hotel Central.

No pavimento térreo do Palácio do Comércio ainda funcionam bares e restaurantes (Karlos Geromy/O Imparcial)

Declínio

O glamour do Hotel Central perdurou até meados dos anos 1990. Teve suas dependências alugadas pela Prefeitura de São Luís. Em 1996, o prédio recebeu diagnóstico que dizia que a estrutura de sustentação do edifício estava comprometida. Quase uma década depois, o prédio teve sua fachada restaurada, nova iluminação e reparos no subsolo, térreo e segundo piso. Até então, o edifício não havia sofrido grandes alterações.

Atualmente, o térreo do Palácio do Comércio possui ainda lojas diversas, além do hall da recepção da Associação Comercial do Maranhão e um auditório com mobiliário da época. As características Art Déco permanecem presentes na arquitetura e no interior dos pavimentos, saudando os tempos áureos do edifício. O interior do pavimento em que era localizado o hotel, no entanto, está “entregue às traças”, segundo comerciantes da região. A entrada principal do hotel permanece trancada com correntes e cadeado, mantendo escondida também toda uma história de pompa e luxuosidade.

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